Conceito de Punição

“(…) esse conceito de punição é muito defendido pela maioria dos pais. Pesquisas indicam que cerca de 80% dos pais norte-americanos acreditam sem reservas na eficácia do castigo físico para crianças. Essa é aproximadamente a mesma porcentagem dos que defendem a pena de morte para criminosos. Havendo uma parcela tão grande da população que defende a punição como justificável e necessária na educação de crianças, tive, ao longo dos anos, bastante oportunidade de discutir essa questão com os pais, e fiquei satisfeito em ver que consegui ajudar muitas pessoas a enxergarem as limitações de qualquer tipo de punição. Para tanto basta perguntar a si mesmo duas coisas.”

Pergunta número um: O que você quer que a criança faça de outro modo? Se pararmos nessa questão, pode parecer que em certas ocasiões a punição funciona, pois por meio de ameaça ou aplicação de castigo, certamente conseguiremos algumas vezes influenciar a criança a fazer o que queremos.

Contudo, ao acrescentar uma segunda pergunta, observei que os pais percebem que a punição nunca funciona: Quais são as motivações que queremos que a criança tenha para agir como desejamos? Essa segunda pergunta nos ajuda a ver que a punição não apenas é ineficaz, mas impede que nossos filhos façam as coisas pelos motivos que desejamos.”

ROSENBERG, Marshall. Criar Filhos Compassivamente: Maternagem e Paternagem na Perspectiva da Comunicação Não Violenta. São Paulo: Palas Athenas, 2020, pág. 16-17.

As limitações da Coerção e da Punição

“(…)Essa foi uma lição de humildade para mim: aprender que, como pai, eu não tinha poder. Por algum motivo eu havia colocado na minha cabeça que cabia ao pai fazer a criança se comportar “bem”. E ali estavam aquelas criancinhas me ensinando esta lição de humildade: que não se pode obrigá -las a fazer as coisas. Eu conseguia apenas fazer com que se arrependessem de não ter feito o que mandei.

E sempre que fui tolo o bastante para fazê-los se arrepender de não me obedecerem, eles me ofereceram uma segunda lição sobre paternagem e poder, que acabou se mostrando muito valiosa ao longo dos anos: faziam com que eu me arrependesse de ter feito aquilo. Violência gera violência.

ROSENBERG, Marshall. Criar Filhos Compassivamente: Maternagem e Paternagem na Perspectiva da Comunicação Não Violenta. São Paulo: Palas Athenas, 2020, pág. 15-16.

Autoridade sobre os filhos

“Segundo a maneira como fui educado a pensar sobre criação de filhos, o trabalho de um pai ou mãe é fazer as crianças se comportarem bem. Veja, na cultura em que fui educado, se você se torna autoridade, professor ou pai, passa a entender que sua responsabilidade é fazer com que pessoas rotuladas como “filho/criança” ou “aluno” se comportem de determinada maneira.”

ROSENBERG, Marshall. Criar Filhos Compassivamente: Maternagem e Paternagem na Perspectiva da Comunicação Não Violenta. São Paulo: Palas Athenas, 2020, pág. 13.

Enxergar a Humanidade

“Meu filho mais velho olhou para mim e disse: “Você quer falar sobre isso?” Muito bem. Naquele momento eu o desumanizei na minha mente. Como? Porque pensei: “Que graça! Vejam só, um menino de nove anos tentando ajudar o pai”. Examine de perto meu pensamento. Veja como desqualifiquei seu oferecimento por causa da sua idade, porque o rotulei como criança. Felizmente, percebi na mesma hora o que estava acontecendo em minha cabeça. Talvez tenha tido mais clareza justamente por causa do trabalho que acabara de fazer com a gangue de rua e a polícia, algo que me mostrou o perigo de pensar nas pessoas em termos de rótulos ao invés de enxergar sua humanidade.

ROSENBERG, Marshall. Criar Filhos Compassivamente: Maternagem e Paternagem na Perspectiva da Comunicação Não Violenta. São Paulo: Palas Athenas, 2020, pág. 12.

Mediação de Conflitos

“Um dia, tive uma experiência que realmente me conscientizou do perigo de pensar nas pessoas como filhos/crianças. Eu tinha passado um final de semana inteiro trabalhando com dois grupos: uma gangue de rua e o departamento de polícia. Meu papel era de mediador entre esses antagonistas. Muita violência vinha sendo trocada entre eles, e me pediram para tentar intermediar uma solução. Depois de passar tanto tempo ali, lidando com a hostilidade mútua entre membros da gangue e policiais, eu estava exausto. Quando as sessões de mediação terminaram, a caminho de casa, dirigindo meu carro, pensei comigo mesmo que nunca mais na minha vida queria estar em meio a um conflito.”

ROSENBERG, Marshall. Criar Filhos Compassivamente: Maternagem e Paternagem na Perspectiva da Comunicação Não Violenta. São Paulo: Palas Athenas, 2020, pág. 11.

O Perigo da Palavra Filho

“Primeiramente, é aconselhável chamar a atenção para o perigo da palavra “filho” – se for usada para sugerir um tipo diferente de respeito, diferente daquele que teríamos por alguém não rotulado como filho ou criança. Explicarei melhor o que quero dizer com isso.”

ROSENBERG, Marshall. Criar Filhos Compassivamente: Maternagem e Paternagem na Perspectiva da Comunicação Não Violenta. São Paulo: Palas Athenas, 2020, pág. 09.

O Todo Além

“(…) tanto o Pai como Filho são aniquilados – como personalidades-máscaras colocadas no inomeado. Pois assim como os produtos irreais de um sonho derivam da energia vital do sonhador, representando apenas fluidas divisões e complexidade de uma única força, assim também todas as formas de todos os mundos, quer terrestres ou divinos, refletem a forma universal de um único mistério inescrutável: a força que constrói o átomo e controla a órbita das estrelas.

Essa fonte de vida constitui o núcleo do indivíduo, e este a encontrará dentro de si mesmo – se puder retirar as camadas que a recobrem.”

Campbell, Joseph. O herói de mil faces. Pensamento, São Paulo, 2007, p. 178.

Pai, Sacerdote Iniciador

“O pai é o sacerdote iniciador por meio do qual o jovem ser faz sua passagem para o mundo mais amplo.

(…)

O mistagogo (pai ou pai substituto) deve entregar os símbolos do ofício tão-somente ao filho que tiver sido efetivamente purgado de todas as catexes infantis impróprias – a um filho que não se veja impossibilitado para o justo e impessoal exercício dos poderes pelos motivos inconscientes (ou, talvez, até mesmo conscientes e racionalizados) do auto-engrandecimento, da preferência pessoal ou do ressentimento. Em termos ideais, o filho investido do ofício afasta-se da sua mera condição humana e representa uma força cósmica impessoal. Ele é aquele que nasceu duas vezes: tornou-se, ele mesmo, o pai.”

Campbell, Joseph. O herói de mil faces. Pensamento, São Paulo, 2007, p. 133.