Compensação do que na vida minguou

“Resta então apenas procurar no mundo da ficção, na literatura, no teatro, a compensação do que na vida minguou. Aí encontramos homens que sabem morrer, mais ainda, que conseguem também matar os outros. Só aí se realiza também a condição sob a qual poderiamos reconciliar-nos com a morte, a saber, a de que por trás de todas as vicissitudes da vida nos ficou ainda uma vida intangível. É demasiado triste que na vida venha a suceder como no xadrez, onde uma falsa jogada nos pode forçar a dar por perdida a partida, mas com a diferença de que já não podemos começar uma segunda partida de desforra. No campo da ficção, deparamos com a pluralidade de vidas de que necessitamos. Morremos na identificação com um herói, mas sobrevivemos-lhe e estamos dispostos a morrer outra vez, igualmente indemnes, com outro herói.”

FREUD, Sigmund. Porquê a Guerra? – Reflexões sobre o destino do mundo, Ed. Edições 70, 2019, pág.41.

Considerações atuais sobre a guerra e a morte (1915)
“A nossa atitude diante da morte”

Lição de Vida Renovada

“O herói morreu como homem moderno; mas, como homem eterno aperfeiçoado, não específico e universal-, renasceu. Sua segunda e solene tarefa e façanha é, por conseguinte (como o declara Toynbee e como o indicam todas as mitologias da humanidade), retornar ao nosso meio, transfigurado, e ensinar a lição de vida renovada que aprendeu.”

Campbell, Joseph. O herói de mil faces. Pensamento, São Paulo, 2007, p. 28.

Imagens Arquetípicas

“Numa palavra: a primeira tarefa do herói consiste em retirar-se da cena mundana dos efeitos secundários e iniciar uma jornada pelas regiões causais da psique, onde residem efetivamente as dificuldades, para torná-las claras, erradicá-las em favor de si mesmo (isto é, combater os demônios infantis de sua cultura local) e penetrar no domínio da experiência e da assimilação, diretas e sem distorções, daquilo que C. G. Jung denominou “imagens arquetípicas”. Esse é o processo conhecido na filosofia hindu e budista com viveka, “discriminação” [entre o verdadeiro e o falso].

Campbell, Joseph. O herói de mil faces. Pensamento, São Paulo, 2007, p. 27.

Ligação Energética

– Este é um infortunado filho de nossa veneranda amiga, há muitos anos distanciado da experiência física. Teve a infelicidade de chafurdar no vicio da embriaguez e foi assassinado numa noite de extravagância. A genitora, porém, dele se recorda, como a um herói, e, a evocá-lo incessantemente, retém o infeliz ao pé do próprio leito.”

Xavier, Francisco Cândido / André Luiz. Nos Domínios da Mediunidade. Federação Espírita Brasileira, Brasília, 1955, Capítulo 20.

O Desafio da transformação interna

“– No entanto – comentei –, e se os nossos irmãos encarnados, visivelmente confiados à devassidão, resolvessem reconsiderar o próprio caminho?… se voltassem à regularidade, através da renovação mental com alicerces no bem?…

– Ah! isso seria ganhar tempo, recuperando a si mesmos e amparando com segurança os amigos desencarnados… Usando a alavanca da vontade, atingimos a realização de verdadeiros milagres… Entretanto, para isso, precisariam despender esforço heroico.”

Xavier, Francisco Cândido / André Luiz. Nos Domínios da Mediunidade. Federação Espírita Brasileira, Brasília, 1955, pp. 135-143.

Mito x Realidade

“Se as façanhas de uma figura histórica real proclamam-no herói, os construtores de sua lenda inventarão para ela aventuras apropriadas nas profundezas. Estas serão apresentadas como jornadas a reinos miraculosos e deverão ser interpretados como símbolos, de um lado, de descidas no mar de escuridão da psique e, de outro, de domínios ou aspectos do destino do homem que se tornaram manifestos na vida dessas figuras.”

Campbell, Joseph. O herói de mil faces. Pensamento, São Paulo, 2007, p. 312.

Transitoriedade das Formas

“Tendo morrido para o seu ego pessoal, eis que nascera outra vez, estabelecido no Eu.

O herói é o patrono das coisas que estão se tornando, e não das coisas que se tornaram, pois ele é. “Antes de Abraão existir, EU SOU”. Ele não confunde a aparente imutabilidade no tempo com a permanência do Ser (…) “Nada retém sua própria forma; a Natureza, a maior renovadora, constantemente cria formas de formas. Certamente nada há que pereça em todo universo; há apenas variação e renovação de forma.”

Campbell, Joseph. O herói de mil faces. Pensamento, São Paulo, 2007, p. 236.

Mitos ou Histórias Reais?

“(…) pois estaremos voltados neste momento, para problemas de simbolismo, e não de historicidade. Não nos importa muito se Rip Van Winkle, Kamar al-Zaman ou Jesus Cristo realmente existiram. Suas histórias constituem nosso objeto: e se essas histórias se acham tão amplamente difundidas pelo mundo – vinculadas a vários heróis de várias terras – Que a questão de saber se esse ou aquele portador local do tema universal pode ou não ter sido homem real, histórico, é secundária. A ênfase no elemento histórico provocará confusão; apenas servirá para obscurecer a mensagem que o quadro revela.

Campbell, Joseph. O herói de mil faces. Pensamento, São Paulo, 2007, p.  226.

Amor Entre Almas e a Contemplação de Sua Transcendência

“O encontro a separação, apesar de todo o exagero que aqui os envolve, são típicos dos sofrimentos do amor. Pois quando um coração insiste em seguir o seu destino, resistindo as recomendações generalizadas para que se abrande, a agonia é grande, assim como o é o perigo. Todavia, terão sido postas em movimento forças que estão além da capacidade de reconhecimento dos sentidos. Sequências de eventos dos quatro cantos do mundo gradualmente se reúnem, e milagres de coincidência levam a cabo o inevitável. O anel talismânico resultante do encontro da alma com a sua metade, no local da reunião, representa o fato de o coração estar consciente daquilo que escapou a Rip Van Winkle; representa, igualmente, uma convicção da mente vígil de que a realidade do profundo não é desmentida pelo cotidiano. Trata-se de um indício da necessidade do herói de reunir seus dois mundos.”

Campbell, Joseph. O herói de mil faces. Pensamento, São Paulo, 2007, pp. 224-225.

Círculo Como Totalidade e Queda do Paraíso

“A correspondência de um ano no Paraíso com cem anos na existência terrena é um motivo mitológico bem conhecido. A duração de cem anos significa a totalidade. Os trezentos e sessenta graus da circunferência tem o mesmo significado; razão por que os Puranas hindus representam um ano dos deuses como equivalente a trezentos e sessenta anos dos homens. Do ponto de vista dos olímpicos, era após era da história terrestre transcorre, de modo que, onde os homens veem apenas a mudança e a morte, os bem-aventurados contemplam a forma imutável, o mundo sem fim. Mas o problema reside em manter esse ponto de vista diante de uma dor ou prazer terrenos imediatos. O sabor dos frutos do conhecimento temporal afasta concentração do espírito do centro da era para a crise periférica do momento. O equilíbrio da perfeição é perdido, o espírito fraqueja e o herói cai.”

Campbell, Joseph. O herói de mil faces. Pensamento, São Paulo, 2007, pp. 218-219.