“Os gnósticos admitem que o bispo, como o demiurgo, exerce autoridade legítima sobre a maioria dos cristãos que não são iniciados. Entretanto, as demandas, advertências e ameaças do bispo, assim como as do demiurgo, não podem mais atingir aquele que foi “redimido”.
O candidato recebe de sua iniciação na gnosis uma relação- totalmente nova com a autoridade espiritual. Agora ele sabe que a autoridade da hierarquia clerical provém do demiurgo- não do Pai.
...Outros (…) além dos nossos (…) autodenominam-se bispos e também diáconos, como se tivessem recebido autoridade de Deus (…) Essas pessoas são canais secos. *(Apocalipse de Pedro 79.22-30, em NHL 343.)
O Tratado Tripartido, escrito por um seguidor de Valentino, compara os gnósticos, “filhos do Pai”, com os não iniciados, gerados pelo demiurgo. Os filhos do Pai, diz, reúnem-se como iguais, desfrutando amor recíproco, ajudando uns aos outros de forma espontânea. Mas os descendentes do demiurgo – os cristãos comuns – “queriam mandar uns nos outros, rivalizando-se na sua vã ambição”; envaidecidos com a “luxúria do poder”, “imaginando, cada um, ser superior aos outros”.
PAGELS, Elaine. Os Evangelhos Gnósticos. Editora Objetiva, 1979, pág. 42-44.
Capítulo: 2- “Um Deus, Um Bispo”: A Política do Monoteísmo.