O elo é a política

“Strauss e Kojève concordavam que o elo entre os valores universais e a realidade da vida social historicamente constituída é a política; escrevendo de dentro da modernidade pesada, tinham como ponto pacífico que a política se imbrica nas ações do Estado. E assim se seguia sem maiores discussões que o problema diante dos filósofos era o de uma simples escolha entre “pegar ou largar”: seja utilizando esse elo, a despeito de todos os riscos que uma tentativa de utilizá-lo deve necessariamente envolver, seja (em nome da pureza de pensamento) mantendo-se longe dele e cuidando da distância em relação ao poder e seus detentores. A escolha se dava, em outras palavras, entre a verdade fadada à impotência e a potência fadada a ser infiel à verdade.”

BAUMAN, Zygmunt.Modernidade líquida, Ed. Zahar, Local: 885.

Capítulo 1 | Emancipação

A teoria crítica revisitada

A verdade da filosofia

“A verdade da filosofia pode, de fato, não ser afetada pela história, respondia Kojève, mas daí não decorre que se possa evitar a história: o objetivo dessa verdade é entrar na história para reformá-la — e assim a tarefa prática do comércio com os detentores do poder, os guardiões que vigiam essa entrada e controlam o tráfego, permanece como parte integrante e vital dos afazeres da filosofia.

A história é a realização da filosofia; a verdade da filosofia encontra seu teste e confirmação últimos em sua aceitação e reconhecimento, tornando-se, nas palavras dos filósofos, a carne da polis.

O reconhecimento é o telos e verificação última da filosofia; e assim o objeto da ação dos filósofos não são apenas os próprios filósofos, seu pensamento, o “fazer interno” do filosofar, mas o mundo enquanto tal, e, por fim, a harmonia entre os dois, ou, antes, o refazer o mundo à imagem da verdade cujos guardiões são os filósofos. “Não ter intercâmbio” com a política não é, portanto, uma resposta; cheira a traição não só ao “mundo que aí está”, mas também à própria filosofia.”

BAUMAN, Zygmunt.Modernidade líquida, Ed. Zahar, Local: 854-863.

Capítulo 1 | Emancipação

A teoria crítica revisitada

Ele é todas as coisas

“(…) mas explico a verdade: ele é todas as coisas, não as tomando em acréscimo de fora, mas as distribuindo para fora, e isto é a sensação e a intelecção de Deus: o sempre mover todas as coisas; e não haverá nunca tempo quando algum dos seres será abandonado; porém, quando eu disser dos seres, digo de Deus; pois Deus tem os seres, nem nada existe fora dele nem ele existe fora de nenhum.”

TRISMEGISTOS, Hermes. Corpus Hermeticum graecum, São Paulo:Ed. Cultrix, 2023, Pág. 179.

Parte II- Corpus Hermeticum Graecum.

Lilellus IX

O Todo, o que ele é?

“(…) falemos do espaço no qual o Todo é movido, o que ele é?

-É incorpóreo, ó Asclepio. – Então, o incorpóreo, o que é? Todo nous do todo, incluindo a si mesmo, livre de todo corpo, imóvel, impassível, intangível, ele que tendo fixado a si mesmo, capaz de todas as cosas e preservador dos seres, de quem o bem, a verdade, o arquétipo do pneuma, o arquétipo da alma são como raios.”

TRISMEGISTOS, Hermes. Corpus Hermeticum graecum, São Paulo:Ed. Cultrix, 2023, Pág. 137.

Parte II- Corpus Hermeticum Graecum.

Lilellus II

A pergunta “O que é?

“A pergunta O que é?” era o questionamento sobre a realidade essencial e profunda de uma coisa para além das aparências e contra as aparências. Com essa pergunta, Sócrates levava os atenienses a descobrir a diferença entre parecer e ser,entre mera crença ou opinião e verdade. 

Sócrates era filho de uma parteira. Ele dizia que sua mãe ajudava o nascimento dos corpos e que ele também era um parteiro, mas não de corpos e sim de almas. Assim como sua mãe lidava com a matrix corporal, ele lidava com a matrix mental, auxiliando as mentes a libertar-se das aparências e buscar a verdade.

CHAUÍ, Marilena. Convite à Filosofia. 14º Edição. São Paulo: Editora Ática. 2020, pág. 13.

Introdução: Para que filosofia?

Neo e Sócrates

Aula Magna

Verdade que torna os homens livres

“Como o escritor norte-americano Herbert Sebastian Agar dizia (em A Time for Greatness, 1942), “a verdade que torna os homens livres é, na maioria dos casos, a verdade que os homens preferem não ouvir”.

BAUMAN, Zygmunt.Modernidade líquida, Ed. Zahar, Local: 354.

Capítulo 1 | Emancipação

As bençãos mistas da liberdade

Princípios

“Era com esses princípios que o piedoso pai formava seus novos filhos, não só com palavras e doutrina, mas de verdade e com o exemplo.”

Frei Tomás de Celano. Primeira Vida: Vida de São Francisco de Assis Escrita em 1228 D.C, Ed. Família Católica,2018, Local: 663.

PRIMEIRO LIVRO

Capítulo 15- Fama de São Francisco

Expressão do amor de Deus

“Verdade é que o amor de Deus, que redunda na alma, segundo entendo, lhe dá um gozo tão grande que não se pode expressar; mas este contentamento, ao menos às almas que estão no purgatório, no lhes retira sua porção de pena. E é aquele amor, que está como retardado, o que causa essa pena; uma pena que é tanto mais cruel quanto é mais perfeito o amor de que Deus a faz capaz. Assim pois, gozam as almas do purgatório de um contento grandíssimo, e sofrem ao mesmo tempo uma grandíssima pena; e uma coisa não impede a outra.”

Santa Catarina de Gênova. Tratado do Purgatório, Ed. Santa Cruz, 2019, Local: 538

Capítulo I – Tratado do Purgatório

Ao mesmo tempo, grande gozo e grande dor

Pobreza em olhar e voz

“O mundo de hoje é muito pobre em olhar e voz. Não somos olhados nem interpelados por ele. Ele perde sua alteridade. A tela digital que determina nossa experiência do mundo nos protege da realidade. O mundo é desrealizado, descoisificado e descorporificado. O fortalecimento do ego não é mais tocado pelo outro. Ele se reflete na parte de trás das coisas.

O desaparecimento do outro é na verdade um evento dramático. Mas isso acontece de forma tão imperceptível que nem mesmo estamos propriamente cientes disso. O outro como mistério, o outro como olhar, o outro como voz desaparece. O outro, roubado de sua alteridade, naufraga em um objeto disponível e consumível. O desaparecimento do outro também afeta o mundo das coisas. As coisas perdem seu peso próprio, sua vida própria e sua vontade própria.

Se o mundo consiste apenas em objetos disponíveis e consumíveis, não podemos entrar em uma relação com ele. Também não é possível entrar em uma relação com a informação.”

HAN, Byung-Chul. Não coisas: Reviravoltas do mundo da vida. Ed. Vozes, 2021, Local 865-872.

A parte de trás das coisas