Comunicação digital

“Eu obtenho informações pela internet e, para isso, não preciso me voltar para um de frente pessoal. Eu não me apresento no espaço público para obter informações ou mercadorias. Antes, deixo que elas venham até mim. A comunicação digital me conecta, mas me isola ao mesmo tempo. Ela aniquila, de fato, a distância, mas a ausência de distância não produz ainda uma proximidade pessoal.”

HAN, Byung-Chul.A expulsão do outro: Sociedade, percepção e comunicação hoje. Ed. Vozes, 2022, Local 1232.

Escutar

Barulheira de comunicação

“A hipercomunicação atual reprime o livre-espaço do silêncio e da solidão, unicamente no qual seria possível dizer coisas que realmente valeria a pena serem ditas. Ela reprime a linguagem, da qual o silêncio faz essencialmente parte. A linguagem se ergue de uma quietude. Sem ela, ela é apenas uma barulheira.

A barulheira de comunicação não possibilita a escuta. A natureza, como princípio poético, se abre apenas na passividade originária da escuta.”

HAN, Byung-Chul.A expulsão do outro: Sociedade, percepção e comunicação hoje. Ed. Vozes, 2022, Local 1014-1017.

Linguagem do outro

Comunicação sem limite

“(…) o poema Barreira linguística, de Paul Celan, trata da experiência da estrangeiridade: “Fosse eu como tu. Fosses tu como eu. / Não estaríamos então / Sob um alísio. / Somos estrangeiros. // Os azulejos, lá, / Densamente lado a lado, ambos / riem sombriamente: / dois silêncios de boca cheia”

Hoje nos entregamos inteiramente a uma comunicação sem limites. Somos praticamente atordoados pela hipercomunicação digital. A barulheira da comunicação não nos faz, porém, menos solitários. Ela, talvez, nos torna ainda mais solitários do que barreiras linguísticas. Além da barreira linguística, há sempre um tu. Ela preserva ainda a proximidade da distância. A hipercomunicação, em contrapartida, destrói tanto o tu como também a proximidade. Relações são substituídas por conexões. A ausência de distância suprime a proximidade. Dois silêncios de boca cheia poderiam conter mais proximidade, mais linguagem do que a hipercomunicação. O silêncio é linguagem; a barulheira da comunicação, em contrapartida, não é.”

HAN, Byung-Chul.A expulsão do outro: Sociedade, percepção e comunicação hoje. Ed. Vozes, 2022, Local 603-607.

Alienação

O imperativo neoliberal do desempenho

“Ele não narra nada. Ele não seduz. O pornô produz uma desnarrativização e deslinguistificação, não apenas do corpo, mas também da comunicação em geral. Nisso consiste a sua obscenidade.

O imperativo neoliberal do desempenho, sexyness e fitness nivela o corpo, por fim, a um objeto funcional que deve ser otimizado.”

HAN, Byung-Chul.A expulsão do outro: Sociedade, percepção e comunicação hoje. Ed. Vozes, 2022, Local 128-132.

Terror do igual

Ausência de distância

“A rede se transforma, hoje, em um campo de ressonância especial, em uma câmara de eco, da qual é eliminada toda alteridade, toda estranheza. A ressonância real pressupõe uma proximidade do outro. Hoje, a proximidade do outro dá lugar à ausência de distanciamento do igual. A comunicação global permite apenas iguais outros ou outros iguais.

Está inscrita na proximidade, como sua contraparte dialética, a distância. A eliminação da distância não produz mais proximidade, mas a destrói. Em lugar da proximidade surge uma completa ausência de distância. Proximidade e distância estão imbricadas uma na outra. Uma tensão dialética as mantém unidas. Ela consiste em que as coisas são animadas justamente por seu oposto, pelo outro de si mesmas.”

HAN, Byung-Chul.A expulsão do outro: Sociedade, percepção e comunicação hoje. Ed. Vozes, 2022, Local 111-114.

Terror do igual

O barulho da comunicação

“Heidegger diria que, hoje, o barulho da comunicação, o rebuliço digital de dados e informações nos torna surdos à silenciosa vibração da verdade, à sua força [Gewalt] silenciosa: “Uma vibração: é a verdade / ela mesma emergida entre os homens, / em meio ao rebuliço de metáforas”.

HAN, Byung-Chul.A expulsão do outro: Sociedade, percepção e comunicação hoje. Ed. Vozes, 2022, Local 101.

Terror do igual

Indisponibilidade

“O silêncio tem início a partir da indisponibilidade. A indisponibilidade estabiliza e aprofunda a atenção, suscita o olhar contemplativo. Ele tem a paciência para o largo e o lento. Onde tudo está disponível e alcançável, nenhuma atenção profunda é formada. O olhar não se detém. Ele vagueia como o de um caçador. Para Nicolas Malebranche, a atenção é a oração natural da alma. A alma não reza mais hoje em dia. Ela se produz. A comunicação extensiva dispersa a alma.

A contemplação, no entanto, se opõe à produção. A compulsão de produzir e comunicar destrói a imersão contemplativa.

(…)a verdade de uma fotografia é revelada no silêncio, no fechar dos olhos.”

HAN, Byung-Chul. Não coisas: Reviravoltas do mundo da vida. Ed. Vozes, 2021, Local 1315-1323.

Silêncio

A comunicação como playground

“Os objetos digitais não permitem que nos demoremos. É assim que eles diferem das coisas.As selfies se caracterizam por sua ludicidade. A comunicação digital tem características lúdicas. Os phono sapiens estão descobrindo a comunicação como seu playground.”

HAN, Byung-Chul. Não coisas: Reviravoltas do mundo da vida. Ed. Vozes, 2021, Local 593-594.

Selfies

Racionalidade digital

“Podemos chamar a forma de racionalidade que se sustenta sem discurso de racionalidade digital. É oposta à racionalidade comunicativa que conduz um discurso. Junto à capacidade de fundamentação, a disponibilidade de aprendizado é constitutiva para a racionalidade comunicativa.

HAN, Byung-Chul. Infocracia: Digitalização e a crise da democracia. Ed. Vozes, 2022, Local 575.

Racionalidade Digital

Aparato de submissão

“A comunicação dirigida pelos algoritmos nas mídias sociais não é nem livre, nem democrática. Leva a uma nova interdição [Entmündigung]. O smartphone é uma coisa completamente diferente do parlamento móbil, é um aparato de submissão.”

HAN, Byung-Chul. Infocracia: Digitalização e a crise da democracia. Ed. Vozes, 2022, Local 421.

O fim da ação comunicativa