“Em seu ensaio As dores, Viktor von Weizsäcker caracteriza a dor como uma “verdade que se tornou carne”, como um “tornar-se carne da verdade”.
Apenas verdades doem. Tudo que é verdadeiro é doloroso. A sociedade paliativa é uma sociedade sem verdade, um inferno do igual.
A dor só pode surgir lá onde um verdadeiro pertencimento é ameaçado. Sem a dor somos, então, cegos, incapazes de verdade ou de conhecimento:
Dor é vínculo. Quem recusa todo estado doloroso é incapaz de vínculos. Vínculos intensivos que poderiam doer são, hoje, evitados. Tudo se desenrola em uma zona de conforto paliativa. Em seu livro Elogio do amor, Alain Badiou aponta para o anúncio de um site de relacionamentos: “É muito fácil estar apaixonado sem sofrer!” O outro como dor desaparece. O amor como consumo, que coisifica o outro em um objeto sexual, não dói.
A dor acentua a autopercepção. Ela delineia o si. Ela desenha seus contornos. O crescente comportamento autoagressivo pode ser compreendido como uma tentativa desesperada do eu narcísico e tornado depressivo de se assegurar de si mesmo, de se perceber. Sinto dor, logo existo.”
HAN, Byung-Chul. Sociedade paliativa: A dor hoje. Ed. Vozes, 2021, Local, 532-569.
A dor como verdade