“No excesso de abertura e de ilimitado que dominam o presente, perdemos a capacidade de conclusão. Com isso, a vida se torna meramente aditiva. A morte pressupõe que a vida seja expressamente encerrada.
Mesmo a percepção hoje é incapaz de conclusão ou inferência, pois se apressa de uma sensação à outra. Apenas a permanência contemplativa é capaz de concluir, de inferir. Fechar os olhos é um emblema da conclusão contemplativa. As imagens e informações que se aglomeram fazem com que seja impossível fechar dos olhos.
O imperativo neoliberal da otimização e do desempenho não permite o encerramento. Torna tudo provisório e incompleto.
(…)
A incapacidade de conclusão também tem muito a ver com o narcisismo. O sujeito narcísico vivência a si mesmo de maneira mais intensa não no feito ou no trabalho terminado, mas na prestação constante de novos trabalhos a serem desempenhados.
“O aumento constante de expectativas, de modo que o comportamento respectivo nunca é vivido como satisfatório, corresponde à incapacidade de levar o que quer que seja a cabo. A sensação de ter alcançado uma meta é evitada, pois com isso a própria vivência se objetivaria, ela assumiria uma figura, uma forma, e, com isso, existiria independente do self. […] A continuidade do self, o caráter inacabado e a incompletude de seus impulsos são um traço essencial do narcisismo”.
HAN, Byung-Chul.O desaparecimento dos rituais: Uma topologia do presente. Ed. Vozes, 2021, Local 393-410.
Rituais da Conclusão