“Correspondência Astrológica: Capricórnio.
Mal. Sombra. O Rebelde orgulhoso em sua luta contra Deus. Vícios. Relacionamentos péssimos. Poder corrompido. Trevas. Sexo ardente. Embriaguez. Guardião do limiar. Tentação. Satisfação. A Serpente da Deusa. O verdadeiro herói do Éden. O caminho do conhecimento. A queda de uma grande al- tura. O príncipe deste mundo. Obsessão. Magia sombria. A glória da estrela da manhã. Rituais satânicos. O inventor do tarot.
Talvez, os Amantes mostrem a magia sexual feita com intenção espiritual e o Diabo, os ritos sexuais que se tornam seu próprio fim e assim nos deixam presos na escuridão. Em uma leitura, o Diabo pode significar escravidão ou outras formas de “desvio” sexual.
Na tradição Rider, o baralho contém trés anjos: presentes nos Aman- tes, na Temperança e no Julgamento o Marselha apresenta o Cupido nos Amantes. Identificamos esses trés anjos como Rafael, Miguel e Gabriel. Mas e quanto a Uriel, cujo nome significa “Luz de Deus”? Os estudiosos e instru tores de tarot Wald e Ruth Ann Amberstone o veem na quarta figura alada, O Diabo, que se eleva sobre os demónios exatamente como Rafael se eleva sobre Adão e Eva dos Amantes.
Reflita sobre isso: nas histórias, os homens fazem pactos com o Diabo assinando um contrato de sangue, mas as mulheres se entregam atra vés de seus fluidos sexuais.
As imagens do diabo são muitas vezes projeções de medo. O Malleus Maleficarum, ou Martelo das Feiticeiras, um guia para inquisidores caçadores de bruxas, detalha fantasias extremas do poder sexual das mulheres sobre os ho mens, incluindo supostas cestas repletas de pênis verdadeiros decepados dos corpos dos homens.
Entre outros significados, o pentagrama evoca com oso corpo humano, pois se você ficar braços extendidos e as pe evoca o codes, forma uma estrela de cinco pontas.
A crença nos detém mais do que qual quer opressão real. Encontramos uma ideia semelhante no baralho Marselha e no Rider, onde as cordas ou correntes estão soltas o suficiente para as pes sous a removerem e irem embora. Pessoas em grande perigo enfrentam pro blemas muito reais. Mas mesmo em circunstâncias terríveis, o espirito pode reconhecer sua liberdade suprema.
Na triade Mago-Força-Diabo da versão Rider, vemos lemniscatas (sinais do infinito) acima das cabeças dos dois primeiros, e o pentagrama acima do Diabo. Nesse deck e em outros, o Diabo se agacha em um bloco retangular de pedra, um meio cubo. Como vimos com o Imperador, os ocultistas is ve zes veem o cubo como um simbolo da existência – o “cubo do espaço, co mo Paul Foster Case o nomeia. Um meio cubo simboliza uma meia verdade. Esta é a crença de que apenas a matéria existe, de que não há dimensão es piritual para a vida.
Se somarmos os números de todas as cartas até o Hierofante-0-1-2-3-4-5-obtemos o 15 do Diabo.
Alguns veem a imagem do Diabo como Baphomet, um suposto deus adorado pelos Cavaleiros Templários, essa malfadada ordem destruida na sexta feira de 13 de outubro de 1307. E Baphomet parece ser um derivado da imagem de Pã, um deus grego que era meio cabra e conduzia humanos em ritos sexuais selvagens. A flauta de Pã levava as pessoas ao “pânico”, o que, ori ginalmente, talvez não significasse medo, mas comportamento imprudente,insano ou apenas sensual.
A imagem sobrevive não apenas nos supostos cascos fendidos do Diabo, mas na expressão comum “bode velho”, para um homem de certa maturidade que persegue mulheres mais jovens. A Golden Dawn atribuiu Capricórnio, signo do bode, ao Diabo.
Azazel aparece nas instruções para o Dia da Expiação, onde os israelitas são instruídos a pegar um bode o mesmo animal – e transferir todas as ações malignas do povo para ele, e então enviá-lo para o deserto – “para Azazel.
A Estrela. Mas Vênus também nos traz de volta ao Diabo, pois o mito cristão descreve Satanás a palavra significa “adversário” como originalmente um anjo, o mais radiante de todos os filhos do céu. Seu nome era Lúcifer Estrela da Manhã. Lúcifer significa “portador da luz”, enquanto Estrela da Manhã o identifica como o planeta Vênus.
Vênus traça um padrão ainda mais impressionante. Ao longo de cerca de 8 anos, forma uma estrela perfeita de cinco pontas no céu. Assim, o pentagrama, retratado nos filmes como uma marca de Satanás, na verdade repre- senta Vénus, a deusa do amor. Mas, como vimos, ele também aponta ao corpo humano. E de uma forma muito vital, também incorpora o mundo das plantas. Corte horizontalmente uma maçã ao meio e você descobrirá uma estre la de cinco pontas em cada metade. Uma roma, fruta associada a Persefone e Deméter, apresenta o mesmo padrão. Rosas selvagens e outras tantas flores contém cinco, ou múltiplos de cinco, pétalas em suas flores. Assim, Assim, o penta- grama une o Céu e a Terra, tendo o corpo humano como elo ou ponte entre eles. Numa imagem forte: como acima, assim abaixo.
Durante parte do ano, Vênus desaparece do céu. Nos tempos antigos, isso coincidia com o inverno e, portanto, com um período de esterilidade. O retorno de Vénus na pri- mavera anunciava a volta da fertilidade. Esta é a carta Vênus da Estrela. O Diabo é Vénus na escuridão, a luz exilada de si mesma, uma ilusão de esterilidade e desespero.
Psicologicamente, nossa luz pode desaparecer a qualquer momento, em qualquer estação, quando o horror da vida, ou a fraqueza, ou o medo, ou o temor pelo que vai nos machucar, ou até mesmo nos destruir, superar nossa crença e nossa fé no amor. Nesses momentos, nos sentimos acorrentados, como se fossemos escravos de uma força de destruição. Mas as correntes po- dem se soltar, assim como Vênus sempre retornará ao céu.
(…) há um trocadilho importante no Génesis que os conecta. Antes de Adão e Eva deixarem o Éden, lemos que “Deus fez vestes de pele para protege-los”. As pessoas assumem que isso significa peles de animais, para mantê-los aque- cidos no mundo cruel fora do paraiso. Mas a palavra para pele (ohr) também é a mesma para luz, sendo apenas dita de forma diferente.
Nessa acepção, a pele que Deus lhes dá são seus próprios corpos, uma forma fisica fixa que contém a luz eterna de seu verdadeiro ser. Nossos cor- pos nos protegem. Enquanto vivermos na ilusão da dualidade, no mundo do ego, nossa própria luz nos dominará. Olhe para as figuras na carta da versão Rider e veja como elas parecem confortáveis. O Diabo, em certo sentido, nos mantém seguros até que estejamos prontos para passar pelo portal – olhe novamente para a carta da Shining Tribe, até chegarmos às cartas finais dos Arcanos Maiores, onde “curaremos o mundo” redescobrindo nos so verdadeiro eu.
(…) alguns gnósticos, que o mundo inteiro não passa de uma brutal ilusão e que precisamos nos libertar de nossos corpos. Tendo vivido tantos anos maravilhada com a beleza da vida, em um mundo onde o caminho do planeta Vênus, com suas rosas e ma ças, e o corpo humano, com seus braços e pernas para fora, formam o mes mo pentagrama, vejo essa rejeição do mundo como algo ao mesmo tempo negativo e fácil. Talvez, como leitores de tarot, e como pessoas mesmo, precisemos aceitar as coisas pelo que são, em toda a dor que vemos ao nosso re dor, mas ao mesmo passo, olhar dentro e além para a realização de nossos eus mais profundos.
Quando você atravessa o campo com sua mente pura e santa, então de todas as pedras, de todas as coisas que crescem, e de todos os animais, saem as centelhas de suas almas e se agarram a você, e é assim que todas elas são purificadas e se tornam um fogo sagrado. Dentro de você.
Mais comumente, o Diabo significa algum tipo de opressão, ou vício, seja lá o que for que nos acorrenta. Muitas vezes, essas coisas têm uma qualidade de ilusão sobre elas, devido à imagem das cordas ou correntes serem grandes o suficiente para se soltarem. O Diabo pode significar ilusões de qualquer tipo, enganos, erros, apego a valores ou situações ou pessoas que podem prejudicá-lo. O Mago carrega uma tradição secreta de trapaça, mas os jogos e mentiras do Diabo podem causar danos reais.
Com as cartas de Copas, o Diabo pode significar alcoolismo, e podemos estender isso para os outros naipes. O Diabo com Espadas agulhas – pode indicar vício em drogas, com Paus, obsessões sexuais; com Ouro, proble- mas com dinheiro, talvez um vício em jogos de azar.”
POLLACK, Rachel.Bíblia Clássica do Tarot, Darkside, 2023, Pág.217-227.