(…) temas de coagulatio: solidificação de um líquido, chumbo, refeição e crucifixão. (…) “no tocante ao seu conteúdo, os arquétipos não são determinados, ocorrendo isso, tão-somente, no que se refere à sua forma e assim mesmo num grau muito limitado. Uma imagem primordial só é determinada quanto ao seu conteúdo quando se torna consciente e é, portanto, preenchida com o material da experiência consciente… Em si mesmo, o arquétipo é vazio e puramente formal, não passando de facultas praeformandi, uma possibilidade de representação dada a priori”
(…)
A preocupação quanto à digeribilidade da substância é característica. Qual a quantidade de realidade que o ego pode suportar? Trata-se de uma questão premente para todos nós. O sonho parece aconselhar pequenas doses regulares desse remédio amargo.
(…) esse sonho retrata o desenvolvimento do ego como um processo em que a totalidade latente, preexistente, o Si-mesmo, primeiro se encarna e depois é assimilado por meio dos ingentes esforços do indivíduo. Demonstra a afirmação junguiana de que “o Si-mesmo, tal como o inconsciente, é uma existência a priori, a partir da qual o ego se desenvolve. É, por assim dizer, uma prefiguração inconsciente do ego“.
Quando a relação entre o ego e o Si-mesmo está em realização – isto é, quando o ego se aproxima da coagulatio da psique em sua totalidade, o simbolismo do desenvolvimento do ego torna-se idêntico ao da individuação.
Deus deseja nascer na chama da consciência do homem, elevando-se cada vez mais alto. E o que acontecerá se isso não tiver raízes na terra? Se não houver uma casa de pedra na qual o fogo de Deus possa habitar, mas sim uma destroçada cabana de madeira que se incendeia e desaparece? Poderia Deus nascer nessa circunstância? Devemos ser capazes de sofrer Deus. Essa é a suprema tarefa do portador de idéias. Ele deve ser o advogado da terra. Deus cuidará de si mesmo. Meu princípio interior é: Deus et homo. Deus necessita do homem a fim de tornar-se consciente, da mesma maneira como precisa da limitação no tempo e no espaço. Sejamos, pois, sua limitação no tempo e no espaço, um tabernáculo terrestre.”
EDINGER, Edward F. Anatomia da Psique. O Simbolismo Alquímico na Psicoterapia, Ed. Cultrix 2006, Pág.132-133.
Capítulo 4 Coagulatio