“Os filósofos afirmaram que o enigma intelectual, proposto ao
homem primordial pela imagem da morte, o forçou à reflexão, e se
tornou o ponto de partida de toda a especulação. Creio que os filósofos pensam a este respeito de um modo demasiado filosófico, têm em muito pouca consideração os motivos primariamente eficazes.
(…) diante do cadáver do inimigo vencido, o homem primordial terá saboreado
o seu triunfo sem encontrar estímulo algum para pôr a sua cabeça
em água a propósito do enigma da vida e da morte. O que desatou a indagação humana não foi o enigma intelectual, nem sequer qualquer morte, mas o conflito sentimental que surgiu na morte das pessoas amadas e, todavia, também estranhas e odiadas.(…)Na presença do cadáver da pessoa amada, o homem primordial inventou os espíritos, e o seu sentimento de culpabilidade pela satisfação que se mesclava com a dor fez que estes espíritos primigénios se tornassem demónios perversos, que importava recear. As transformações da morte sugeriram-lhe a dissociação do indivíduo num corpo e numa alma originariamente várias; o seu caminho mental seguiu deste modo uma trajetória paralela ao processo de desintegração que a morte inicia.”
FREUD, Sigmund. Porquê a Guerra? – Reflexões sobre o destino do mundo, Ed. Edições 70, 2019, pág.44.
Considerações atuais sobre a guerra e a morte (1915)
“A nossa atitude diante da morte”