Cismáticos. (Doré, Ilustrações para A Divina Comédia de Dante.)
“Esta passagem me faz lembrar de certas pessoas que só contam com a afiada lâmina do intelecto racional para compreenderem a terna e sensível vida de sua alma. Seu auto-exame é uma perpétua tortura de autodissecção.
A medição, a contagem, o ato de pesar e a consciência quantitativa em geral pertencem à operação de separatio. O mesmo ocorre com a aritmética aplicada, as imagens geométricas de linhas, planos e sólidos, bem como com os procedimentos do agrimensor e do navegador de fixação de fronteiras, de medição de distâncias e de estabelecimento de localizações dentro de um sistema de coordenadas. Assim, o compasso, a régua, o esquadro, as escalas, o sextante e o fio de prumo pertencem à separatio, tal como o fazem os relógios e outras formas de cálculo do tempo. As próprias categorias do espaço e do tempo, fundamento de existência consciente, são produtos da separatio (ver figura 7-9).
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A secção áurea é um símbolo de separatio muito interessante. Expressa a idéia de que há uma maneira particular de separar os opostos que vai criar uma terceira coisa (a proporção ou média entre eles) de grande valor. O valor é indicado pelo termo “áureo” e pela suposta beleza da proporção. A mesma imagem da média serviu a Aristóteles, num contexto ético, para definir a natureza da virtude. Escreve ele: “A virtude moral é uma média. É uma média entre dois vícios, um que envolve o excesso e o outro, a deficiência. Ela assim é porque seu caráter a leva a buscar aquilo que é intermediário nas paixões e nas ações… Por essa razão também não é tarefa fácil ser bom. Porque, em todas as coisas não é tarefa fácil encontrar o meio, por exemplo, encontrar o meio de um círculo não é para todos, mas para aquele que sabe.”
Figura 7-9
O Alquimista como geômetra. (Maier, Atlanta Fugiens, 1618)
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Não é apenas a virtude que se associa com uma média ou equilíbrio entre os opostos, mas também o direito (jus) e a justiça. A balança na mão da personificação tradicional da Justiça indica que a justiça é um equilibrio entre os opostos.
EDINGER, Edward F. Anatomia da Psique. O Simbolismo Alquímico na Psicoterapia, Ed. Cultrix 2006, Pág.212-214.
Capítulo 7 Separatio