“Gibran acreditava na transmigração das almas e estava certo de que vivera no tempo de Jesus e que Jesus visitou então o norte do Líbano, terra de Gibran. “Eu O vi lá. Eu sei.”
Um dia de 1928, Gibran escreveu a um amigo:
“Ontem, à noite, vi a Sua face de novo, mais clara do que jamais a tinha visto. Não estava virada para mim. Estava olhando ao longe na vasta noite. Era, ao mesmo tempo, sereno e austero, e pensei um momento que sorriria, mas não sorriu. Era jovem, fora de toda idade, e imortal. Não Deus, não; mas o Filho do Homem, encarando tudo o que o homem deve encarar, sabendo tudo o que o homem soube ou saberá. Sua face era a face de um invencível. a face de um amante, e de um irmão, e de um amigo. Sua garganta era morena e forte; seus olhos eram como duas brasas. Agora, meu amigo, sinto-me seguro de que poderei desenhar esta face. Será como uma efígie para a proa de um grande navio.”
Poucas semanas depois desta visão, Gibran decidiu adiar seus outros planos literários e escrever um livro sobre Jesus. Escreveu-o num estado de febre permanente, espiritual e, às vezes, física. Gibran estava doente na época. Mas sua inspiração o arrastava como uma torrente. Trabalhava sem parar, frequente mente até a madrugada. Ditava a Bárbara Young; e ela conta como seu rosto vivia quando trabalhava, como refletia as grandes emoções que sentia e procurava expressar. Dezoito meses deste labor extenuante, no meio das dores, foram o preço de Jesus, o Filho do Homem.”
GIBRAN, Gibran Khalil. Jesus, o Filho do Homem. Tradução: Mansour Challita. Associação Cultural Internacional Gibran, 1973, pág. 19.