Escassa moralidade

“Não se objete que o Estado não pode renunciar ao uso da injustiça, porque se colocaria assim em situação desvantajosa. Também para o indivíduo a adesão às normas morais, a renúncia ao emprego brutal do poder é, em geral, muito desvantajoso, e o Estado só raramente se mostra capaz de compensar o indivíduo pelo sacrificio que dele exigiu. Não há também que espantar-se de que o relaxamento de todas as relações morais entre os povos da humanidade tenha suscitado uma ressonância na moralidade dos indivíduos, pois a nossa consciência moral não é o juiz incorruptível que os moralistas supõem; na sua origem, é apenas «angústia social» e nada mais. Onde a comunidade se abstém de toda a reprovação, cessa também a opressão dos maus impulsos, e os homens cometem atos de crueldade, de malícia, de traição e brutalidade, cuja possibilidade se teria considerado incompatível com o seu nivel cultural.

Duas coisas suscitaram nesta guerra a nossa deceção: a escassa moralidade exterior dos Estados, que internamente se comportam como guardiões das normas morais, e a brutalidade do comportamento dos indivíduos, dos quais, como participantes na mais elevada civilização humana, não se esperara coisa semelhante.”


FREUD
, Sigmund. Porquê a Guerra? – Reflexões sobre o destino do mundo, Ed. Edições 70, 2019, pág. 30.

Considerações atuais sobre a guerra e a morte (1915)
“O desapontamento perante a morte”

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