“Consulte-se a simples definição de projeção dada por Jung em Tipos Psicológicos. Ali se lê que só podemos falar em projeção quando surge uma dúvida e que, enquanto isso não ocorre, a asserção de que há uma projeção não é legítima. Só quando, no meu intimo, sinto-me insegura é que posso começar a falar em projeção, e não antes. A projeção implica que eu já não estou inteiramente convencida; que estou, até certo ponto, fora da participation mystique ou identidade arcaica; até esse momento não há projeção.
Naturalmente, o espectador duvida, sendo por isso que, se tomarmos um caso de hoje, por exemplo, X apaixona-se por Y, o espectador chamará a isso uma projeção do animus. Mas para a pessoa envolvida não há projeção, e seria um equívoco analítico afirmar que houve; isso contaminaria a outra pessoa com as dúvidas da primeira. Para X, esse homem é agora o ser amado e não, simplesmente, uma imagem do animus. Se eu duvido, porque não estou na mesma participation, não tenho o direito de envenenar o outro com essa dúvida. Tenho de esperar até que a analisanda comece a sentir alguma inquietação, até que o homem que ela ama não se comporte como ela esperava que ele fizesse. Uma vez que se manifeste esse estado de intranquilidade, então já poderei dizer que talvez ela tenha projetado nesse homem algo do íntimo dela. Porém, desde que não haja constrangimento, não tenho o direito de interferir nessa participation chamando-a de projeção; esse é um equívoco horrível e venenoso que as pessoas cometem constantemente.”
VON FRANZ, Marie-Louise. Alquimia, Uma introdução ao simbolismo e seu significado na psicologia de Carl G. Jung, Ed. Cultrix 2022, Pág 205-206.
4a Palestra | Alquimia Grego-arábica