“A verdade da filosofia pode, de fato, não ser afetada pela história, respondia Kojève, mas daí não decorre que se possa evitar a história: o objetivo dessa verdade é entrar na história para reformá-la — e assim a tarefa prática do comércio com os detentores do poder, os guardiões que vigiam essa entrada e controlam o tráfego, permanece como parte integrante e vital dos afazeres da filosofia.
A história é a realização da filosofia; a verdade da filosofia encontra seu teste e confirmação últimos em sua aceitação e reconhecimento, tornando-se, nas palavras dos filósofos, a carne da polis.
O reconhecimento é o telos e verificação última da filosofia; e assim o objeto da ação dos filósofos não são apenas os próprios filósofos, seu pensamento, o “fazer interno” do filosofar, mas o mundo enquanto tal, e, por fim, a harmonia entre os dois, ou, antes, o refazer o mundo à imagem da verdade cujos guardiões são os filósofos. “Não ter intercâmbio” com a política não é, portanto, uma resposta; cheira a traição não só ao “mundo que aí está”, mas também à própria filosofia.”
BAUMAN, Zygmunt.Modernidade líquida, Ed. Zahar, Local: 854-863.
Capítulo 1 | Emancipação
A teoria crítica revisitada