“O imperativo da autenticidade desenvolve uma compulsão por si, uma compulsão de se questionar, se escutar, se espiar, se cercear. Ele acentua, assim, a autorreferência narcísica. A compulsão por autenticidade compele o eu a produzir a si mesmo. A autenticidade é, em última instância, a forma de produção neoliberal do si. Ela faz de todos produtores de si mesmos. O eu como empreendedor de si mesmo produz a si, performa a si mesmo, e oferece a si mesmo como mercadoria. A autenticidade é um ponto de venda.
Assim, a autenticidade do ser diferente consolida a conformidade social. Ela permite apenas as diferenças conformes ao sistema; a saber, a diversidade. A diversidade como termo neoliberal é um recurso que se deixa explorar. Assim, ela é oposta à alteridade, que se furta a toda utilização econômica. Hoje, todos querem ser diferentes do outro. Mas, nesse querer-ser-diferente, o igual se perpetua.
O ser igual se afirma por meio do ser diferente. A autenticidade do ser diferente impõe até mesmo de maneira mais eficiente a conformidade do que a uniformização repressiva. Esta é muito mais frágil do que aquela.”
HAN, Byung-Chul.A expulsão do outro: Sociedade, percepção e comunicação hoje. Ed. Vozes, 2022, Local 335-345.
Terror da autenticidade