“É deveras difícil compreender a alquimia tal como expressa nos escritos originais. Encontramos uma selvagem, luxuriante e intrincada massa de imagens superpostas que têm um efeito enlouquecedor para a mente consciente em busca de ordem. Meu método de organização do caos da alquimia consiste em concentrar a atenção nas principais operações alquímicas. Descoberta a prima materia, deve-se submetê-la a uma série de procedimentos químicos a fim de transformá-la na Pedra Filosofal. Praticamente todo o conjunto de imagens alquímicas pode ser organizado em torno dessas operações o que não se aplica apenas a esse conjunto de imagens. Muitas imagens mitológicas, religiosas e folclóricas também giram em torno delas, já que vêm da mesma fonte: a psique arquetípica.
Não há um número exato de operações alquímicas, e muitas imagens se sobrepõem. Para meus propósitos, considerei sete dessas operações como os principais componentes da transformação alquímica. São elas calcinatio, solutio, coagulatio, sublimatio, mortificatio, separatio, conjuctio. (Uso os termos latinos, em vez de calcinacarisolução, etc., para distinguir os processos psicológicos dos procedimentos químicos.) Cada uma dessas operações é o centro de um elaborado sistema de símbolos. Esses símbolos centrais da transformação compõem o principal conteúdo de todos os produtos culturais. Eles fornecem as categorias básicas para a compreensão da vida da psique, ilustrando praticamente toda a gama de experiências que constituem a individuação.
Embora eu va tentar ser claro e explícito, a natureza do assunto requer que muita coisa se mantenha no nível da imagem e do símbolo. Para justificá-lo, ofereço as seguintes observações de Jung:
Não devemos censurar a linguagem secreta dos alquimistas: a percepção aprofundada dos problemas do desenvolvimento psíquico logo nos ensinarão ser preferível reservar o julgamento, em vez de anunciar prematuramente aos quatro ventos, o que é o quê. Com efeito, todos temos um compreensível desejo de clareza cristalina, mas corremos o risco de esquecer o fato de lidarmos, em assuntos psíquicos, com processos de experiência, isto é, com transformações que jamais devem receber denominações rígidas e apressadas, se não se desejar petrificá-las em alguma coisa estática. O mitologema multiforme e o símbolo frágil exprimem os processos da psique de maneira muito mais vigorosa e, no final das contas, muito mais claramente, do que o mais explícito conceito; porque o símbolo não apenas transmite uma visualização do processo como também e isso talvez tenha a mesma importância traz uma renovada experiência dele, daquele lusco-fusco que somente podemos aprender a entender por meio da empatia inofensiva, mas que a clareza demasiada apenas dissipa.”
EDINGER, Edward F. Anatomia da Psique. O Simbolismo Alquímico na Psicoterapia, Ed. Cultrix 2006, Pág. 32-34.
Capítulo 1 Introdução