O Hierofante

“Correspondência Astrológica: Touro

(…) com um papa abençoando dois discípulos, geralmente monges. (…) Proveniente da Golden Dawn, como tantas outras coisas do tarot moderno, o novo nome substitui a remissão direta a igrejas e autoridades religiosas pela ideia de tradição esotérica, que toma seus modelos das escolas de Mistérios da Grécia e do Egito. “Hierofante” refere-se ao “Hierofanto”, o sacerdote grego que dirigia os antigos mistérios de Eleusis durante o ritual de nove dias. Os mistérios tinham início quando o Hierofante e bia os objetos sagrados retirados do tesouro de Atenas. A palavra significa “Aquele que mostra lo sagrado]”.

(…) Charles Stein, poeta e estudioso clássico, argumenta em seu livro Persephone Unveiled (Perséfone Des velada) que o Hierofante significa “aquele que possibilita ser visto” em outras palavras, aquele que induz visões ou o que leva as pessoas a experimentá-las. É preciso um poder místico especial para fazer com que as pes soas possam ver o sagrado, especialmente quando milhões de pessoas parecem mpo. Este poder não é pessoal. Trata-se de um ver a mesma coisa ao mesmo tempo. dom que só pode vir de uma tradição, com grande significado e raízes profundas.

Os Mistérios provavelmente tiveram sua origem na Creta pré-histórica, e de Eleusis passaram para as escolas e grupos iniciáticos de Alexandria, a cidade greco-egípcia onde se originou a tradição hermética. Essas escolas se tornaram a fonte e o modelo para as sociedades secretas europeias, como os Rosacruzes, os maçons e, claro, a Ordem Hermética da Aurora Dourada.

(…) o conceito significa algo bem mais mágico. No antigo Israel, por exemplo, referia-se a uma casta hereditária, os levitas, que carregavam o poder divino de YHVH nos rituais realizados no templo em Jerusalém. Quando o templo foi destruido, a liderança passou para os rabinos, que eram mais democráticos – qualquer um podia se tornar um embora menos mágicos, apesar de histórias oca- sionais de rabinos que faziam milagres, incluindo o exorcismo de demônios e de espíritos.

O paganismo moderno reviveu a visão antiga do sacerdote como alguém que incorpora a energia masculina do divino, enquanto traz de volta o conceito de uma sacerdotisa, uma palavra que não significa simplesmente um padre feminino. Uma sacerdotisa encarna o divino feminino. Alguns decks moder- nos de tarot, sobretudo aqueles que dialogam com crenças pagās, mudaram os trunfos 2 e 5 para “Alta Sacerdotisa” e “Alto Sacerdote”

Como defensor das tradições e ensinamentos oficiais, ele trabalha com o Imperador, o executor das regras da sociedade. Por outro lado, como um verdadeiro sacerdote, uma figura que encarna o poder divino, ele trabalha bem ao lado da Sacerdotisa. Hoje, o Hierofante tende a significar o guardião de uma tradição, especialmente os ensinamentos exotéricos, ou “externos”, comparados às revelações esotéricas ou secretas da Sacerdotisa.

(…) nossos ancestrais nos legaram um lugar para ficar, textos e instruções que nos inspiraram, com uma vivida história de prática espiritual.

(…)

Indicação, demonstração, instru ção, lei, simbolismo, filosofia, religião.

O Mestre dos Arcanos ou Mistérios Sagrados, o hierofante ou inspiração oculta. No mundo divino, a lei universal; no mundo intelectual, a religião, a relação do absoluto com o ser relativo, no mundo físico, inspiração.

Sabedoria divina. Manifestação, explicação, ensino.

(…) a demonstração externa autoridade espiritual.

(…) o gesto de sua mão direita, o próprio símbolo da benção sacerdotal, com seus dois dedos para cima e dois dedos para baixo. Tal como acontece com um braço do Mago para cima e outro para baixo, o Hierofante canaliza a energia do nível cspiritual para o fisico. Mas aqui, diferente do Mago, o gesto é feito em ape nas uma das mãos e, portanto, comunica uma corrente constante de energia. “Como acima, assim abaixo” não significa apenas que nossos padrões de vida refletem os movimentos astrológicos nos céus, mas que nossas vidas estão entrelaçadas com o divino.

O Livro Hebraico dos Mortos, Zhenya Senyak explica a afirmação do seguinte modo: o divino, ou o sagrado, não existe de forma separada e distante. Antes, ele está na batida de nossos corações e na respiração que entra e sai de nossas bocas – e isso é tudo o que precisamos saber.

Na versão Rider, O Hierofante está sentado em seu trono entre dois pilares, o que nos lembra A Sacerdotisa. Mas aqui, em vez de luz e escuridão, presentes na carta anterior, o que vemos em ambos os lados é tão somente pedra cinzenta. Isso combina com a interpretação do Hierofante como o guardião das tradições externas não das verdades internas. Essas tradições resultam em leis e regras, naqueles conceitos que de fato mantém algumas pessoas de joelhos, ignorantes e obedientes (…) nesse baralho, a carta 5 de fato introduz a imagem de um professor entre duas colunas. (…) reinos de existência, naquilo que Paul Christian chama de mundos físico, intelectual e divino.

O livro Meditações sobre o Tarô nos dá uma interpretação mais imediata, baseada na ideia de “fôlego”, “respiração”, como uma conexão com o Espírito.

Assim, os três níveis de respiração horizontal, terrena, são amor à natureza, amor ao próximo e amor aos seres das hierarquias espirituais – por exemplo, anjos. Os très estágios da respiração vertical são purificação (pelo sopro divino), iluminação (pela luz divina) e união mística (no fogo divino).

Hierofante representa o primeiro de três níveis de ensino, um para cada linha dos Arcanos Maiores. Ele é o nível de doutrina e tradição, um inter- mediário que conecta o Acima e o Abaixo. Como O Eremita, que nos mostra um mestre dos caminhos internos sustentando a luz que podemos seguir. Já no terceiro nível, na base da quinta triade vertical, está O Sol, no qual experimentamos a revelação direta das maravilhas da existência. Entre O Hierofante e O Sol, O Enforcado inverte a maneira como entendemos as coisas partindo dos ensinamentos externos para as verdades internas.

A figura central do Hierofante está acima de outras duas, numa posição superior, aparentemente diante de dois discipulos.

Estar acima de algo sugere uma posição de controle, a capacidade de mediar en- tre dualidades ou elevar-se e manter-se separado delas. Cada uma das cartas triangulares sugere seu próprio tipo de mediação ou unificação de opostos. Na melhor das hipóteses, o Hierofante usa a tradição e os ensinamentos para ajudar outros seres. Ele lhes mostra um caminho e une o Acima e o Abaixo através desse poderoso gesto de bênção.”

POLLACK, Rachel.Bíblia Clássica do Tarot, Darkside, 2023, Pág.111-117.

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