“Da mesma maneira como a calcinatio pertence ao fogo, a solutio à água e a coagulatio à terra, a sublimatio é a operação que pertence ao ar. Ela transforma o material em ar por meio de sua elevação e volatilização. A imagem deriva do processo químico da sublimação, no qual um sólido, ao ser aquecido, passa diretamente para o estado gasoso e sobe até a borda do vaso, onde volta a assumir o estado sólido na região superior, mais fria.
O termo “sublimação” vem do latim sublimis, que significa “elevado”. Isso indica que o aspecto essencial da sublimatio é um processo de elevação por intérmédio do qual uma substância inferior se traduz numa forma superior mediante um movimento ascendente. A terra se transforma em ar; um corpo fixo se volatiliza; aquilo que é inferior torna-se algo superior (inferus = embaixo; superus em cima). Todas as imagens referentes ao movimento para cima escadas, degraus, elevadores, alpinismo, montanhas, voar, e assim por diante – pertencem ao simbolismo da sublimatio, aplicando-se o mesmo a todos os valores e conotações psicológicos associados com o estar em cima em vez de embaixo. Diz um texto alquímico: “O espírito, por conseguinte, com a ajuda da água e da alma, é retirado dos próprios corpos, e o corpo, desse modo, torna-se espiritual; para que, no mesmo instante de tempo, o espírito, que contém a alma dos corpos, suba bastante para a parte superior, que é a perfeição da pedra, e se chama sublimação.”
(…) o corpo “torna-se perfeito” mediante sua espiritualização. Em termos psicológicos, isso corresponde a uma forma de lidar com um problema concreto. Ficamos “acima” dele quando o vemos objetivamente. Abstraímos um sentido geral dele e o vemos como um exemplo particular de uma questão mais ampla. O simples fato de encontrar palavras ou conceitos adequados para um estado psíquico pode ser suficiente para que a pessoa se afaste dele o bastante para olhá-lo de cima.
A sublimatio é uma ascensão que nos eleva acima do emaranhado confinador da existência terrestre, imediata, e de suas particularidades concretas, pessoais. Quanto mais alto nos elevamos, tanto maior e mais ampla nossa perspectiva, mas, ao mesmo tempo, tanto mais distantes ficamos da vida real e tanto menor nossa capacidade de agir sobre aquilo que percebemos. Tornam-nos espectadores magníficos, mas impotentes (…)movimento ascendente.
(…)Em outras palavras, a sublimação não envolve repressão”.
No seguinte trecho de suas cartas, Jung distingue entre a sublimação freudiana e a sublimatio alquímica: “A sublimatio é parte da arte real em que é feito o verdadeiro ouro. Freud nada sabe disso e, o que é pior, põe barricadas em todos os caminhos que poderiam levar à verdadeira sublimatio. Esta é mais ou menos o contrário daquilo que Freud entende por sublimação. Não se trata de uma canalização voluntária e forçada do instinto para um campo espúrio de aplicação, mas de uma transformação alquímica que requer o fogo e a prima materia negra. A sublimatio é um grande mistério. Freud apropriou-se desse conceito e o usurpou para a esfera da vontade e do ethos racionalista e burguês.”
(…) O sublimado sai da terra e é transportado para o céu. Diz um texto. “No final da sublimação, por meio da mediação do espírito. (…)”
EDINGER, Edward F. Anatomia da Psique. O Simbolismo Alquímico na Psicoterapia, Ed. Cultrix 2006, Pág.135-136.
Capítulo 5 Sublimatio