“A ideia de que toda esta beleza seria efemera suscitou em ambos, tão sensíveis, uma sensação antecipada da aflição que lhes ocasionaria o seu aniquilamento, e uma vez que a alma se afasta instintivamente de tudo o que é doloroso, estas pessoas viram inibido o seu gozo do belo pela ideia da sua indole perecível.
Imaginamos assim possuir uma certa capacidade amorosa no começo da evolução, se orientou para o próprio Eu, para mais tarde embora, na realidade, muito precocemente se dirigir para os objetos, que desta sorte ficam de certo modo incluídos no nosso eu. Se os objetos são destruídos ou se os perdemos, a nossa capacidade amorosa (libido) volta a ficar em liberdade, e pode tomar outros objetos como substitutos, ou regressar transitoriamente ao eu. Todavia, não conseguimos explicar nem podemos a tal respeito aventar hipótese alguma porque é que o desprendimento da libido dos seus objetos tem de ser, necessariamente, um processo tão doloroso. Comprovamos apenas que a libido se aferra aos seus objetos e que nem sequer quando já dispõe de novos sucedâneos se resigna a desprender-se dos objetos que perdeu. Eis aqui, pois, a pena.”
FREUD, Sigmund. Porquê a Guerra? – Reflexões sobre o destino do mundo, Ed. Edições 70, 2019, pág.54-55.
Caducidade (1915)