Aspecto imaterial e imortal da psique

“Lembro-me da história de um homem que havia sido subme-tido a uma séria cirurgia. Ele despertou da narcose e, sentindo-se bem, saiu da cama e passeou por todo o hospital. Ele notou, mas sem ficar muito chocado, que podia atravessar portas fechadas, embora não levasse isso muito a sério, pois não era ainda senhor absoluto de sua consciência. Caminhou então até a saída do hospital e, quando já estava na rua, ouviu de súbito uma voz dizer-lhe: “Se queres regressar, este é o último momento, depressa!”. Tomado de pânico, entrou de novo correndo no hospital e nesse instante acordou realmente da anestesia, quando o médico estava dizendo: “Meu Deus, por pouco não o trazemos de volta!”. O coração dele falhara e, por meio de massagens cardíacas, haviam conseguido fazê-lo voltar a si naquele momento, mas subjetivamente, ele tivera a experiência de sair da cama e a experiência específica de atravessar portas fechadas, o que, semi-conscientemente, achou ser um tanto estranho.

Assim, como se vê, esse é o corpo sutil numa forma parapsicológica, o espectro do morto capaz de passar através de portas fechadas. Esses depoimentos têm de ser aceitos como são; nós não podemos discuti-los psicologicamente. Podemos acreditar neles ou não; não podemos aduzir uma regra dessas coisas, porque são relatos de situações únicas; mas, provavelmente, de semelhantes experiências nasceu a ideia muito divulgada de que o espectro dos mortos, a alma sobrevivente, pode atravessar objetos materiais, algo em que se crê em todos os países ou, pelo menos, nos países em que as pessoas acreditam em fantasmas. Isso era e ainda é considerado prova do aspecto imaterial e imortal da psique.

(…) mas como a experiência de um ser vivo, poderemos admitir que fosse a influência do inconsciente sobre o meio circundante não uma influência intencional, mas dado que o individuo está em conexão com o Si-mesmo, o Si-mesmo começa tendo certo efeito sobre outras pessoas. Logo que uma pessoa tem a intenção de exercer tal influência, ela geralmente não ocorre, mas uma influência não premeditada pode certamente acontecer. Se interiormente a pessoa está ligada ao Si-mesmo, então ela pode penetrar em todas as situações da vida. Desde que não seja apanhada por elas, poderá atravessar todas as situações; isso significa que há um núcleo muito profundo da personalidade que se mantém desprendido, de modo que, mesmo se acontecerem à pessoa as coisas mais horríveis, a primeira reação não é um pensamento, ou uma reação física, mas, antes, um interesse em saber o que elas significam.”

 

VON FRANZ, Marie-Louise. Alquimia, Uma introdução ao simbolismo e seu significado na psicologia de Carl G. Jung, Ed. Cultrix 2022, Pág 387-388.

8a Palestra | Aurora Consurgens

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