“No conhecimento da Antiguidade, o chumbo era o metal do planeta Saturno e tinha as mesmas qualidades: no aspecto negativo, depressão; no positivo, depressão criativa. Saturno é o deus das pessoas mutiladas, dos criminosos e dos aleijados, mas também das pessoas artísticas e criativas.
Como a palavra sugere, numa depressão a pessoa é pressionada para baixo, comprimida, em geral porque uma parte da libido psicológica está embaixo e tem de ser resgatada; a verdadeira energia da vida caiu numa camada mais profunda da personalidade e só pode ser alcançada por meio de uma depressão. Assim, a menos que haja uma psicose latente, as depressões devem ser encorajadas e as pessoas, aconselhadas a entrar nelas e a ser deprimidas – sem tentar escapar por meio da televisão ou das Seleções e, se as depressões dizem que a vida nada significa e que nada vale a pena, deve-se aceitar isso e perguntar o que fazer. O que há a fazer é ouvir, mergulhar cada vez mais fundo, até se atingir o nível da energia psicológica em que alguma ideia criativa pode surgir; de repente, no fundo, aparecerá um impulso de vida e de criatividade que havia sido ignorado.
As pessoas que são profissionalmente criativas, como os artistas plásticos ou os grandes atores etc., sabem que antes de toda e qualquer representação ou obra nova são suscetíveis de passar por essa depressão. Há quem a tenha em escala menor. Eu, por exemplo, sempre me sinto deprimida antes de fazer uma conferência, porque a libido vai primeiro ao fundo. Esses são ritmos menores de algo que acontece em grande escala numa depressão. Significa que a pessoa desprezou certos fatores criativos que se constelaram embaixo e atraíram a libido, causando apatia e falta de energia.
Também pode se tratar de um sintoma pré-psicótico, como os psiquiatras sabem muito bem. O que depois vem à superfície é também um conteúdo criativo, mas brota com tamanha abundância que pode destruir a personalidade. Nesses casos, deve-se pensar duas vezes antes de encorajar a pessoa a entrar em depressão por-que, embora o mecanismo seja o mesmo, há o risco de o que sobe à tona ser demasiado forte e explodir a personalidade. ”
VON FRANZ, Marie-Louise. Alquimia, Uma introdução ao simbolismo e seu significado na psicologia de Carl G. Jung, Ed. Cultrix 2022, Pág 174-175.
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