“Hoje vivemos numa época desprovida de festividade, numa época sem celebração. O que é uma festa? Já a especificidade linguística nos dá uma indicação sobre seu ser. No vernáculo se diz, celebramos uma festa. A celebração acompanha uma temporalidade específica da festa. A palavra celebração (Begehung) destaca a ideia de um objetivo para o qual nos encaminhamos. Na celebração o que se dá primariamente é que não precisamos nos encaminhar para algum ponto para chegar lá. Na festa, o tempo como sequencial de momentos passageiros e fugidios é suspenso. Adentramos na celebração da festa como adentramos num espaço onde nos demoramos. O adentrar numa celebração se contrapõe ao transcorrer. No adentrar a celebração não há nada que transcorre e passa. O tempo de festa num certo sentido não passa. Em seu ensaio “Atualidade do belo”, o filósofo Hans-Georg Gadamer concebe a proximidade específica entre arte e festa a partir da temporalidade que lhes é comum: “A essência da experiência de tempo da arte é que devemos aprender a demorar-nos junto a ela. Talvez essa experiência seja a mais adequada correspondência ao que se costuma chamar de eternidade”.O tempo da festa é o tempo que não passa. É o tempo celebrativo em sentido específico.
(…)
Se vivemos numa época sem festa, se vivemos numa época desprovida de celebrações, já não temos mais qualquer relação com o divino.”
HAN, Byung-Chul. Sociedade do Cansaço. Ed. Vozes, 2022, Local 896-914.
Anexos: Tempo de celebração-a festa numa época sem celebração