“Tales de Mileto, o primeiro filósofo de que se tem notícia, andava pelos jardins de sua cidade olhando para o céu para conhecer o movimento dos astros e foi o primeiro astrônomo a prever um eclipse. Conta a lenda que, numa de suas andanças, Tales tropeçou e caiu num poço A pessoa que o tirou dali teria rido muito, dizendo-lhe: “Ei, Tales! Como você há de saber o que se passa no céu se não consegue ver o que se passa na terra?“, Essa anedota consagrou a imagem do filósofo como alguém distraído, que se ocupa com coisas distantes e não enxerga o que se passa à sua volta.
No entanto, uma outra lenda oferece uma imagem oposta a essa. Narra a historieta que Heráclito de Éfeso, também um dos primeiros filósofos, costumava ser visitado por pessoas que desejavam ouvi-lo e imaginavam encontrá-lo isolado e mergulhado em profundas meditações. Heráclito, porém, as surpreendia, pois o encontravam na cozinha, junto ao fogo, ocupado com os afazeres domésticos e, sorrindo, ele lhes dizia: “Aqui também se encontram os deuses”.Isto é, o que Heráclito estava querendo dizer é que em qualquer lugar é possível ocupar-se com a busca da verdade. Que não é preciso afastar-se da vida cotidiana e do contato com as pessoas para fazer filosofia.
Contemplar o Universo, como Tales, ouvir a verdade divina, como Heráclito, conversar com as pessoas, como Sócrates, eis várias maneiras de fazer filosofia.”
CHAUÍ, Marilena. Convite à Filosofia. 14º Edição. São Paulo: Editora Ática. 2020, pág. 10.
Introdução: Para que filosofia?
Aula Magna