Alquimia, hermetismo e tarô

“A Idade Média tinha um grande interesse por alquimia, mas a era de ouro dessa ciência ocorreu um pouco mais tarde, nos séculos XVI e XVII. Tudo começou em 1144, quando Robert of Chester traduziu do árabe para o latim o Liber de compositione alchemiae [Livro da Composição Alquímica), atribuído a Morienus, eremita cristão do século VII, originário de Alexandria. 127 Entre 1140 e 1150. Hugo de Santalla traduziu o Livre des secrets de la Création [Livro dos Segredos da Criação), atribuído a Apolônio de Tiana e que contém a célebre Tábua de Esmeralda. 128 O termo “alquimia”, surgido em francês por volta de 1275, vem do árabe al-kimiya, que pode ter duas raízes: o copta chame, que significa “preto”, ou o grego khêmia, que significa “magia negra”. Outra possibilidade, também do grego, seria o termo khumeia, “mistura”. A história da alquimia é complexa, e é difícil identificar os tratados sobre a matéria e seus autores. Podemos citar Michael Scot (cerca de 1175-cerca de 1235), autor de três tratados; Roger Bacon (cerca de 1220-1292), que escreveu trinta; Alberto Magno (cerca de 1200-1280), autor de aproximadamente trinta títulos; Santo Tomás de Aquino (1225-1274), seis tratados; Arnaud de Villeneuve (cerca de 1240-1311), por volta de 57 títulos: e Raymond Lulle (cerca de 1235-1316), perto de oitenta.

Não se encontram outras representações diretas, salvo se considerarmos que a Temperança significa transmutação, e a Roda da Fortuna, os ciclos evolutivos da materia.

As duas letras “SM”, presentes no Carro e que alguns autores evocam como se significassem soufre mercure [enxofre mercúrio], datam da criação do tarô de Paul Marteau, ou seja, de 1930. Sabemos que as letras presentes no brasão do Carro costumavam ser as iniciais do gravador do jogo. A Lua e o Sol estão presentes em todos os grimórios de alquimia, que ilustram a união dos princípios macho e fêmea, as núpcias místicas do céu e da terra. Esses dois astros são encontrados no tarô, mas é difícil ver neles um vínculo de causa e efeito. Mais uma vez, podemos fazer apenas comparações em função de interpretações pessoais. Certo é que os tratados antigos de alquimia não falavam do tarô. Foram os ocultistas do século XIX a insistir em seu parentesco, a começar por Papus, sem que se possa confirmar esse fato do ponto de vista histórico.

Nos séculos II e III de nossa era, na região de Alexandria, foram escritos em grego cerca de 15 tratados, mais tarde reunidos sob o título geral de Corpus Hermeticum. Eles próprios representam apenas uma parte de uma massa mais importante de textos, poste riormente designados com o nome de Hermetica, pois foram atribuídos ao lendário Hermes Trismegisto. Com exceção de Asclepius, texto cujo original em grego se perdeu desde a Antiguidade e que sobreviveu apenas em latim, todos os tratados do Corpus Hermeticum foram ignorados pela Idade Média e redescobertos somente no Renascimento. Portanto, pode-se assinalar de passagem que os alquimistas medievais também o ignoravam, embora a tradição medieval visse em Hermes o fundador da alquimia.

Foi o famoso Marsílio Ficino quem, nos anos 1460, recebeu de Cosme de Médici a encomenda para traduzir esse Corpus Hermeticum.”

NADOLNY, Isabelle. História do TarôUm estudo completo sobre suas origens, iconografia e simbolismo. Ed. Pensamento, 2022, pág. 140-141.

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