“Jesus Cristo levantou do túmulo.” Essa proclamação deu início à igreja cristã. Talvez esse seja o elemento fundamental da fé cristã; e com certeza é o mais radical. Outras religiões celebram ciclos de nascimento e morte: o cristianismo insiste que em um momento histórico único o ciclo foi revertido e um homem morto voltou à vida!
(…)
No entanto, certos cristãos – a quem cham de hereges – discordam. Sem negar a ressurreição, rejeitam a interpretação literal; alguns acham “extremamente revoltante, repugnante e impossível”. Os cristãos gnósticos interpretam a ressurreição de várias maneiras. Quem experimenta a ressurreição, segundo alguns, não se depara com Jesus em carne e osso de volta à vida; ao contrário, encontra Cristo no nível espiritual. Isso pode ocorrer em sonhos, no transe extático, em visões, ou em momentos de iluminação espiritual. Contudo, os ortodoxos condenam todas essas interpretações; Tertuliano declara que quem quer que negue a ressurreição da carne é herege, não cristão.
(…)
Entretanto, outras histórias, diretamente justapostas a essas, sugerem visões diferentes da ressurreição. Lucas e Marcos rela-
tam a aparição de Jesus “de outra forma” – não na forma anterior na Terra – a dois discípulos enquanto caminhavam na estrada para Emaús. Lucas diz que os discípulos, profundamente perturbados com a morte de Jesus, falaram com um estranho por várias horas. Convidaram-no para jantar; e quando ele sentou com eles para abençoar o pão, subitamente reconheceram nele Jesus. Nesse momento, “ele ficou invisível diante deles”. João conta, também, uma história bastante diferente pouco antes da história do “incrédulo Tomé”: Maria Madalena, chorando por Jesus junto ao túmulo, vê um homem a quem toma como jardineiro. Quando ele diz seu nome, ela reconhece a presença de Jesus – porém ele lhe ordena que não o toque.”
PAGELS, Elaine. Os Evangélhos Gnósticos. Editora Objetiva, 1979, pág. 1-4.
Capítulo: 1- A Controvérsia Sobre a Ressurreição de Cristo: Acontecimento Histórico ou Símbolo?