Estranheza, um momento da filosofia

“Nossa sociedade, que se tornou um depósito de mercadorias. Ela está entupida com coisas de vida curta e propagandas. Ela perdeu toda alteridade, toda estranheza [Fremdheit]. Assim, também não é mais possível nenhum espanto.

A estranheza é, igualmente, um momento da filosofia. Ela inere ao próprio espírito. Assim, o espírito é, segundo sua essência, crítica.”

HAN, Byung-Chul.A expulsão do outro: Sociedade, percepção e comunicação hoje. Ed. Vozes, 2022, Local 969-975.

Linguagem do outro

A verdade da filosofia

“A verdade da filosofia pode, de fato, não ser afetada pela história, respondia Kojève, mas daí não decorre que se possa evitar a história: o objetivo dessa verdade é entrar na história para reformá-la — e assim a tarefa prática do comércio com os detentores do poder, os guardiões que vigiam essa entrada e controlam o tráfego, permanece como parte integrante e vital dos afazeres da filosofia.

A história é a realização da filosofia; a verdade da filosofia encontra seu teste e confirmação últimos em sua aceitação e reconhecimento, tornando-se, nas palavras dos filósofos, a carne da polis.

O reconhecimento é o telos e verificação última da filosofia; e assim o objeto da ação dos filósofos não são apenas os próprios filósofos, seu pensamento, o “fazer interno” do filosofar, mas o mundo enquanto tal, e, por fim, a harmonia entre os dois, ou, antes, o refazer o mundo à imagem da verdade cujos guardiões são os filósofos. “Não ter intercâmbio” com a política não é, portanto, uma resposta; cheira a traição não só ao “mundo que aí está”, mas também à própria filosofia.”

BAUMAN, Zygmunt.Modernidade líquida, Ed. Zahar, Local: 854-863.

Capítulo 1 | Emancipação

A teoria crítica revisitada

A filosofia

“A filosofia”, insiste Strauss, é a busca da “ordem eterna e imutável na qual a história acontece e que permanece inalterada pela história”. O que é eterno e imutável é também universal; embora a aceitação universal dessa ordem eterna e imutável possa ser atingida somente com base no conhecimento genuíno ou na sabedoria — não através da reconciliação ou do acordo entre opiniões.

“O acordo fundado na opinião não pode nunca se tornar um acordo universal. Toda fé que pretende a universalidade, isto é, a aceitação universal, necessariamente provoca uma contra-fé com a mesma pretensão. A difusão entre os não-iniciados do conhecimento genuíno adquirido pelos sábios não serviria para nada, pois pela difusão ou diluição o conhecimento inevitavelmente se transforma em opinião, preconceito ou mera crença.”

BAUMAN, Zygmunt.Modernidade líquida, Ed. Zahar, Local: 842.

Capítulo 1 | Emancipação

A teoria crítica revisitada

Tradição Hermética

“Já no século XVIII. o interesse pelo enciclopedismo, pelas histórias universais e pelas religiões e mitos comparados deu origem a um conglomerado eclético de egipcismo, egiptomania, orfismo, pitagorismo, cabala, paracelsismo, alquimia e rosacrucianismo, sob a designação de hermético. Formou-se, então, uma corrente que denominava hermético todo aquele conjunto de tradições filosóficas e religiosas.”

TRISMEGISTOS, Hermes. Corpus Hermeticum graecum, São Paulo:Ed. Cultrix, 2023, Pág. 26.

Introdução

Em busca de uma definição da filosofia

Visão de mundo de um e povo, de uma civilização ou de uma cultura. 

Nessa definição, a filosofia corresponderia, de modo vago e geral  ao conjunto de ideias, valores e práticas pelos quais uma sociedade apreende e compreende o mundo e a si mesma, definindo para si o tem o e o espaço, o sagrado e o profano, o bom e o mau, o justo e o injusto, o belo e o feio, o verdadeiro e o falso o possível e o  impossível, o contingente e o necessário.

Sabedoria de vida. 

Nessa definição, a filosofia é identificada com a atividade de algumas pessoas que pensam sobre a vida moral, dedicando-se à contemplação do mundo e dos outros seres humanos para aprender e ensinar a controlar seus desejos, sentimentos e impulsos e a dirigir a própria vida de modo ético e sábio. A filosofia seria uma escola de vida ou uma arte do bem-viver; seria uma contemplação do mundo e dos homens para nos conduzir a uma vida justa, sábia e feliz (…)

Fundamentação teórica e crítica dos conhecimentos e das práticas. 

Fundamento é uma palavra que vem do latim e significa “uma base sólida”ou “o alicerce sobre o qual se pode construir com segurança”. Do ponto de vista do conheci­mento, significa a base ou o princípio racional que sustenta uma demonstração verda­deira“. Sob esta perspectiva, fundamentar significa encontrar, definir e estabelecer ra­cionalmente os princípios,as causas e condições que determinam a existência,a forma e os comportamentos de alguma coisa, bem como as leis ou regras de suas mudanças”. 

Teoria vem do grego, no qual significava “contemplar uma verdade com os olhos do espírito, isto é, uma atividade puramente intelectual de conhecimento. Sob esta perspectiva, uma fundamentação teórica significa determinar pelo pensamento, de maneira lógica, metódica, organizada e sistemática o conjunto de princípios, causas e condições de alguma coisa (de sua existência, de seu comportamento, de seu sentido e de suas mudanças)”. 

(…) crítica também é uma palavra grega, que significa a capaci­dade para julgar, discernir e decidir corretamente;o exame racional de todas as coisas sem preconceito e sem pré-julgamentoe a atividade de examinar e avaliar detalhadamente uma ideia, um valor, um costume, um comportamento, uma obra artística ou científica”.

CHAUÍ, Marilena. Convite à Filosofia. 14º Edição. São Paulo: Editora Ática. 2020, pág. 26-27.

Introdução: Para que filosofia?

Em busca de uma definição da filosofia

Aula Magna

A filosofia se realiza como reflexão

“A filosofia torna-se, então, o pen­samento interrogando-se a si mesmo. Por ser uma volta que o pensamento realiza sobre si mesmo, a filosofia se realiza como reflexão ou, seguindo o oráculo de Delfos busca realizar o “Conhece-te a ti mesmo“. 

CHAUÍ, Marilena. Convite à Filosofia. 14º Edição. São Paulo: Editora Ática. 2020, pág. 24.

Introdução: Para que filosofia?

Atitude filosófica: indagar

Aula Magna

Para que filosofia?

“Ora, muitos fazem uma outra pergunta:“Afinal, para que filosofia?”. É uma pergunta interessante. Não vemos nem ouvimos niguém perguntar, por exemplo, Para que matemática ou física?“,Para que geografia ou geologia?”, “Para que história ou sociologia?”, “Para que biologia ou psicologia?”,“Para que astronomia ou química?”, “Para que pintura, literatura, música ou dança?”. Mas todo mundo acha muito natural perguntar Para que filosofia?”. 

Em geral, essa pergunta costuma receber uma resposta irônica, conhecida dos estudan­tes de filosofia: “A filosofia é uma ciência com a qual e sem a qual o mundo permanece tal e qual”.

CHAUÍ, Marilena. Convite à Filosofia. 14º Edição. São Paulo: Editora Ática. 2020, pág. 22.

Introdução: Para que filosofia?

Para que filosofia?

Aula Magna

investigação da filosofia

Material Complementar

“A filosofia inicia sua investigação num momento muito preciso: naquele instante em que abandonamos nossas certezas cotidianas e não dispomos de nada para substituí-las ou para preencher a lacuna deixada por elas.

(…) quando as opiniões estabelecidas disponíveis já não nos podem satisfazer. (…) a filosofia volta-se preferencialmente para os momentos de crise no pensamento (…)”

CHAUÍ, Marilena. Convite à Filosofia. 14º Edição. São Paulo: Editora Ática. 2020, pág. 22.

Introdução: Para que filosofia?

Atitude Crítica

Aula Magna

A filosofia começa com o espanto

Material Complementar

“Para Platão, o discípulo de Sócrates, a filosofia começa com a admiração ou, como escreve seu discípulo Aristóteles, começa com o espanto”…pois os homens começam e começaram sempre a filosofar movidos pelo espanto (…). Aquele que se coloca uma dificuldade e se espanta, reconhece sua própria ignorância. (…) De sorte que, se filosofaram, foi para fugir da ignorância”.

Admiração e espanto significam que reconhecemos nossa ignorância e exatamente por isso podemos superá-la.”

CHAUÍ, Marilena. Convite à Filosofia. 14º Edição. São Paulo: Editora Ática. 2020, pág. 22.

Introdução: Para que filosofia?

Atitude Crítica

Aula Magna

Atitude filosófica

Material Complementar

“A primeira característica da atitude filosófica é a negativa, isto é, um “dizer não” aos “pré-conceitos”, aos “pré-juízos”, aos fatos e às ideias da experiência cotidiana, ao que “todo mundo diz e pensa, ao estabelecido. Numa palavra, é colocar entre parênteses nossas crenças para poder interrogar quais são suas causas e qual é seu sentido.

A segunda característica da atitude filosófica é positiva, isto é, uma interrogação sobre o que são as coisas, as ideias, os fatos, as situações, os comportamentos, os valores, nós mesmos.

“O quê é?”, “Por que é?,Como é?. Essas são as indagações fundamentais da atitude filosófica.

A face negativa e a face positiva da atitude filosófica constituem o que chamamos de atitude crítica.” 

CHAUÍ, Marilena. Convite à Filosofia. 14º Edição. São Paulo: Editora Ática. 2020, pág. 21.

Introdução: Para que filosofia?

Atitude Crítica

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