Na Cruz

“Em seguida, deitaram-no sobre a cruz, pregaram-lhe as mãos na trave superior horizontal e os pés num apoio de madeira da trave vertical, enquanto outro carrasco também fixava um pedaço de madeira entre as suas pernas, aliviando-lhe o peso do corpo para não rasgar-lhe as mãos. Depois ergueram a cruz com o seu corpo já pregado e a colocaram na abertura do solo, ficando os pés à altura de uma jarda do chão. Outros dois condenados também foram crucificados em torno de Jesus, os quais se lamentavam sob os mais lúgubres gemidos na sua dor lancinante, porém, não lhe dirigiram a palavra conforme consta nos evangelhos.”

RAMATÍS. O Sublime Peregrino. Obra psicografada por Hercílio Maes. São Paulo: Ed. Conhecimento, 2020, pág. 388.

 

O Dia de Sexta-Feira

“Embora o motivo real que levou Jesus à morte fosse de natureza religiosa, além de julgado pelo Tribunal Sagrado do Sinédrio, a verdade é que o Sumo Sacerdote colheu provas e material suficiente para culpá-lo sob as leis romanas e assim crucificá-lo por um crime de Estado. A lapidação, o estrangulamento ou sacrifício na fogueira eram processos de punição aos que se rebelavam contra a Lei mosaica. Mas a cruz era um suplício romano destinado a punir escravos, rebeldes, criminosos, ladrões ou conspiradores, o que lançava a ignominia sobre a vítima. O Sinédrio poderia sentenciar quanto à lapidação e depois conseguir a confirmação do Pretório de Roma para executá-la; mas os procuradores romanos, em geral, fechavam os olhos a essas questões religiosas dos judeus, deixando-os algo livres para agirem conforme sua lei. Era um assunto particular e Roma saía mais beneficiada a morte de mais um judeu, mesmo porque isso era providência dos próprios patrícios.

Aliás, algum tempo depois da morte de Jesus, foi lapidado Estêvão, um dos seus seguidores, sob a custodia de Saulo de Tarso; e isso fora feito sem qualquer consulta à Procuradoria de Roma. Porventura, não havia o paradoxo de se lapidar as mulheres adulteras, na rua, o que se fazia de imediato e sem a autorização dos romanos? Mas Hanan, o verdadeiro mentor da tragédia do Gólgota, alma vil e vingativa, demonstrou a Caifás que Jesus, rabi da Galileia, era um fascinador de multidões, aceito e reverenciado como um “reformador religioso”, judeu. Em consequência, se ele fosse lapidado pela sentença do Sinédrio, deixaria um rasto de encanto sentimental entre o povo e forte motivo para a reação no seio dos seus próprios asseclas. (…) Assim como tantas vezes tem acontecido na história do mundo, ponderava Hanan, em breve Jesus seria transformado num mártir para execração dos seus patrícios algozes. (…) Em consequência, morto o chefe do movimento cristão, nem por isso seriam liquidadas as suas ideias. Era preciso evitar a auréola messiânica que se formaria em tomo do “Salvador” de Israel, pois a multidão é versátil e muda rapidamente por um simples gesto que a encanta ou por uma palavra que a comove.”

RAMATÍS. O Sublime Peregrino. Obra psicografada por Hercílio Maes. São Paulo: Ed. Conhecimento, 2020, pág. 370-371.

 

Comunhão Com o Pai

“Mas, de súbito, sentiu-se pouco a pouco transformado num frondoso arvoredo pejado de ramos carregados de folhas e frutos, que amparavam todos os infelizes e injustiçados do mundo ali chegados em busca de sua sombra dadivosa. Sob a assistência do Alto, Jesus reviu nessa ideoplastia mediúnica o “motivo fundamental” de sua própria vida na matéria, ante o compromisso fabuloso que assumira antes de descer à carne, pois essa árvore protetora com o adubo fértil do seu próprio sangue vertido no martírio.

(…)

Porém, ultrapassando aquela dor extrema e inumana, que desprendia da carne, e vibrando sob o elevado impacto de voltagem sideral, ele sentia, então, na própria alma, estranho fenômeno que absorvia toda a vivência interna. Num extremo, a pulsação e o rodopiar dos astros, das constelações e galáxias; e noutro extremo, o vibrar dos átomos no seio das moléculas das flores, dos vegetais e da substância terrena. Ouvia o estranho turbilhão dos mundos pejados de civilizações, rodopiando em torno dos seus sóis e, ao mesmo tempo, o ruído estranho da seiva a subir no caule dos vegetais. Jesus, num átimo de segundo, abrangeu o macrocosmo, consciente de sua força e do seu poder, da sua sabedoria e da sua glória.

Esse fenômeno acontecido com Jesus, conhecido entre os hindus como o “samadhi” e entre os ocidentais como “êxtase” é um rápido fulgor da verdadeira vida espiritual do ser quando atinge o Nirvana, a comunhão com o Pai, embora sem perder sua individualidade sidérea. Em tal momento, fundem-se as distâncias, o tempo e o espaço convencional da mente humana limitada, enquanto a alma abrange consciente e perceptível, tanto a vida do na intimidade as constelações dos astros com as constelações dos átomos, pois a matéria é o “Maya”, a Ilusão, e só a Espirito é a Verdade!

(…) O cérebro ardia-lhe pelo impacto sidéreo, além da sua capacidade humana de resistência, enquanto os nervos estavam desgastados e o sangue superativado pela alta pressão que ameaçava romper os vasos cerebrais. Súbito, num esforço heroico empreendido pela própria natureza carnal, a corrente sanguínea efervescente foi drenada pelas glândulas sudoríparas e grossas bagas de suor e sangue caíram ao solo, deixando o mestre frontalmente exaurido em suas forças vitais.”

RAMATÍS. O Sublime Peregrino. Obra psicografada por Hercílio Maes. São Paulo: Ed. Conhecimento, 2020, pág. 354-356.

 

Fundamentos do “Lava-pés”

“João Batista, o profeta solitário, havia instituído cerimônias com a finalidade de incentivar certas forças psíquicas nos seus adeptos através da concentração ou reflexão espiritual. Isso impressionava os neófitos e servia para a confirmação da própria responsabilidade dos valores espirituais. Em sua época os símbolos, ritos, talismãs e as cerimônias ainda produziam louváveis dinamizações das forças do espírito ou impunham respeito e temor religioso. Eram recursos que serviam como “detonadores” das forças psíquicas, produzindo profunda influência esotérica nos seus cultores, assim como ainda hoje fazem os sacerdotes para o incentivo da fé e do respeito dos fiéis, como são os cânticos, perfumes, a música e o luxo na igrejas.

(…)

Mais tarde, João Batista também organizou a cerimônia do “lava-pés”, que simbolizava um evento fraterno e humilde, como um sentido de igualdade ou denominador comum entre todos os discípulos e o próprio Mestre. O “lava-pés” era a cerimônia que eliminava a condição social, o poder político, a superioridade intelectual ou a diferença entre os adeptos e o Mestre, atuantes sob a mesma bandeira espiritual. No momento simbólico do “lava-pés” o senhor seria o irmão do servo e também o serviria, porque ambos eram herdeiros dos mesmos bens do mundo.”

RAMATÍS. O Sublime Peregrino. Obra psicografada por Hercílio Maes. São Paulo: Ed. Conhecimento, 2020, pág. 340-341.

 

Prejuízos ao Sacerdócio

“Jesus era na época considerado um perigoso socialista, que tentava igualar os homens, nivelar as fortunas e reduzir os poderes do mundo, que ousava pregar o amor para com o inimigo e o perdão para o algoz.

(…)

A verdade é que quando o corpo de Jesus estremeceu na cruz, algumas cortinas de seda se fecharam apressadamente para o drama do Calvário, o qual, na verdade, fora planejado sobre o luxo dos tapetes de veludo e ante o tilintar de taças de cristal. Jesus, homem perigoso e portador de ideias socialistas avançadas, havia sido finalmente eliminado do cenário terreno, cuja presença destemida e honesta era incomodativa e prejudicial aos interesses dos fartos, avarentos e exploradores da miséria humana.”

RAMATÍS. O Sublime Peregrino. Obra psicografada por Hercílio Maes. São Paulo: Ed. Conhecimento, 2020, pág. 338-339.

 

Socialista Avançado

“Alguns estudiosos da vida de Jesus dizem que ele era um socialista avançado para a época.

RAMATIS: O socialismo pregado por Jesus era manifesto do interior para o exterior, de dentro para fora, ensinando que os bens materiais são meios e não a finalidade suprema da alma, o que torna os homens menos avaros, mais cordatos e compreensivos, reunindo-os numa vivência pacifica e fraterna. No entanto, o socialismo politico, embora tente a distribuição equitativa dos bens do mundo, origina-se de condições impostas aos homens pelo poder estatal, pelas leis ou até pela tirania. No primeiro caso, tudo é fruto de uma abdicação espontânea, e o homem então usa dos bens materiais para renovar as lições do espírito eterno, no segundo, é consequência de uma imposição, que nem sempre dá ao homem a conformidade espiritual.

É infrutífero confundir o verdadeiro sentido espiritual do Cristianismo com certas doutrinas modernas ainda imaturas em seus ensaios de socialismo.”

RAMATÍS. O Sublime Peregrino. Obra psicografada por Hercílio Maes. São Paulo: Ed. Conhecimento, 2020, pág. 337-338.

 

Judas

“Judas sentia-se atraído pelos ricos e poderosos, pois não perdia ensejo de doutrinar os afortunados, políticos influentes e sacerdotes de Jerusalém, alegando aos companheiros que não poderia haver sucesso no movimento cristão libertador, através de criaturas famintas, maltrapilhas e ignorantes, que constituíam a corte de Jesus. Fazia promessas atraentes e assumia compromissos prematuros, prometendo ótimas regalias para os candidatos que fizessem o seu ingresso no reino de Israel, como “fundadores”, pois o Messias estava prestes a se revelar e seria o supremo mandatário do povo judeu. Em verdade, ele não confiava no êxito da causa cristã pela interferência de legiões angélicas, como admitiam quase todos os seus partidários, nem acreditava que isso se realizaria por força da profecia de Isaias e Miquéias razão por que há muito tempo buscava atrair homens de temperamento enérgico e experimentados a fim de assegurar a vitória final. Judas não consultava os demais companheiros em suas empreitadas ocultas, pois pretendia precipitar os acontecimentos e assim obrigar Jesus a agir, de imediato, no sentido de fazê-lo marchar para Jerusalém, onde então viria às suas mãos o poder da Judéia. Caráter dúbio e utilitarista, ambicioso e imprudente, ele não acreditava no “Reino de Deus” expresso pela fórmula espiritual que exigia o sacrifício e a renuncia dos homens.

No entanto, reconhecia em Jesus um líder e comandante inato, que sabia arregimentar as multidões pela força hipnótica de suas ideias e pela eloquência de suas palavras. Era óbvio que ninguém resistiria em Jerusalém ao verbo inflamante do rabi da Galileia, quando ele conclamasse todos os judeus para o arremesso histórico de expulsar os romanos e destronar Herodes. E concluía essa jornada vitoriosa e segura, Jesus iria dever a ele. Judas, que ousadamente não vacilaria em agir por iniciativa própria. Seria um serviço valioso prestado ao Mestre Jesus e à causa, no que jamais João ou Pedro poderiam supera-lo.

(…)

Decidido, reuniu seus fiéis e transmitiu-lhes a boa nova de sua ida a Jerusalém, não como visitante, mas para pregar durante as festas de Páscoa nas praças, sinagogas, escolas e talvez nos pátios do próprio Templo, onde só discursavam ao povo os mais famosos oradores da Judéia. A notícia alvissareira galvanizou os seus discípulos e ateou o mais vibrante entusiasmo na turba que o seguia à cata de proventos materiais. O “Reino de Deus” e o trono de Israel estavam próximos, pois Jesus decidira-se a empreender a tão esperada Marcha a Jerusalém. A alegria foi contagiante; um sopro renovador e poderoso vitalizou até os mais pessimistas.

(…)

Em breve afluía gente de todos os recantos de Betânia, dominada pelo intenso jubilo de participar do esperado “Reino de Deus”, na Terra, a ser instituído em breve pelo Messias, conforme predisseram os mais abalizados profetas do Velho Testamento. (…) O Mestre iria a Jerusalém não somente pregar a Boa-Nova e o Reino de Deus, mas inquirir os poderosos, afastar os sacerdotes cúpidos e exploradores do povo infeliz, assim como libertar o povo eleito do jugo romano. As multidões o esperariam festivas ás portas da cidade para recepcioná-lo, como se faz dignamente a um rei; e o levariam em triunfo pelas ruas até à cidadela do Templo. Ali, Jesus seria consagrado sua augusta majestade divina e da inexpugnável fortaleza seguiriam para o palácio de Herodes, onde ele assumiria poder, em cumprimento da profecia de Isaias e Miquéias.

Diante da casa de Ezequiel, a multidão dava vivas a Jesus num delírio de festa. Os apóstolos sorriam, felizes, contagiados pelo entusiasmo da turba e faziam coro às hosanas ao Mestre.”

RAMATÍS. O Sublime Peregrino. Obra psicografada por Hercílio Maes. São Paulo: Ed. Conhecimento, 2020, pág. 314-318.

 

Ritos e Votos Essênios

“Em geral, os terapeutas ou filiados externos reconheciam-se pelo sinal característico de a mão direita e apontar o dedo indicador para o céu, enquanto os adeptos do Círculo Interno fechavam o dedo mínimo e o anular, deixando o polegar, o indicador e o médio abertos e erguidos até à altura da cabeça, conforme o próprio Jesus o fazia habitualmente e se pode verificar pelas estampas católicas. A saudação peculiar preferida entre eles era “A Paz esteja convosco”, a qual punha à vontade aquele que fazia parte da comunidade e a seguir respondia: “Seja a Paz em ti e em mim pela graça do Senhor!”

(…)

Quando o ambiente dos santuários maiores se saturava de vibrações puras e energéticas, pela presença de iniciados de alto quilate espiritual, ou de visitantes da estirpe de Jesus, então ali se condensava ectoplasma sufi ciente para proporcionar a materialização de entidades superiores e a produção da “voz direta”. Isso sucedeu na “Transfiguração”, no Monte Tabor, porque ali também se congregavam muitos anciãos do Conselho Supremo da Confraria dos Essênios. Então o influxo das vibrações angélicas de Jesus, conjugadas às energias emanadas dos iniciados dos demais santuários, produziram a “tela ectoplásmica” hipersensível, que permitiu aos espíritos de Elias e Moisés projetarem as suas características pessoais, dando o testemunho de que também haviam sido precursores da obra de Jesus, embora operando apenas na lavradura do terreno.”

RAMATÍS. O Sublime Peregrino. Obra psicografada por Hercílio Maes. São Paulo: Ed. Conhecimento, 2020, pág. 306-309.

 

Os Apóstolos e os Essênios

“(…) Confraria dos Essênios. (…) Apenas João, o Evangelista, tinha acesso aos ritos internos, pois era iniciado, e fora ele o próprio profeta Samuel, que no passado havia organizado “Fraternidade dos Profetas”, na qual os Essênios também se inspiraram.

(…)

Na época de Jesus, entre os anciãos essênios estavam encarnados os profetas Ezequiel, Miquéias, Nehemias e Job, componentes do Conselho Supremo e todos sob a tutela do profeta Jeremias. Aliás, os anciãos essênios formavam o grupo de espíritos que desde os primórdios da Atlântida vinham elaborando os estatutos preliminares da efusão espiritual na Terra e o preparo da lavoura para as “sementes” abençoadas do Cristo-Jesus. (…)  Atualmente já estão se disseminando outra vez pela Terra, a fim de organizar elevada confraria de disciplina esotérica em operosa atividade no mundo profano para a revivescência do cristianismo nas suas bases milenárias. (…) quando viveu na Terra a majestosa personalidade de Antúlio, o profeta sublime, que em época tão recuada já fundara a “Fraternidade da Paz e do Amor”, cujos adeptos ficaram conhecidos pela tradição esotérica como os “Antulianos”. E Jesuelo, o notável discípulo atlântido, que lhe foi fiel até os últimos instantes invasão dos bárbaros e da destruição do “Templo da Paz e do Amor”, onde sucumbiu Antúlio, também retornou à Judeia para advento do Cristianismo, encarnado na figura de João, o Evangelista.”

RAMATÍS. O Sublime Peregrino. Obra psicografada por Hercílio Maes. São Paulo: Ed. Conhecimento, 2020, pág. 304-305.

 

 

Os Essênios e os Judeus

“Muitos dos valiosos ensinamentos dos Essênios, e que no tempo de Jesus ainda cingiam-se a certos ritos e a uma pragmática iniciática tradicional, hoje podem ser aprendidos e cultuados com facilidade, sem o discípulo abandonar suas tarefas cotidianas e através de filiação a certas instituições espiritualistas. Algumas dessas instituições modernas ministram lições admiravelmente práticas e sem quaisquer complexidades, pois desenvolvem a mente e ajustam emoções do discípulo sem exigências fatigantes ou compromissos exóticos. Aliás, insistimos em dizer que, depois do advento de Jesus, já não se justificam as iniciações a portas fechadas.”

RAMATÍS. O Sublime Peregrino. Obra psicografada por Hercílio Maes. São Paulo: Ed. Conhecimento, 2020, pág. 303-304.