Brilhava nele uma representação da cruz

“Se o testemunho não fosse tão evidente, mal poderiam acreditar. Brilhava nele uma representação da cruz e da paixão do Cordeiro imaculado, que lavou os crimes do mundo, parecendo que tinha sido tirado havia pouco da cruz, com as mãos e os pés atravessados pelos cravos e o lado como que ferido por uma lança. Contemplavam sua pele, escura em vida, brilhando de alvura, e confirmando por sua beleza o prêmio da bem-aventurada ressurreição. Viam seu rosto como o de um anjo, como se estivesse vivo e não morto, e seus membros tinham adquirido a flexibilidade e a contextura de uma criança. Seus nervos não se contraíram, como acontece com os mortos. A pele não se endureceu e os membros não se enrijeceram, mas dobravam para onde se quisesse.”

Frei Tomás de Celano. Primeira Vida: Vida de São Francisco de Assis Escrita em 1228 D.C, Ed. Família Católica,2018, Local: 1581..

SEGUNDO LIVRO

Capítulo 9- Lamentação dos frades e sua alegria ao lhe descobrirem os sinais da cruz.

Paradoxo da Ressurreição

“A convicção de que um homem morto retornou à vida é, com certeza, um paradoxo. Mas o paradoxo pode conter o segredo do seu poderoso apelo, pois, ao contradizer nossa própria experiência histórica, exprime a linguagem das emoções humanas. Lida com nosso maior medo e expressa nossa ânsia em suplantar a morte.

Irineu e Tertuliano enfatizam que a antecipação da ressurreição do corpo exige que fiéis levem a sério as implicações éticas de suas próprias ações.

…Contudo, a serpente era mais sábia que todos os animais do Paraíso e persuadiu Eva, dizendo: “No dia em que comer da árvore que está no meio do Paraíso, os olhos de sua mente se abrirão.”  * (Testemunho da Verdade 45.24-46.11, em NHL 411.)

*Serpente: um símbolo da sabedoria divina.

PAGELS, Elaine. Os Evangelhos Gnósticos. Editora Objetiva, 1979, pág. 28-29.

Capítulo: 1- A Controvérsia Sobre a Ressurreição de Cristo: Acontecimento Histórico ou Símbolo?

Controvérsia sobre a Ressurreição

“Como ninguém nas últimas gerações pode ter acesso a Cristo como os apóstolos tiveram, durante sua vida e ressurreição, cada crente deve procurar a autoridade na igreja por eles fundada em Roma e nos bispos.
Alguns cristãos gnósticos discordaram.

O Cristo ressuscitado explica a Pedro que aqueles que “se autodenominam bispos e também diáconos, como se tivessem recebido sua autoridade de Des”, são, na realdidade “canais secos” Embora “não compreendam o mistério”, vangloriam-se de que apenas eles possuem “o mistério da verdade“.  O autor acusa-os de má, interpretação do ensinamento dos apóstolos e, por isso, de terem estabelecido uma “imitação de igreja” no lugar de uma verdadeira “irmandade” cristã.

(…) Mas, para eles, o ensinamento da igreja, e dos funcionários da igreja, jamais teria a autoridade definitiva atribuída pelos cristãos ortodoxos Diziam, dos que receberam gnosis, que foram muito além do ensinamento da igreja e transcenderam sua autoridade hierárquica.

Portanto, a controvérsia sobre a ressurreição provou-se crítica na transformação do movimento cristão em instituição religiosa. Todos os cristãos concordam, em princípio, que apenas o próprio Cristo – ou Deus – é a fonte definitiva da autoridade espiritual. Mas a questão imediata, é claro, era prática: quem, no presente, administra essa autoridade?

Valentino e seus seguidores responderam: quem quer que tenha contato pessoal, direto, com “Aquele que vive”. Argumentaram que apenas a própria experiência oferece o critério definitivo da verdade, tendo precedência sobre todos os testemunhos indiretos e toda a tradição – até mesmo a tradição gnóstica!

PAGELS, Elaine. Os Evangelhos Gnósticos. Editora Objetiva, 1979, pág. 26-27.

Capítulo: 1- A Controvérsia Sobre a Ressurreição de Cristo: Acontecimento Histórico ou Símbolo?

Concepção Literal da Ressurreição

“Mas os cristãos gnósticos rejeitaram a teoria de Lucas. Alguns gnósticos chamaram a concepção literal da ressureição de “fé dos tolos”. A ressurreição, insistiram, não era um evento único no passado: ao contrário, simbolizava como a presença de Cristo poderia ser vivenciada no presente. O que importava não era a visão literal, e sim a espiritual.

(…)

Mas o verdadeiro discípulo pode nunca ter visto o Jesus terrestre, por ter nascido na época errada, como disse Paulo de si mesmo. Entretanto, essa deficiência física pode tornar-se uma vantagem espiritual: essas pessoas, como Paulo, podem encontrar Cristo primeiro no nível da vivência interna.”

PAGELS, Elaine. Os Evangélhos Gnósticos. Editora Objetiva, 1979, pág. 10-11.

Capítulo: 1- A Controvérsia Sobre a Ressurreição de Cristo: Acontecimento Histórico ou Símbolo?

Consequências Políticas da Ressurreição

“O que temos como fato histórico é que determinados discípulos – Pedro, em especial – sustentaram que a ressurreição aconteceu. E, mais importante, sabemos o resultado: logo após a morte de Jesus, Pedro assumiu o grupo como líder e portavoz.

(…)

No início do século II, os cristãos compreenderam as possíveis consequências políticas de terem “visto o Senhor ressuscitado”: em Jerusalém, quando Tiago, irmão de Jesus, disputou, com êxito, a autoridade com Pedro, uma tradição manteve que Tiago, e não Pedro (e com certeza tampouco Maria Madalena), fora a “primeira testemunha da ressurreição”.

PAGELS, Elaine. Os Evangélhos Gnósticos. Editora Objetiva, 1979, pág. 6-7.

Capítulo: 1- A Controvérsia Sobre a Ressurreição de Cristo: Acontecimento Histórico ou Símbolo?

A Ressurreição do Corpo

“Embora sua discussão, com frequência, seja interpretada como um argumento para a ressurreição do corpo, conclui com as palavras digo-vos, irmãos: a carne e o sangue não podem herdar o Reino de Deus, nem o que está sujeito a perecer [ou seja, o corpo mortal] herdar o imperecível”. Paulo descreve a ressurreição como “um mistério”, a transformação da existência física na espiritual.

(…) por que os cristãos ortodoxos, no século II, insistiram na visão literal da ressurreição e rejeitaram todas as outras como heréticas?

(…) ao examinarmos o efeito prático, paradoxal, no movimento cristão, podemos ver como a doutrina da ressurreição do corpo também serve a uma função política essencial: legitima a autoridade de certos homens que reivindicam o exercício exclusivo da liderança sobre as igrejas como sucessores do apóstolo Pedro. Desde o século II, a doutrina serviu para validar a sucessão apostólica dos bispos; base, até hoje, da autoridade papal.

(…) diversas formas de cristianismo floresceram nos primeiros anos do movimento cristão. Centenas de pregadores rivais reivindicavam, todos, pregar a “verdadeira doutrina do Cristo” e denunciavam uns aos outros como impostores.”

PAGELS, Elaine. Os Evangélhos Gnósticos. Editora Objetiva, 1979, pág. 5.

Capítulo: 1- A Controvérsia Sobre a Ressurreição de Cristo: Acontecimento Histórico ou Símbolo?

JESUS CRISTO Levantou do Túmulo

“Jesus Cristo levantou do túmulo.” Essa proclamação deu início à igreja cristã. Talvez esse seja o elemento fundamental da fé cristã; e com certeza é o mais radical. Outras religiões celebram ciclos de nascimento e morte: o cristianismo insiste que em um momento histórico único o ciclo foi revertido e um homem morto voltou à vida!

(…)

No entanto, certos cristãos – a quem cham de hereges – discordam. Sem negar a ressurreição, rejeitam a interpretação literal; alguns acham “extremamente revoltante, repugnante e impossível”. Os cristãos gnósticos interpretam a ressurreição de várias maneiras. Quem experimenta a ressurreição, segundo alguns, não se depara com Jesus em carne e osso de volta à vida; ao contrário, encontra Cristo no nível espiritual. Isso pode ocorrer em sonhos, no transe extático, em visões, ou em momentos de iluminação espiritual. Contudo, os ortodoxos condenam todas essas interpretações; Tertuliano declara que quem quer que negue a ressurreição da carne é herege, não cristão.

(…)

Entretanto, outras histórias, diretamente justapostas a essas, sugerem visões diferentes da ressurreição. Lucas e Marcos rela-
tam a aparição de Jesus “de outra forma” – não na forma anterior na Terra – a dois discípulos enquanto caminhavam na estrada para Emaús. Lucas diz que os discípulos, profundamente perturbados com a morte de Jesus, falaram com um estranho por várias horas. Convidaram-no para jantar; e quando ele sentou com eles para abençoar o pão, subitamente reconheceram nele Jesus. Nesse momento, “ele ficou invisível diante deles”. João conta, também, uma história bastante diferente pouco antes da história do “incrédulo Tomé”: Maria Madalena, chorando por Jesus junto ao túmulo, vê um homem a quem toma como jardineiro. Quando ele diz seu nome, ela reconhece a presença de Jesus – porém ele lhe ordena que não o toque.”

PAGELS, Elaine. Os Evangélhos Gnósticos. Editora Objetiva, 1979, pág. 1-4.

Capítulo: 1- A Controvérsia Sobre a Ressurreição de Cristo: Acontecimento Histórico ou Símbolo?

Libertação das Partículas

“O corpo nada mais é do que um conglomerado de elétrons e outros componentes magnéticos subatomicos que giram no espaço vazio. Podemos libertar essas partículas e dissolver a ilusão da solidez, mas mesmo o mais avançado dos laboratórios não pode reestruturar esse corpo. A ressurreição significa reconstruir o corpo – uma vez que tenha se desintegrado – mediante o poder da vontade, assim como Jesus fez aparecer e desaparecer repetidas vezes sua forma ressuscitada diante de muitos de seus discípulos. Ele tinha esse controle sobre a eletricidade de todo o cosmos, com seus componentes de energia cósmica criadora vitatrônica.”

YOGANANDA, Paramahansa. A Segunda Vinda de Cristo, A Ressurreição do Cristo Interior. Comentário Revelador dos Ensinamentos Originais de Jesus. Vol. III. Editora Self, 2017, pág. 434.

Mestre Liberto

“Um mestre liberto tal como Jesus não precisa depender do método natural de regresso à Terra mediante o lento processo de renascimento e crescimento até alcançar a maturidade. Quando alguém se torna o Espírito, pode materializar um corpo e nele alojar-se, e então desmaterializá-lo no momento em que assim queira. Se uma pessoa desce uma escada e alguém tranca a porta atrás dela, tal pessoa não pode subir de volta. Mas se ela possui a chave, pode subir e descer como quiser. (…) Ora, para reaparecer depois da ressurreição, Jesus podia optar por ressuscitar seu corpo crucificado ou então desmaterializar sua forma e criar um novo corpo composto de novos átomos.”

YOGANANDA, Paramahansa. A Segunda Vinda de Cristo, A Ressurreição do Cristo Interior. Comentário Revelador dos Ensinamentos Originais de Jesus. Vol. III. Editora Self, 2017, pág. 430-433.

A Ressurreição do Corpo e da Alma

“Portanto, ressurreição não significa apenas a ressurreição do corpo, mas a ascensão da alma dos três confinamentos corporais para viver eternamente em unidade com o Espírito que se manifesta como o universo inteiro. Quando após a morte Jesus neutralizou a atuação dos três gunas e destruiu todas as sementes cármicas resultantes das ações de causa e efeito de sua encarnação, ele ascendeu dos três corpos diretamente ao seio de Deus. Ele então possuía um poder semelhante ao do próprio Deus. Nesse estado supremo, Jesus podia usar de novo o seu corpo ou descartá-lo à vontade.” 

YOGANANDA, Paramahansa. A Segunda Vinda de Cristo, A Ressurreição do Cristo Interior. Comentário Revelador dos Ensinamentos Originais de Jesus. Vol. III. Editora Self, 2017, pág. 430.