“Sempre que, num sonho, se oferece comida, a regra geral é a de que, por mais desagradável que pareça, a comida deve ser ingerida. Às vezes, como no sonho acima, a comida tem qualidades estranhas ou miraculosas, indicando que vem do nível arquetípico da psique. (…) Em alguns casos, o alimento a ser ingerido simboliza claramente a necessidade de assimilar uma relação com o Si-mesmo. Isaías fala da palavra de Deus como pão a ser comido.
Todos os sonhos que envolvem alimento têm ao menos uma referência distante ao simbolismo da Eucaristia, embora por vezes pareça mais com uma Missa Negra (ver figura 4-15). Quando o alimento oferecido se relaciona claramente com o Si-mesmo, torna-se o alimento da imortalidade de que fala Cristo: “Eu sou o pão da vida. Vossos pais comeram o maná no deserto, e morreram. Este é o pão que desce do céu, para que o homem que dele comer não morra. Eu sou o pão vivo que desceu do céu; se alguém comer desse pão, viverá para sempre; e o pão que eu darei pela vida do mundo é a minha carne.” (João, 6: 48-51, RSV.)
O sacramento cristão da Santa Comunhão é um rito de coagulatio. É interessante notar que vários outros sacramentos se acham igualmente vinculados com o simbolismo das operações alquímicas. O sacramento do batismo pertence à solutio; o sacramento da extrema-unção à mortificatio; eo sacramento do matrimônio à coniunctio. Entretanto, a Eucaristia é o rito central do cristianismo e, como Jung observou, pode ser considerada como o rito do processo de individuação”, Do ponto de vista do simbolismo da coagulatio, compartilhar do alimento eucarístico significa a incorporação, por parte do ego, de uma relação com o Si-mesmo.”
EDINGER, Edward F. Anatomia da Psique. O Simbolismo Alquímico na Psicoterapia, Ed. Cultrix 2006, Pág.129.
Capítulo 4 Coagulatio