Pela repetição, o choque é assimilado

“(…) isso acontece constantemente nos capítulos seguintes. Todos os capítulos começam com um estado sombrio, caótico, e terminam com uma nota positiva. Portanto, o autor está agora começando a digerir a experiência na forma de um processo.

Por exemplo: se se trata de um episódio psicótico, as pessoas dirão que no início elas se sentiram meramente fatigadas e depois apáticas, e ouviram então uma voz e, em seguida, de súbito o que quer que lhes tenha acontecido. Assim, elas podem retroceder e digerir o que ocorreu. No presente caso, a experiência foi tão emocionante e arrasadora que Santo Tomás usa sete capítulos para absorver o mesmo processo, descrevendo-o sempre de um ângulo diferente; esse é o comportamento típico de alguém cuja psique foi dominada pela invasão de um conteúdo do inconsciente.

Observamos esse mecanismo, em escala menor quando as pessoas vivenciaram algo emocionante, digamos, um acidente de carro na rua. Elas voltarão a contá-lo pelo menos três vezes no mesmo dia e têm de repeti-lo a diversos ouvintes. Pela repetição, o choque é assimilado e, portanto, se a pessoa teve um choque psicológico, a tendência é digeri-lo pela repetição, até que todos os aspectos tenham sido integrados e então ela recupera o equilíbrio.

Tenho uma analisanda, uma mulher que tem experiências tremendas da Divindade, que me perguntou outro dia quantos anos seriam precisos para que essas experiências fossem absorvidas por ela. Respondi-lhe que, em minha suposição, isso levaria pelo menos dez anos. Ela disse: “Tanto tempo?”. Ficou pensativa e depois acrescentou que eu talvez tivesse razão. Uma pessoa não pode digerir imediatamente semelhante experiência e, nesse caso, isso significa que toda vez que a vejo de novo temos de conversar a respeito das experiências dela, mas sempre de um novo ângulo. Isso não é anormal, mas normal numa condição incomum.

 

 

“A prima materia, ou massa confusa, como uma nuvem negra, caótica, um estado de confusão consciente, típica do começo tanto do trabalho alquímico quanto do processo de individuação.”

 

VON FRANZ, Marie-Louise. Alquimia, Uma introdução ao simbolismo e seu significado na psicologia de Carl G. Jung, Ed. Cultrix 2022, Pág 337-340.

7a Palestra | Aurora Consurgens

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