Símbolo Dogmático

“Doutor Jung observou, sabiamente: “a função incomparavelmente útil do símbolo dogmático [consiste no fato de ele] proteger a pessoa da experiência direta de Deus, já que ela não expõe si mesma de modo prejudicial. Mas se… A pessoa deixar a casa e a família, viver muito tempo isoladamente e observar de modo excessivo o espelho negro, então o formidável evento do encontro pode deitá-la por terra. No entanto, mesmo assim o símbolo tradicional, que vem a florescer em sua plenitude ao longo do séculos, pode operar como corrente de cura e desviar a fatal incursão do Deus vivo nos espaços tornados ocos da igreja.”

Campbell, Joseph. O herói de mil faces. Pensamento, São Paulo, 2007, pp. 201-202.

Imortalidade

“A busca da imortalidade física procede de uma incompreensão do ensinamento tradicional. (…) Conhecer a eternidade é iluminar-se; não reconhecer a eternidade produz a desordem e o mal. (…) A bênção concedida ao fiel sempre segue a própria estatura deste, assim como a natureza do desejo que o domina: a bênção é tão-somente um símbolo da energia da vida adaptado às exigências de um caso específico.”

Campbell, Joseph. O herói de mil faces. Pensamento, São Paulo, 2007, pp. 175-177.

Primícias do Mistério Cósmico Maior

“O Cristianismo precisa transcender-se a si mesmo e se descobrir, não como uma outra doutrina eclesiástica partidária, mas como primícias do mistério cósmico maior que se deixará conhecer à esta geração.

A comunhão do Filho com o Pai e do Pai com o Filho simboliza a verdade de que os pequenos hábitos que comungamos diariamente enquanto família humana nos fazem habitar uns nos outros. A medida em que amamos e valorizamos os sentimentos que partilhamos, nos tornamos imortais uns para os outros, e neste sentido, a morte de um é a morte de todos, e a vida de um é a vida de todos.

Descobrimos nossa natureza eterna, habitamos o templo do interior uns dos outros. Descortinamos à consciência, que jazia na ignorância, um mais amplo sentido de comunhão e comunidade a um só tempo, no eterno que nos contém.

Raymond Buckland

Integração

“E por isso podemos dizer que, afinal de contas, o moderno alvo terapêutico de uma cura que produza o retorno à vida é atingido por meio da antiga disciplina religiosa (…) aquele que se libertou em vida (jívan mukta), desprovido de desejos, compassivo e sábio, “com o coração concentrado pela ioga, vê todas as coisas sob a mesma luz, observa-se a si mesmo em todos os seres e observa todos os seres em si mesmo. Como quer que leve a vida, vive em Deus”. (…) Aqueles que sabem, não apenas que o Eterno vive neles, mas que eles mesmos, e todas as coisas, são verdadeiramente o Eterno, habitam os bosques de árvores que atendem aos desejos, bebem o licor da imortalidade e ouvem, em todos os lugares, a música silenciosa da harmonia universal. Esses são os imortais”.

Campbell, Joseph. O herói de mil faces. Pensamento, São Paulo, 2007, p. 157.

Nobre Caminho Óctuplo

“(…) ou Quarta Nobre Verdade do budismo:

“Crença Correta, Intenções Corretas, Palavra Correta, Ações Corretas, Meio de Vida Correto, Esforço Correto, Pensamento Correto, Correta Compreensão”.

Com a “extirpação final da ilusão, do desejo e da hostilidade” (Nirvana), a mente sabe que não é aquilo que pensa ser: o pensamento flui. A mente permanece em seu verdadeiro estado. E aí pode ela habitar até que o corpo desapareça:

“Estrelas, escuridão, lâmpada, fantasma, orvalho, bolha. Um sonho, um relâmpago, e uma nuvem: Assim devemos olhar tudo o que foi feito”.

O Bodisatva, todavia, não abandona a vida. Voltando os olhos da esfera interna da verdade que transcende o pensamento (que só pode ser descrita como “vazio”, já que ultrapassa a palavra) para observar mais uma vez o mundo fenomênico, ele percebe, fora de si, o mesmo oceano de existência que encontrou no seu íntimo. “A forma é o vazio, o vazio é de fato forma. O vazio não difere da forma, a forma não difere do vazio. O que for forma é também o vazio, o que for vazio, é também a forma. E o mesmo se aplica à percepção, ao nome, à concepção e ao conhecimento”.

Campbell, Joseph. O herói de mil faces. Pensamento, São Paulo, 2007, p. 156.

O Mito da Criação do Genesis

“Ele representa uma das formas básicas de simbolização do mistério da criação: a transmissão da eternidade ao tempo, a transformação  do um no dois e depois no muitos, assim como a geração da nova vida por meio da recombinação do dois”.

Campbell, Joseph. O herói de mil faces. Pensamento, São Paulo, 2007, p. 147.

Nossas Expectativas

“As circunstâncias não ocorrem para atender às nossas expectativas. Os fatos acontecem como têm que acontecer. As pessoas comportam-se de acordo com o que são. Acolha as coisas que de fato conseguir.

(…) Quando algo acontece, a única coisa que está em seu poder é a sua atitude com relação ao fato. Suas alternativas são a aceitação ou o ressentimento”.

Epicteto. A arte de viver/ Epicteto; uma nova interpretação de Sharon Lebell. Sextante, Rio de Janeiro, 2018, p. 27.

A Essência do Tempo

“Pois a essência do tempo é o fluxo, a dissolução do momentaneamente existente; e a essência da vida é o tempo. (…) O paradoxo da criação, do surgir das formas temporais a partir da eternidade, é o segredo germinal do pai. Ele jamais pode ser efetivamente explicado. (…) O herói transcende a vida, com sua mancha negra peculiar e, por um momento, ascende a um vislumbre da fonte”.

Campbell, Joseph. O herói de mil faces. Pensamento, São Paulo, 2007, p. 142.