Passado mais ou menos misterioso

(…) vale notar que esse desejo de um passado mais ou menos misterioso e iniciático é bastante compatível com a sociedade da época. Não se deve acreditar que, de um lado, estivessem os filósofos, arautos da razão, e, de outro, franco-maçons e outros iniciados se reunissem em segredo, ao abrigo da condenação do poder e da Igreja. Na verdade, as vésperas da Revolução, 48 grandes senhores franceses eram franco-maçons, entre os quais o duque de Orleans, o duque de La Rochefoucauld e La Fayette. Cagliostro era muito admirado por Luis XVI antes de se comprometer. A prestigiada Loge des Neuf Soeurs [Loja das Nove Irmãs), da qual fazia parte Antoine Court de Gébelin, contava com hóspedes ilustres, como o astronomo Lalande, o pintor Greuze, o escultor Houdon, o naturalista Lacepède e Benjamin Franklin, que nela iniciou Voltaire, em 1778. Como bem dizia um autor que veremos mais adiante: “Quem não ousasse ver outra coisa além de infantilidades supersticiosas nas práticas do cristianismo, admiraria os malabarismos de Cagliostro: quem pretendesse não acreditar na existência de Deus, daria crédito à idade trimilenar do conde de Saint-Germain; e esse público, particularmente cético, lotava a loja de horóscopos de Etteilla”

NADOLNY, Isabelle. História do TarôUm estudo completo sobre suas origens, iconografia e simbolismo. Ed. Pensamento, 2022, pág. 147-148.

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