Simbolismo da mortificatio

As seguintes palavras muito conhecidas de Jesus também fazem parte do simbolismo da mortificatio: “Se alguém quiser vir após mim, negue-se a si mesmo, tome sua cruz e siga-me. Porque aquele que quiser salvar a sua vida vai perdê-la; mas aquele que perder a sua vida por minha causa, var encontrá-la.(Mat., 16: 24/25-JB)

(…)“Em verdade, vos digo, ninguém se salvará se não acreditar na minha cruz. Mas quem acreditar na minha cruz ganhará o reino de Deus. Portanto, sêde aqueles que buscam a morte, como os mortos que buscam a vida… Quando examinais a morte, ela voz ensina a escolher. Em verdade, vos digo, ninguém que tema a morte será salvo; porque o reino da morte pertence àqueles que se entregam à morte.

(…)Nas palavras de Goethe, stirb und werde, morre e se transforma. Na medida em que abraça continuadamente a morte, o ego constela a vida em profundidade.

(…) uma notável passagem de uma carta inédita de Jung:

“O problema da crucifixão é o início da individuação; aí reside o significado secreto do simbolismo cristão, um caminho de sangue e de sofrimento semelhante a qualquer outro passo na estrada da evolução da consciência humana. Pode o homem suportar um aumento adicional de consciência?… Confesso que me submeti ao divino poder desse problema aparentemente insuportável e, de maneira consciente e intencional, tornei minha vida miserável, porque eu queria que Deus ficasse vivo e livre do sofrimento que o homem colocara sobre ele ao amar mais sua própria razão do que as intenções secretas de Deus. 

(…) Não obstante, seu modo de expressão nos oferece um ângulo de visão novo. Prestar atenção ao inconsciente significa tornar a vida miserável, de maneira deliberada, a fim de criar condições para que a psique autônoma funcione com maior liberdade. Nada tem a ver com o masoquismo, afigurando-se antes como uma participação consciente no processo de/atualização da Divindade.”

* The Nag Hammadi Library, pp. 31s

(…) Todavia, as atitudes da alquimia e da fé religiosa com relação à imagem de Cristo revelam-se deveras diferentes entre si. Jung toma um grande cuidado para estabelecer essa distinção no seguinte trecho:

“Se experimenta seu próprio eu, o “verdadeiro homem”, em sua obra, então… o adepto encontra a analogia do verdadeiro homem Cristo -numa forma nova e direta, e reconhece, na transformação em que está diretamente envolvido, uma semelhança com a Paixão. Não se trata de uma “imitação de Cristo”, mas do seu exato oposto, uma assimilação da imagem de Cristo em seu próprio eu, que é o “verdadeiro homem”. Já não é um esforço, uma labuta intencional para atingir a imitação, mas antes uma experiência involuntária da realidade representada pela lenda sagrada... A Paixão acontece ao adepto, não em sua forma clássica…. mas na forma expressa pelo mito alquímico. A substância arcana sofre as torturas físicas e morais… Não é o adepto quem sofre tudo isso, é antes ela que as sofre nele, ela é torturada, ela passa pela morte e renasce, Tudo isso ocorre, não ao próprio alquimista, mas sim ao “verdadeiro homem”, que o alquimista sente estar próximo de si, bem como em si, e, ao mesmo tempo, na retorta. 

(…) O conhecimento matutino é o conhecimento do criador, o conhecimento noturno é o conhecimento das coisas criadas. Aquele sabe a respeito de Deus, este, a respeito da humanidade. O primeiro é religião e este último ciência. A transição do conhecimento matutino para o noturno corresponde ao fato de que “toda a verdade espiritual pouco a pouco se torna algo material, passando ser um mero instrumento na mão do homem”. À medida que mais e mais coisas passam para o controle racional do ego, o conhecimento matutino da humanidade vai se tornando crescentemente sombrio. Como diz Jung: “O homem moderno já se encontra de tal modo obscurecido que nada que ultrapasse a luz do seu próprio intelecto ilumina o mundo. ‘Occasus Christi, passio Christi.

“Mas da mesma maneira como a noite faz nascer a manhã, assim também das trevas nasce uma nova luz, a stella matutina, que é, ao mesmo tempo, estrela da noite e estrela da manhã Lúcifer, o portador da luz.”Nos termos do simbolismo dos sete dias da criação e dos sete dias da semana, pensava-se que cada dia afasta o homem um pouco mais do seu conhecimento matutino até que “as trevas crescentes alcançam sua maior intensidade no dia/de Vênus (sexta-feira) e se transformam em Lúcifer no dia de Saturno. [Saturday]. O sábado anuncia a luz que aparece com força plena no dia do sol [Sunday]… O Sabbath é, por conseguinte, o dia em que o homem retorna a Deus e recebe novamente a luz do cognitio matutina (conhecimento matinal). E esse dia não tem noite“.”

 

EDINGER, Edward F. Anatomia da Psique. O Simbolismo Alquímico na Psicoterapia, Ed. Cultrix 2006, Pág.194-197.

Capítulo 6 Mortificatio Putrefactio

Gostei e vejo sentido em compartlhar essa ideiA

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