Com graça, mas não de brincadeira

“Como observou Daniel J. Boorstin — com graça, mas não de brincadeira (em The Image, 1961) —, uma celebridade é uma pessoa conhecida por ser muito conhecida, e um best-seller é um livro que vende bem porque está vendendo bem. A autoridade amplia o número de seguidores, mas, no mundo de fins incertos e cronicamente subdeterminados, é o número de seguidores que faz — que é — a autoridade.”

BAUMAN, Zygmunt.Modernidade líquida, Ed. Zahar, Local: 1243.

Capítulo 2 | Individualidade

Pare de me dizer, mostre-me!

Antítese da Igreja Institucionalizada

(…) a organização da autoridade, a participação das mulheres, o martírio: os ortodoxos reconheciam que os chamados “gnósticos” compartilhavam uma perspectiva religiosa fundamental, que consistia em uma antítese das reivindicações da igreja institucionalizada.”

PAGELS, Elaine. Os Evangelhos Gnósticos. Editora Objetiva, 1979, pág. 138.

Capítulo: 6- Gnosis: Autoconhecimento Como Conhecimento de Deus.

Iniciação na Gnosis

“Os gnósticos admitem que o bispo, como o demiurgo, exerce autoridade legítima sobre a maioria dos cristãos que não são iniciados. Entretanto, as demandas, advertências e ameaças do bispo, assim como as do demiurgo, não podem mais atingir aquele que foi “redimido”.

O candidato recebe de sua iniciação na gnosis uma relação- totalmente nova com a autoridade espiritual. Agora ele sabe que a autoridade da hierarquia clerical provém do demiurgo- não do Pai.

...Outros (…) além dos nossos (…) autodenominam-se bispos e também diáconos, como se tivessem recebido autoridade de Deus (…) Essas pessoas são canais secos. *(Apocalipse de Pedro 79.22-30, em NHL 343.)

O Tratado Tripartido, escrito por um seguidor de Valentino, compara os gnósticos, “filhos do Pai”, com os não iniciados, gerados pelo demiurgo. Os filhos do Pai, diz, reúnem-se como iguais, desfrutando amor recíproco, ajudando uns aos outros de forma espontânea. Mas os descendentes do demiurgo – os cristãos comuns – “queriam mandar uns nos outros, rivalizando-se na sua vã ambição”; envaidecidos com a “luxúria do poder”, “imaginando, cada um, ser superior aos outros”.

PAGELS, Elaine. Os Evangelhos Gnósticos. Editora Objetiva, 1979, pág. 42-44.

Capítulo: 2- “Um Deus, Um Bispo”: A Política do Monoteísmo.

Autoridade Espiritual

“(…)no fim do século II, quando os ortodoxos insistiam em “um Deus”, validaram, ao mesmo tempo, o sistema de governo no qual a igreja era governada por “um bispo”. (…) Quando os cristãos ortodoxos e os gnósticos discutiam a natureza de Deus, estavam ao mesmo tempo discutindo
a questão da autoridade espiritual.

PAGELS, Elaine. Os Evangelhos Gnósticos. Editora Objetiva, 1979, pág. 36.

Capítulo: 2- “Um Deus, Um Bispo”: A Política do Monoteísmo.

Controvérsia sobre a Ressurreição

“Como ninguém nas últimas gerações pode ter acesso a Cristo como os apóstolos tiveram, durante sua vida e ressurreição, cada crente deve procurar a autoridade na igreja por eles fundada em Roma e nos bispos.
Alguns cristãos gnósticos discordaram.

O Cristo ressuscitado explica a Pedro que aqueles que “se autodenominam bispos e também diáconos, como se tivessem recebido sua autoridade de Des”, são, na realdidade “canais secos” Embora “não compreendam o mistério”, vangloriam-se de que apenas eles possuem “o mistério da verdade“.  O autor acusa-os de má, interpretação do ensinamento dos apóstolos e, por isso, de terem estabelecido uma “imitação de igreja” no lugar de uma verdadeira “irmandade” cristã.

(…) Mas, para eles, o ensinamento da igreja, e dos funcionários da igreja, jamais teria a autoridade definitiva atribuída pelos cristãos ortodoxos Diziam, dos que receberam gnosis, que foram muito além do ensinamento da igreja e transcenderam sua autoridade hierárquica.

Portanto, a controvérsia sobre a ressurreição provou-se crítica na transformação do movimento cristão em instituição religiosa. Todos os cristãos concordam, em princípio, que apenas o próprio Cristo – ou Deus – é a fonte definitiva da autoridade espiritual. Mas a questão imediata, é claro, era prática: quem, no presente, administra essa autoridade?

Valentino e seus seguidores responderam: quem quer que tenha contato pessoal, direto, com “Aquele que vive”. Argumentaram que apenas a própria experiência oferece o critério definitivo da verdade, tendo precedência sobre todos os testemunhos indiretos e toda a tradição – até mesmo a tradição gnóstica!

PAGELS, Elaine. Os Evangelhos Gnósticos. Editora Objetiva, 1979, pág. 26-27.

Capítulo: 1- A Controvérsia Sobre a Ressurreição de Cristo: Acontecimento Histórico ou Símbolo?

Autoridade Cósmica

“Os ortodoxos destacam o relato de Mateus, segundo o qual o Cristo ressuscitado anunciou aos “11” que sua própria autoridade tinha agora atingido proporções cósmicas: “Toda a autoridade sobre o céu e a Terra me foi entregue.

(…)embora as visões, sonhos e transes extáticos manifestem vestígios da presença espiritual de Jesus, a experiência dos 12 apóstolos era totalmente diferente.

O que quer que pensemos da historicidade do relato ortodoxo, podemos admirar sua ingenuidade. Essa teoria – de que toda autoridade procede da experiência do Cristo ressuscitado por determinados apóstolos, uma experiência agora para sempre concluída – possui grandes implicações para a estrutura política da comunidade. Primeiro, como aponta o estudioso alemão Karl holl, restringe o círculo de liderança  a um pequeno grupo de pessoas cujos membros estão em posição de autoridade incontestável. Segundo, sugere que apenas os apóstolos têm direito a ordenar fututos líderes como sucessores. Os cristãos do século II usaram relato de Lucas para situar o trabalho de base no estabelecimento de cadeias restritas e específicas de comando para todasas gerações futuras de cristãos. Qualquer líder potencial da comunidade deveria atribuir ou reivindicar a origem da autoridade dos mesmos apóstolos. No entanto, segundo a visão ortodoxa, ninguém pode jamais demandar autoridade semelhante – e menos ainda questioná-la.

(…)

Essa teoria atingiu um sucesso extraordinário: por quase 2 mil anos os cristãos ortodoxos aceitaram a visão de que apenas os apóstolos possuíam autoridade religiosa definitiva, e apenas padres e bispos são seus herdeiros legítimos e buscam sua ordenação pela mesma sucessão apostólica.”

PAGELS, Elaine. Os Evangélhos Gnósticos. Editora Objetiva, 1979, pág. 8-10.

Capítulo: 1- A Controvérsia Sobre a Ressurreição de Cristo: Acontecimento Histórico ou Símbolo?

A Ressurreição do Corpo

“Embora sua discussão, com frequência, seja interpretada como um argumento para a ressurreição do corpo, conclui com as palavras digo-vos, irmãos: a carne e o sangue não podem herdar o Reino de Deus, nem o que está sujeito a perecer [ou seja, o corpo mortal] herdar o imperecível”. Paulo descreve a ressurreição como “um mistério”, a transformação da existência física na espiritual.

(…) por que os cristãos ortodoxos, no século II, insistiram na visão literal da ressurreição e rejeitaram todas as outras como heréticas?

(…) ao examinarmos o efeito prático, paradoxal, no movimento cristão, podemos ver como a doutrina da ressurreição do corpo também serve a uma função política essencial: legitima a autoridade de certos homens que reivindicam o exercício exclusivo da liderança sobre as igrejas como sucessores do apóstolo Pedro. Desde o século II, a doutrina serviu para validar a sucessão apostólica dos bispos; base, até hoje, da autoridade papal.

(…) diversas formas de cristianismo floresceram nos primeiros anos do movimento cristão. Centenas de pregadores rivais reivindicavam, todos, pregar a “verdadeira doutrina do Cristo” e denunciavam uns aos outros como impostores.”

PAGELS, Elaine. Os Evangélhos Gnósticos. Editora Objetiva, 1979, pág. 5.

Capítulo: 1- A Controvérsia Sobre a Ressurreição de Cristo: Acontecimento Histórico ou Símbolo?

Então és Rei?

“Pilatos disse-lhe: Então és rei? Jesus respondeu: Tu dizes que eu sou rei; por essa causa nasci e vim, para que todo aquele que é da verdade ouça minha voz. Pilatos disse-lhe: O que é a verdade? Disse-lhe Jesus: A verdade é
do céu. Pilatos diz: Não há verdade sobre a terra? Jesus disse a Pilatos: Vês como os que falam a verdade são julgados por aqueles que têm autoridade na terra.”

Nascimento, Peterson do. O Evangelho Segundo Nicodemos (Coleção Apócrifos do Cristianismo Livro XI) – Versão Kindle, Posição 270.

Escola Baseada na Comunicação Não Violenta

” (…) Portanto, uma de nossas tarefas como pais e mães é mostrar aos nossos filhos como preservar sua humanidade, mesmo quando estão sendo expostos a autoridades que usam algum tipo de coerção.

Um de meus dias mais felizes como pai foi o primeiro dia do meu filho mais velho na escola do bairro. (…) uma escola baseada nos princípios da Comunicação Não Violenta. Lá esperava-se que as pessoas fizessem as coisas não pelas punições e recompensas, mas por perceberem a importância de sua contribuição para o próprio bem-estar e o dos outros, as avaliações eram em termos de necessidades e pedidos, não julgamentos. (…)”

ROSENBERG, Marshall. Criar Filhos Compassivamente: Maternagem e Paternagem na Perspectiva da Comunicação Não Violenta. São Paulo: Palas Athenas, 2020, pág. 37-38

Solução Para Atender as Necessidades de Todos

“De fato, ao me comunicar com meus filhos prefiro demorar e falar a partir da energia de minha escolha, ao invés de responder por hábito do modo que fui condicionado a fazer se algo não estiver em harmonia com meus valores. Infelizmente, recebemos do nosso entorno muito mais reforço positivo para agir de forma punitiva e julgadora do que de maneira respeitosa com nossos filhos.

(…) tentava compreender as necessidades dele e procurava entender minhas próprias necessidades para expressá-las de modo respeitoso.

(…) As pessoas muitas vezes confundem a comunicação da qual estou falando com permissividade. (…) A direção que defendo nasce de duas pessoas que confiam uma na outra, e não de uma pessoa que impõe sua autoridade à outra.

(…)Assim que uma pessoa ouve uma exigência, fica muito mais difícil chegar a uma solução que atenda às necessidades de todos.”

ROSENBERG, Marshall. Criar Filhos Compassivamente: Maternagem e Paternagem na Perspectiva da Comunicação Não Violenta. São Paulo: Palas Athenas, 2020, pág. 26-27.