Superar a Ignorância

“Não obstante, todo fracasso em lidar com uma situação da vida deve traduzir-se, no final, como restrição à consciência. As guerras e as explosões emocionais são paliativos da ignorância; os arrependimentos, iluminações que vêm tarde demais. Todo o sentido do mito onipresente da passagem do herói reside no fato de servir essa passagem como padrão geral para homens e mulheres, onde quer que se encontrem ao longo da escala. Assim sendo, o mito é formulado nos mais amplos termos. Cabe ao indivíduo, tão somente, descobrir sua própria posição com referência a essa fórmula humana geral e então deixar que ela o ajude a ultrapassar as barreiras que lhe restringem os movimentos. (…)

No consultório do psicanalista moderno, os estágios da aventura do herói ainda vêm a lume nos sonhos e alucinações dos pacientes. Camada após camada de falta de autoconhecimento é penetrada, exercendo o analista o papel de auxiliar, de sacerdote iniciatório. (…)

O ponto nevrálgico da curiosa dificuldade reside no fato de que as nossas concepções conscientes a respeito de que a vida deve ser raramente correspondem àquilo que a vida de fato é”.

Campbell, Joseph. O herói de mil faces. Pensamento, São Paulo, 2007, p. 121.

O Encontro Com a Deusa

“O encontro com a deusa (que está encarnada em toda mulher) é o teste final do talento de que o herói é dotado para obter a benção do amor (caridade: amor fati), que é a própria vida, aproveitada como o invólucro da eternidade”.

Campbell, Joseph. O herói de mil faces. Pensamento, São Paulo, 2007, p. 119.

Deusa Mulher

“Tal como a mudança, o rio do tempo, a fluidez da vida, a deusa cria, preserva e destrói a um só tempo. (…)  A mulher representa, na linguagem pictórica da mitologia, a totalidade do que pode ser conhecido. O herói é aquele que aprende”.

Campbell, Joseph. O herói de mil faces. Pensamento, São Paulo, 2007, pp. 116-117.

Crença popular

“…(o limiar) marcando os limites da esfera ou horizonte de vida presente do herói. Além desses limites, estão as trevas, o desconhecido e o perigo, da mesma forma como, além do olhar paternal, há perigo para a criança e, além da proteção da sociedade, perigo para o membro da tribo. A pessoa comum está mais do que contente, tem até orgulho, em permanecer no interior dos limites indicados, e a crença popular lhe dá todas as razões para temer tanto o primeiro passo na direção do inexplorado”.

Assim, os marinheiros dos grandes navios de Colombo, ampliando o horizonte na mente medieval – navegando, como pensavam, para o oceano sem limites do ser imortal que cerca o cosmos, tal como uma interminável serpente mitológica que morde a própria cauda – tiveram que ser guiados e controlados, como se fossem crianças, porque temiam os leviatãs, as sereias, lagartos e outros monstros das profundezas que falam as fábulas”.

Campbell, Joseph. O herói de mil faces. Pensamento, São Paulo, 2007, p. 82.

O Chamado

“(…) o chamado sempre descerra as cortinas de um mistério de transfiguração – um ritual, ou momento de passagem espiritual que, quando completo, equivale a uma morte seguida de um nascimento. O horizonte familiar da vida foi ultrapassado; os velhos conceitos, ideais e padrões emocionais, já não são adequados; está próximo o momento da passagem por um limiar”.

Campbell, Joseph. O herói de mil faces. Pensamento, São Paulo, 2007, p. 61.

Erros

“Como Freud demonstrou, os erros não são um mero acaso; são, antes, resultado de desejos e conflitos reprimidos. São ondulações na superfície da vida, produzidas por nascentes inesperadas. E essas nascentes poder ser muito profundas – tão profundas quanto a própria alma”.

Campbell, Joseph. O herói de mil faces. Pensamento, São Paulo, 2007, p. 60.

Templos

(…)

“Em geral, esses templos são projetos para simular as quatro direções do horizonte do mundo; o santuário ou altar, colocado no centro, simboliza o Ponto Inextinguível. Aquele que penetra no complexo do tempo e se encaminha para o santuário imita a façanha do herói. Seu objetivo é repetir o padrão universal, como forma de evocar, dentro de si mesmo, a lembrança da forma de convergência e renovação da vida“.

Campbell, Joseph. O herói de mil faces. Pensamento, São Paulo, 2007, p. 47.