“Vê-se logo na imagem posterior do Sudário que os dois pés estão cruzados. O direito marcou uma impressão total, à qual voltaremos em breve. Do esquerdo vê-se o calcanhar e a parte média; mas se introduz obliquamente por trás do direito (portanto, na cruz, estava na frente), cruzando seu bordo interno, e sua parte anterior não é visível.
(…) O que complica as imagens são os fluxos de sangue que se espalham sobre quase todo o comprimento dos dois pés, para a frente e para trás dos orifícios dos cravos, e ultrapassam as impressões. Parece certo que o sangue, que deslizara em direção aos dedos sobre a cruz, continuou a escorrer, mas, durante o transporte ao túmulo, em direção dos calcanhares, pela posição horizontal em que era levado o corpo. Uma parte formou, na metade posterior da sola dos pés, coágulos que ficaram decalcados. Mas uma parte deve ter continuado a escorrer, até na Mortalha, por fora do calcanhar. Além disso, o tecido se dobrara em pregas longitudinais, de sorte que certos coágulos frescos e sangue líquido transudaram sobre a face oposta da prega.
(…)
(…) ainda no sepulcro os pés ficaram parcialmente cruzados. Dado o que sabemos sobre a rigidez cadavérica, significa isto que estavam ainda mais cruzados na cruz, o esquerdo sobre o direito, com sua sola repousando no dorso do direito. Quando despregados, e a corpo estendido, tenderam pela força da gravidade a voltar à paralela, mas a rigidez ainda os conservou um tanto cruzados.
A rigidez cadavérica foi certamente rápida e considerável, provavelmente instantânea, em consequência das fadigas da agonia de Jesus e suas contrações.
Essa hiperextensão, devida ao fato de terem sido os pés cravados de cheio sobre o ramo vertical da cruz, facilitou bastante a formação da bela impressão plantar do pé direito que naturalmente repousa sobre o Sudário.”
BARBET, Pierre. A Paixão de Cristo, segundo o cirurgião. São Paulo: Edições Loyola, 2014, pág. 129-130.