“A palavra “transferência” foi utilizada por Freud pela primeira vez para se referir à atitude psicológica que seus pacientes desenvolviam em relação a ele, em seu papel como psicanalista.
Freud observou que tal apego infantil à sua própria figura ganhava cada vez mais força à medida que os pacientes regrediam na análise para estágios anteriores do desenvolvimento psicológico, retomando até mesmo ao estágio infantil de total dependência do cuidador. Nesta etapa, a figura do analista tornava-se um objeto de medo e desejo por parte dos pacientes, e este se sentia absolutamente vulnerável à vontade do analista. Isso disponibilizava ao médico um imenso domínio emocional. A transferência era como uma varinha mágica que permitia ao analista curar ou esmagar a frágil psique de seu paciente, que permanecia trêmula em suas mãos.
Freud descobriu que os pacientes entravam em um estado quase hipnótico, desenvolvendo uma poderosa relação fantasmática com ele. As jovens mulheres que eram tratadas por ele em Viena na década de 1890 regrediam a um estado infantil, e nesse estado elas pensariam e sentiriam conteúdos sobre o analista invisível que estava sentado silenciosamente por detrás delas, como uma poderosa figura paterna. Isso é o que Freud chamou de “transferência”, um deslocamento de sentimentos do passado para uma situação presente. Dessa forma, o presente se torna o passado e o passado se torna o presente. A temporalidade entra em colapso. O estado mental induzido na transferência se assemelhava a um transe hipnótico, mas não tão dissociado da consciência normal do ego, uma vez que o paciente estava totalmente desperto.
No setting psicanalítico, a orientação básica é expressar o que vem à mente, sem resistir ou bloquear, apenas trazer à tona e verbalizar.”
STEIN, Murray. Os quatro pilares da psicanálise junguiana: Individuação – Relacionamento analítico – Sonhos – Imaginação ativa – Uma introdução concisa. Ed. Cultrix, 2023. Local, 462-502.
Pilar 2
Freud e a origem da “transferência”