Coleção dos escritos de Kremmerz

“Esta coleção orgânica dos escritos de Kremmerz foi compilada por um grupo de estudiosos do hermetismo com o objetivo de dar ao leitor uma visão concisa de alguns dos temas fundamentais no vasto e complexo acervo dos ensinamentos kremmerzianos.

(…)os livros ocultistas (ou, como costumam ser chamados hoje, “esotéricos”), que são objeto de crescente interesse, podem ser colocados na categoria da ficção científica ou do que é chamado ficção escapista, ambas amplamente consumidas em nossas modernas sociedades industriais um fato que se dá como consequência da monotonia resultante de uma existência organizada pelo tempo.

(…)

Um indicador notável dessa mudança de atitude com relação às realidades supersensíveis foi o surgimento da parapsicologia, que se propos a observar, registrar e interpretar, usando uma metodologia estritamente científica, diversos fenômenos paranormais (telepatia, telecinese etc.). A parapsicologia, no entanto, aborda a questão de um ponto de vista limitado, na medida em que o pesquisador desse domínio se mantém separado do fenômeno, meramente observando o que é encontrado no prognóstico ou no sujeito sensível que é objeto do experimento e, assim, obtendo apenas um conhecimento indireto ou mediado.

(…)

Há verdades que o pesquisador tem de apreender por si mesmo, treinando, digamos assim, os órgãos necessários para percebê-las; e, em virtude disso, a linguagem que usamos para falar delas deve necessariamente conter coisas simbólicas, analógicas, alusivas. Para dar uma ideia da dificuldade intrínseca de abordar algumas verdades do oculto, seria como tentar explicar as cores para uma pessoa cega de nascença.

(…) do vasto ensinamento kremmerziano, do qual, em seus aspectos doutrinários e práticos, o Centro di Ermetismo Universale Roma (CEUR) é o legítimo guardião.”

KREMMERZ, Giuliano. Introdução à ciência hermética: O caminho iniciático para a magia natural e divina. Editora Pensamento, 2022, Pág.15-20.

Introdução

As sociedades iniciáticas e os mestres

“(…) A Ordem Martinista

(…) Faculdade de Ciências Herméticas.

As sociedades iniciáticas têm como objetivo principal a evolução da natureza humana, para torná-la mais capacitada para receber influências diretamente dos planos superiores. Elas desenvolvem o intelecto mais que qualquer outra coisa, embora não negligenciem a espiritualidade; daí deriva um dos axiomas que ensinam, a iniciação é sempre individual, e uma sociedade esotérica só pode indicar o caminho, permitindo que se evitem as trilhas perigosas.

(..) devo responder a uma objeção levantada por certos simplórios, segundo a qual um verdadeiro mestre não poderia viver em nosso ambiente físico ou social.

Isso se aplica a um mestre com alto nível de egoísmo no plano mental, que não deseja fazer o sacrifício necessário para abandonar o paraíso etéreo que criou e participar do sofrimento e da vida envenenada das criaturas que deseja salvar.

No auge do novo modo da vida ocidental, surgiu um homem, o exemplo sublime de todos os atos não apenas sobre-humanos, mas também divinos, ele era o Cristo. O sofrimento mais terrível que Deus-Salvador teve de suportar não foram os tormentos humanos da paixão e da cruz, mas a completa descida à matéria, a limitação do princípio totalmente estendido, a constante submissão do princípio espiritual às exigências da carne, começando com a necessária mesclado estado embrionário e da perda de contato com o plano divino, até o reencontro com o Pai, que depois se manteve por três anos na terra. Isso é sofrimento absoluto, que nenhum faquir ou pessoa evoluida poderia suportar, não importa a que plano pertença.

(…)

(traduzido exotericamente como “nascidos duas vezes”, mas cuja verdadeira tradução é viver em dois planos ao mesmo tempo).”

PAPUS.Tratado elementar de ciências ocultas, Ed. Pensamento, 2022, Pág.271-274.

Capítulo 11

A unidade

“O Universo, concebido como um todo animado, é composto de três princípios: Natureza, Homem e Deus, ou, na linguagem hermética, Macrocosmo, Microcosmo e Arquétipo.

O homem é chamado de microcosmo, ou mundo pequeno, porque contém
analogicamente as leis que regulam o Universo.

A natureza constitui o fulcro e o centro para a manifestação geral dos outros principios.

O homem, afetando a natureza por intermédio da ação e outros homens por intermédio do verbo, sobe para Deus por intermédio da prece e do êxtase, constituindo o vínculo entre criação e criador.

Deus, que oculta suas ações providenciais em domínios onde outros princípios atuam livremente, controla o Universo, do qual reconduz todos os elementos para a unidade de direção e ação.

Deus se manifesta no Universo por meio de ações da Providência enviadas para iluminar o homem em sua evolução; mas não pode, dinamicamente, se opor a nenhuma das outras duas forças primordiais.

O homem se manifesta no Universo por meio da ação da vontade, que lhe permite lutar contra o Destino e torná-lo servo de seus desígnios. Na aplicação de sua volição ao mundo exterior, ele tem completa liberdade para invocar a luz da Providência ou rejeitar seus efeitos.

A natureza se manifesta no Universo por meio da ação do destino, que perpetua, de maneira imutável e em ordem estritamente determinada, os tipos fundamentais que constituem a base para sua ação.

Fenômenos são do domínio da natureza; leis são do domínio do homem; principios são do domínio de Deus.

Deus só cria princípios. A natureza desenvolve os princípios criados a fim de
fazer fenômenos; e o homem, pelo uso sua vontade faz das faculdades que
que possui, estabelece as relações que unem os fenômenos aos princípios e transforma e aperfeiçoa esses fenômenos graças à criação de leis.

Mas um fenômeno, por simples que seja, não passa da tradução, pela natureza, de um princípio emanado de Deus; e o homem pode sempre restaurar o vínculo que relaciona o fenômeno visível ao princípio invisível recorrendo a uma lei (a base para o método analógico).

(…)

Um navio é lançado no imenso oceano e navega rumo ao objetivo que lhe foi de signado como termo de viagem.

Tudo que o navio contém vai sendo conduzido para lá.

No entanto, cada um de nós é livre para organizar sua cabine do modo que lhe convém. Cada um de nós é livre para subir ao convés e contemplar o infinito ou descer ao porão. O avanço ocorre todos os dias para tudo o que está no navio; mas cada pessoa é livre para agir como quiser no círculo de ação a ela prescrito.

Todas as classes sociais estão a bordo, do imigrante mais pobre, que passa as noites no saco de dormir, ao norte-americano rico, que ocupa uma cabine luxuosa.

E a velocidade é a mesma para todos: o rico e o pobre, o alto e o baixo chegarão ao fim da jornada no mesmo momento.

Uma máquina indiferente funciona de acordo com leis rigorosas, que movem o sistema inteiro.

Uma força cega (vapor), gerada por um fator especial (calor) e canalizada pelos tubos de metal e órgãos do navio, anima a máquina toda.

Uma vontade, que controla tanto a máquina orgânica quanto os passageiros, governa tudo: o capitão.

Alheio às ações dos passageiros, o capitão, de olhos fixos no objetivo a ser atingido e mãos presas ao leme, move o imenso organismo em direção ao termo da viagem, dando ordens a um exército de inteligências que lhe obedecem.

O capitão não comanda diretamente a hélice que propele o navio; só tem controle sobre o leme.

Assim, o Universo pode ser comparado a um imenso navio, com aquele que chamamos Deus manobrando o leme; a natureza é a máquina, resumida pela hélice, que faz cegamente o sistema inteiro trabalhar de acordo com regras estritas; e os humanos são os passageiros.

Há progresso geral para o sistema todo, mas cada humano é absolutamente livre dentro de seu próprio círculo de destino.”

PAPUS.Tratado elementar de ciências ocultas, Ed. Pensamento, 2022, Pág.231-232.

Capítulo 9

Redução teosófica e Adição teosófica

1) A redução teosófica consiste em reduzir todos os números compostos de dois ou mais dígitos a números de um único dígito, ao somar os dígitos que o compõem até que reste apenas um dígito.

Assim:

10=1+0=1

11=1+1=2

12=1+2=3

e, para números mais complexos, por exemplo 3,221 = 3+2+2+1= 8 ou 666 = 6+6+6 = 18, como 18 = 1 + 8 = 9, o número 666 é igual a 9.

(…) todos os números, não importa quais sejam, são representações dos nove primeiros digitos.

No entanto, esses quatro primeiros digitos são apenas diferentes estados da Unidade. Todos os números, não importa quais sejam, são meras manifestações diferentes da Unidade.

2) Adição teosófica

Essa operação, empregada para entender o valor teosófico de um número, consiste em adicionar aritmeticamente todos os números da unidade até esse número.

-Assim, na adição teosófica, o número 4 é igual a 1+2+3+4= 10.

-O número 7 é igual a 1+2+3+4+5+6+7=28.

-28 é imediatamente redutível a 2 + 8 = 10.

Essas duas operações, a redução e a adição teosófica, não são difíceis de entender. E é indispensável conhecê-las para compreender os escritos herméticos: segundo os grandes mestres, elas representam a ordem seguida pela natureza em suas criações.”

(…)

“Um e 2 dão origem a 3, e, desses três números, surgem todos os outros até 9, segundo os mesmos princípios. Começando de 9, todos os números, não importa quais sejam, são reduzidos, pela redução teosófica, a números de um único digito.”

PAPUS.Tratado elementar de ciências ocultas, Ed. Pensamento, 2022, Pág. 50-53.

Capítulo 2

A enorme riqueza do hermetismo

“De nossa parte, podemos apenas evocar a enorme riqueza do hermetismo graças ao trabalho de Marsílio Ficino. A partir do século XVI, muitos autores tomaram o Corpus Hermeticum como ponto de partida para seus textos, e o hermetismo se tornou uma das principais correntes do esoterismo ocidental, ao lado da cabala cristă, da teosofia, da astrologia e da alquimia. Inevitavelmente, foi associado ao tarô, com a ressalva de que essa associação também data da literatura ocultista do século XIX.”

NADOLNY, Isabelle. História do TarôUm estudo completo sobre suas origens, iconografia e simbolismo. Ed. Pensamento, 2022, pág. 142.

Alquimia, hermetismo e tarô

“A Idade Média tinha um grande interesse por alquimia, mas a era de ouro dessa ciência ocorreu um pouco mais tarde, nos séculos XVI e XVII. Tudo começou em 1144, quando Robert of Chester traduziu do árabe para o latim o Liber de compositione alchemiae [Livro da Composição Alquímica), atribuído a Morienus, eremita cristão do século VII, originário de Alexandria. 127 Entre 1140 e 1150. Hugo de Santalla traduziu o Livre des secrets de la Création [Livro dos Segredos da Criação), atribuído a Apolônio de Tiana e que contém a célebre Tábua de Esmeralda. 128 O termo “alquimia”, surgido em francês por volta de 1275, vem do árabe al-kimiya, que pode ter duas raízes: o copta chame, que significa “preto”, ou o grego khêmia, que significa “magia negra”. Outra possibilidade, também do grego, seria o termo khumeia, “mistura”. A história da alquimia é complexa, e é difícil identificar os tratados sobre a matéria e seus autores. Podemos citar Michael Scot (cerca de 1175-cerca de 1235), autor de três tratados; Roger Bacon (cerca de 1220-1292), que escreveu trinta; Alberto Magno (cerca de 1200-1280), autor de aproximadamente trinta títulos; Santo Tomás de Aquino (1225-1274), seis tratados; Arnaud de Villeneuve (cerca de 1240-1311), por volta de 57 títulos: e Raymond Lulle (cerca de 1235-1316), perto de oitenta.

Não se encontram outras representações diretas, salvo se considerarmos que a Temperança significa transmutação, e a Roda da Fortuna, os ciclos evolutivos da materia.

As duas letras “SM”, presentes no Carro e que alguns autores evocam como se significassem soufre mercure [enxofre mercúrio], datam da criação do tarô de Paul Marteau, ou seja, de 1930. Sabemos que as letras presentes no brasão do Carro costumavam ser as iniciais do gravador do jogo. A Lua e o Sol estão presentes em todos os grimórios de alquimia, que ilustram a união dos princípios macho e fêmea, as núpcias místicas do céu e da terra. Esses dois astros são encontrados no tarô, mas é difícil ver neles um vínculo de causa e efeito. Mais uma vez, podemos fazer apenas comparações em função de interpretações pessoais. Certo é que os tratados antigos de alquimia não falavam do tarô. Foram os ocultistas do século XIX a insistir em seu parentesco, a começar por Papus, sem que se possa confirmar esse fato do ponto de vista histórico.

Nos séculos II e III de nossa era, na região de Alexandria, foram escritos em grego cerca de 15 tratados, mais tarde reunidos sob o título geral de Corpus Hermeticum. Eles próprios representam apenas uma parte de uma massa mais importante de textos, poste riormente designados com o nome de Hermetica, pois foram atribuídos ao lendário Hermes Trismegisto. Com exceção de Asclepius, texto cujo original em grego se perdeu desde a Antiguidade e que sobreviveu apenas em latim, todos os tratados do Corpus Hermeticum foram ignorados pela Idade Média e redescobertos somente no Renascimento. Portanto, pode-se assinalar de passagem que os alquimistas medievais também o ignoravam, embora a tradição medieval visse em Hermes o fundador da alquimia.

Foi o famoso Marsílio Ficino quem, nos anos 1460, recebeu de Cosme de Médici a encomenda para traduzir esse Corpus Hermeticum.”

NADOLNY, Isabelle. História do TarôUm estudo completo sobre suas origens, iconografia e simbolismo. Ed. Pensamento, 2022, pág. 140-141.

O inventor do Tarô de Marselha

“Marsílio Ficino, outro grande literato do Renascimento do qual voltaremos a tratar com o hermetismo. Ele tem de ser evocado, pois costuma ser citado atualmente como o autor do tarô. Como nasceu em 1433, não poderia ter concebido o jogo de 22 trunfos e 56 cartas que surgiu pela primeira vez em 1440. No entanto, segundo alguns ensaístas, ele teria sido o inventor do Tarô de Marselha. Portanto, teria se inspirado no tarô italiano, que não foi criado por ele. Por outro lado, teria incorporado a ele gravuras diferentes, impregnadas de hermetismo e neoplatonismo, ou seja, as figuras do Tarô de Marselha. Veremos em alguns instantes que esse tarô, com as figuras que conhecemos e os nomes das cartas inscritos em francês, surgiu cerca de trezentos anos mais tarde. Fazer de Marsílio Ficino seu criador é um tanto arriscado…

(…)

O que nos leva a nos perguntarmos quem foi o criador das imagens que aparecem precisamente no Tarô de Marselha. Talvez um gravador de moldes de cartas. Quem desenhou ο molde? Não se sabe. Tudo o que se pode dizer é que muito provavelmente foi um francês que vivia sob o reinado de Luís XIV, pois os mais antigos tarôs comprovados com base no modelo do chamado Tarô de Marselha são baralhos franceses desse período.”

NADOLNY, Isabelle. História do TarôUm estudo completo sobre suas origens, iconografia e simbolismo. Ed. Pensamento, 2022, pág. 91.

Análise redacional

“Percebe-se que o procedimento de análise redacional de um tratado hermético não difere daqueles de uma análise redacional dos textos bíblicos, apócrifos ou clássicos.”

TRISMEGISTOS, Hermes. Corpus Hermeticum graecum, São Paulo:Ed. Cultrix, 2023, Pág. 84.

Parte I- Ensaios: Aproximações e enfoques.

Capítulo 6- Aspectos Literários do Corpus Hermeticum.

Sociedade hermética

“(…)ao afirmar-se hermética, uma determinada sociedade estava assumindo os elementos traditivos e a antiguidade do próprio Egito, mesmo que ela não fosse nem antiga nem totalmente egípcia. Por essa razão, é muito comum, ao falar de hermetismo, entender essa palavra com a acepção de ocultismo, segredo, secreto, esotérico, velado, fechado, maçônico, teosófico, e daquilo que é confuso aos olhos dos profanos e/ou dos não iniciados.”

TRISMEGISTOS, Hermes. Corpus Hermeticum graecum, São Paulo:Ed. Cultrix, 2023, Pág. 26.

Introdução