Transformação dos elementos

“Todo o processo é descrito então como a transformação da terra em água, da água em ar, do ar em fogo e do fogo em terra. Aí temos a ideia clássica da circulatio, do movimento através dos quatro elementos, da repetição do processo ainda e sempre num outro nível. É a ideia clássica de circum-ambulação do Si-mesmo através dos diferentes elementos e das diferentes formas; ou seja, entre outras coisas, a circumambulatio, o processo de individuação através das quatro funções e das diferentes fases da vida.

No processo de individuação, com muita frequência, os mesmos problemas surgem repetidamente; eles parecem estar resolvidos, mas passado algum tempo reaparecem. Se encararmos isso negativamente, seremos desencorajados; diremos: “Aí está isso de novo, a mesma velha coisa”; mas quando os examinamos mais de perto, vemos geralmente a circulatio, pois simplesmente o problema reapareceu num outro nível.

(…)

Isso acontece constantemente com o entendimento psicológico; há numerosas camadas e algo sempre pode ser compreendido num nível novo e mais profundo. A pessoa entende-o com uma parte de si mesma e, depois, a ficha cai mais fundo ainda, por assim dizer, e a pessoa entende a mesma coisa, mas de um modo muito mais vivo e rico do que antes, e isso pode continuar indefinidamente, até que essa coisa se torne completamente real. Mesmo que sintamos que compreendemos algo, devemos ter sempre a humildade de dizer que é assim que sentimos de momento; alguns anos depois, poderemos dizer que antes não havíamos entendido nada, mas agora sim podemos compreender o que tal coisa significava.

O último trecho refere-se ao espírito vivo e à espiritualização do corpo, ao processo de tornar o corpo incorpóreo e o espírito concreto. Esse é outro aspecto da coniunctio, da conjugação dos opostos mas, uma vez mais, há uma nuança diferente. Como interpretar isso? O corpo, a coisa material, torna-se espiritualizado, e o espírito, por sua vez, torna-se concreto. O que signifi-cará isso na prática?

(…) O fim da divisão entre corpo e espírito.

(…) No de inclusão da experiência analítica ou espiritual na vida real.

(…) Sim, isso seria a solidificação do espírito. Se aplicamos uma compreensão psicológica, estamos encarnando o que era espiritual. Se reconhecemos algo como correto e o colocamos em ação, isso torna-se real. E, então, o que é que a outra parte envolverá?

(…) Uma atitude de consciência que se retira em parte da experiência espontânea, enquanto a olha simbolicamente – uma espécie de espiritualização da experiência.

(…) Sim, isso seria entender simbolicamente uma situação concreta. Se posso me manter no que disse Goethe, Alles Vergängliches ist nur ein Gleichnis (Tudo o que é temporal é apenas um símile), se, mesmo numa situação completamente material e concreta, posso ver o seu aspecto simbólico, colocando-me fora disso, estou espiritualizando essa situação, que se torna um símile para algo psicológico. Todos os eventos exteriores da vida são, de certo modo, apenas símiles; são simples parábolas de um processo interior, simbolizações sincrônicas. Temos de olhá-los por esse ângulo para os entender e integrar, e isso significa espiritualizar o físico.

(…) Não existirá aí o perigo de, por exemplo, perder-se o gosto por um bom rosbife?

(…) Com toda a certeza, e é por isso que temos de voltar a solidificar o espírito! É preciso fazer ambas as coisas.”

 

VON FRANZ, Marie-Louise. Alquimia, Uma introdução ao simbolismo e seu significado na psicologia de Carl G. Jung, Ed. Cultrix 2022, Pág 422-426.

9a Palestra | Aurora Consurgens

Gostei e vejo sentido em compartlhar essa ideiA

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