“O vírus penetra na zona de bem-estar paliativa e a transforma em uma quarentena, na qual a vida se enrijece inteiramente na sobrevivência. Quanto mais o viver [Leben] é um sobreviver [Überleben], mais medo se tem diante da morte. A pandemia torna novamente visível a morte que nós reprimimos e terceirizamos meticulosamente. A sobrepresença da morte nas mídias de massa deixa as pessoas nervosas.
A sociedade da sobrevivência perde inteiramente o sentido para a boa vida. Também o desfrute [Genuss] é sacrificado à saúde elevada a um fim em si mesma. A rigorosidade da proibição do fumo, por exemplo, dá testemunho de uma histeria da sobrevivência. Também o desfrute tem de dar lugar à sobrevivência.
Pela sobrevivência sacrificamos voluntariamente tudo que faz a vida digna de ser vivida.”
HAN, Byung-Chul. Sociedade paliativa: A dor hoje. Ed. Vozes, 2021, Local, 284-290.
Sobrevivência