Resgate de Débitos

“– Hilário, a vida nunca se engana. É provável que alguém apareça por aqui e se extasie à frente do objeto, disputando-lhe a posse.

– Quem?

– O moço que empenhou a palavra, provocando a fixação mental dessa pobre criatura, ou a mulher que o afastou dos compromissos assumidos. Reencarnados, hoje ou amanhã, possivelmente um dia virão até aqui, tomando-a por filha ou companheira, no resgate do débito contraído.

Xavier, Francisco Cândido / André Luiz. Nos Domínios da Mediunidade. Federação Espírita Brasileira, Brasília, 1955, Capítulo 26.

A Necessidade da Intervenção

– (…) É certo que nos cabe o dever de honrar a consciência livre, capaz de decidir por si mesma nos variados problemas da luta evolutiva, entretanto, à frente do irmão irresponsável e enfermo, a nossa colaboração significa amizade fiel, ainda que essa colaboração expresse doloroso processo de reequilíbrio em seu favor.

– (…) Intimamente justaposta ao campo celular, a alma é a feliz prisioneira do equipamento físico, no qual influencia o mundo atômico e é por ele influenciada, sofrendo os atritos que lhe objetivam a recuperação.”

Xavier, Francisco Cândido / André Luiz. Nos Domínios da Mediunidade. Federação Espírita Brasileira, Brasília, 1955, Capítulo 25.

Missões de Amor ao Desequilíbrio

“(…) A mente é o soldado em luta. Ganhando denodadamente o combate em que se empenhou, tão logo seja conduzida às aferições da morte sobe verticalmente para a vanguarda, na direção da Esfera Superior, expressando-se-lhe o triunfo por elevação de nível. Entretanto, se fracassa, e semelhante perda é quase sempre a resultante da incúria ou da rebeldia, volta horizontalmente, nos acertos da morte, para a retaguarda, onde se confunde com os desajustados de toda espécie, para indeterminado período de tratamento.

(…)

– Decerto, as legiões vitoriosas não se esquecem dos que permaneceram no desequilíbrio e daí vemos as missões de amor e renúncia, funcionando diligentes onde estacionam a desarmonia e a dor.”

Xavier, Francisco Cândido / André Luiz. Nos Domínios da Mediunidade. Federação Espírita Brasileira, Brasília, 1955, Capítulo 25.

Companhias Passadas

– É um pobre irmão em luta expiatória e na realidade mal atravessou a casa dos trinta anos, na presente romagem terrestre. Desde a infância, sofre o contacto indireto de companhias inferiores que aliciou no passado, pelo seu comportamento infeliz. E quando experimenta a vizinhança desses amigos transviados, ainda em nosso plano, com os quais conviveu largamente, antes do regresso à carne, reflete-lhes a influência nociva, entregando-se a perturbações histéricas, que lhe sufocam a alegria de viver. Tem sido aflitivo problema para o templo doméstico em que renasceu. Desde a meninice, vive de médico a médico.

(…)

Parece um velho, quando poderia mostrar-se em pleno vigor juvenil.

Xavier, Francisco Cândido / André Luiz. Nos Domínios da Mediunidade. Federação Espírita Brasileira, Brasília, 1955, Capítulo 24.

Presença de Entidades Desagradáveis

“Junto de nós, o cavalheiro que se mantinha entre os enfermos caiu em estremeções coreiformes.

Não fosse a poltrona em que se apoiava e ter-se-ia arrojado ao chão.

Desferia gemidos angustiados e roucos, como se um guante invisível lhe constringisse a garganta.

Não longe, duas entidades de presença desagradável reparavam-lhe os movimentos, sem contudo interferir magneticamente, de maneira visível, na agitação nervosa de que ele se fazia portador.

(…)

Xavier, Francisco Cândido / André Luiz. Nos Domínios da Mediunidade. Federação Espírita Brasileira, Brasília, 1955, Capítulo 24.

Fascínio Telepático

“Companheiros de nossa esfera retiraram o Espírito obsidente, encaminhando-o a certa organização socorrista.

Ainda assim, a doente gritava, afirmando estar à frente de medonho estrangulador em vias de sufocá-la.

Aplicando-lhe passes de reconforto, Áulus esclareceu:

Agora é apenas o fenômeno alucinatório, natural em processos de fascinação como este. Perseguidor e perseguida jazem na mais estreita ligação telepática, agindo e reagindo mentalmente um sobre o outro.

Gradativamente, a enferma acalmou-se.”

Xavier, Francisco Cândido / André Luiz. Nos Domínios da Mediunidade. Federação Espírita Brasileira, Brasília, 1955, Capítulo 23.

O Poder do Verbo

“– Todavia, para colaborar em favor desses irmãos em desespero, será suficiente o concurso verbalista?

Não lhes estendemos simplesmente palavras, mas acima de tudo o nosso sentimento. Toda frase articulada com amor é uma projeção de nós mesmos. Portanto, se é incontestável a nossa impossibilidade de oferecer-lhes a libertação prematura, estamos doando, em favor deles, a nossa boa-vontade, através do verbo nascido de nossos corações, igualmente necessitados de plena redenção com o Cristo.

(…)

– Analisando o pretérito, ao qual todos nos ligamos, através de lembranças amargas, somos enfermos em assistência recíproca. Não seria lícito guardarmos a pretensão de lavrar sentenças definitivas pró ou contra ninguém, porque, na posição em que ainda nos achamos, todos possuímos contas maiores ou menores por liquidar.”

Xavier, Francisco Cândido / André Luiz. Nos Domínios da Mediunidade. Federação Espírita Brasileira, Brasília, 1955, Capítulo 23.

Mágoas

“Tornamos à segunda reunião semanal do grupo presidido pelo irmão Raul Silva, a cuja organização nosso orientador não regateava simpatia e confiança.

(…)

– Esperar, esperar? há quanto tempo não faço outra coisa! Em vão procuro reaver a alegria… Por mais me dedique ao trabalho de  romper com o pretérito, vivo a carregar a sombra de minhas recordações, como quem traz no próprio peito o sepulcro dos sonhos mortos… Tudo por causa dele… Tudo pelo malvado que me arruinou o destino…

(…)

– Não vejo a entidade de quem a nossa irmã se faz intérprete – alegou Hilário, curioso.”

Xavier, Francisco Cândido / André Luiz. Nos Domínios da Mediunidade. Federação Espírita Brasileira, Brasília, 1955, Capítulo 22.

Percepção Mental

“Dezenas de quilômetros foram instantaneamente vencidos.

(…)

– Matilde! Matilde!…

A recém-chegada tentou despertá-la, à pressa, mas em vão. Consciente de que não dispunha senão de rápidos instantes, vibrou algumas pancadas no leito da irmã, que acordou de chofre, entrando, de imediato, em sua esfera de influência.

Dona Elisa passou a falar-lhe, atormentada. Dona Matilde, contudo, não lhe escutava as palavras pelos condutos auditivos do vaso carnal e sim pelo cérebro, através de ondas mentais, em forma de pensamentos a lhe remoinharem ao redor da cabeça.

Reerguendo-se, inquieta, falou de si para consigo: – “Elisa morreu”.

Xavier, Francisco Cândido / André Luiz. Nos Domínios da Mediunidade. Federação Espírita Brasileira, Brasília, 1955, Capítulo 21.

Memórias no Desencarne

“Dona Elisa, embora vendo e ouvindo, não mais logrou articular uma frase. “Buscou inutilmente mover os braços, ante a dor aguda que passou a registrar no peito, todavia, não teve forças para tanto.

Áulus deu-se pressa em administrar-lhe passes calmantes, contudo, não obteve grande resultado.

(…)

Teve a noção de que lhe cabia fazer a viagem do túmulo… Como se um relâmpago lhe rasgasse a noite mental, num desses raros minutos que valem séculos para a alma, reviu apressadamente o passado. Todas as cenas da infância, da mocidade e da madureza reapareceram de inesperado no templo da memória, como que a convidá-la a escrupuloso exame de consciência.”

Xavier, Francisco Cândido / André Luiz. Nos Domínios da Mediunidade. Federação Espírita Brasileira, Brasília, 1955, Capítulo 21.