Efeito purgador ou purificador

Quando, depois de Pentecostes, os apóstolos se separaram, João, o Apóstolo e Evangelista, dirigiu-se à Asia, onde fundou muitas igrejas. O imperador Domiciano, sabedor da sua fama, convocou-o a Koma, e fê-lo jogar num caldeirão de azeite fervente, que fora colocado diante da Chamada Porta Latina, mas o santo dali saiu ileso, da mesma maneira como tinha escapado à corrupção dos sentidos. Vendo isso, o imperador exilou na ilha de Patmos, na qual, vivendo sozinho, escreveu o Apocalipse. Mas o cruel imperador foi assassinado naquele mesmo ano, tendo o Senado revogado todos os seus decretos. E foi assim que São João, que fora deportado como criminoso, retornou a Éfeso coberto de glória: a multidão se reuniu para recebê-lo exclamando: “Bendito aquele que vem em nome do Senhor. ”

A causa da transformação das cinzas do fracasso na coroa da vitória é indicada pelo fato de a cinza ser alquimicamente equivalente ao sal. O simbolismo do sal foi discutido com riqueza de detalhes por Jung. 50 0 sal simboliza, basicamente, Eros, aparecendo sob dois aspectos, como amargor ou como sabedoria. Escreve Jung: “Lágrimas, sofrimento e decepção são amargos, mas a sabedoria é o consolo de qualquer dor psíquica. Na verdade, amargor e sabedoria formam um par de alternativas: onde há amargor, falta sabedoria e onde há sabedoria não pode haver amargor. O sal, na qualidade de portador dessa alternativa fatídica, é atribuído à natureza feminina.

Da perspectiva mais simples, a calcinatio é um processo de secagem. Um importante componente da psicoterapia envolve a secagem de complexos inconscientes que vivem na água.  O fogo ou intensidade emocional necessária para esta operação parece residir no próprio complexo, tornando-se atuante tão logo o paciente tenta tornar o complexo consciente mediante o compartilhamento com outra pessoa. Todos os pensamentos, ações e lembranças que trazem vergonha, culpa ou ansiedade precisam ter plena expressão. O afeto liberado torna-se o fogo capaz de secar o complexo e purificá-lo de sua contaminação inconsciente.

A necessária frustração do desejo luxurioso ou concupiscência é a
principal característica do estágio da calcinatio. Primeiro, a substância deve ser localizada, isto é, o desejo, exigência ou expectativa inconscientes, não reconhecidos, precisam ser identificados e afirmados. A premência instintiva que diz “eu quero” ou “faço jus a isso” deve ser plenamente aceita pelo ego. Não pode haver uma calcinatio adequada, distinta da autoflagelação estiver à mão, Acredito que fato está na base da seguinte advertência de um alquimista: “Muitos praticantes cometem um erro já de início, ao realizarem essa calcinatio com a substância errada…

O fogo da calcinatio, na medida em que possa ser evocado pelo psicoterapeuta, é obtido, em grande parte, pela expressão de atitudes e reações que frustrem o paciente.

De modo geral, quando enfrentamos a realidade da vida, ela nos propicia grande número de ocasiões para a calcinatio do desejo frustrado.

A calcinatio tem um efeito purgador ou purificador. A substância é purgada de sua unidade radical. isso corresponderia às gotículas de insconsciência que acompanham as energias que emergem. Ou, dito de outra forma, as energias da psique arquetípica primeiro aparecem em estado de itendificação com o ego, exprimindo-se como desejos de prazer para o ego, de poder para o ego. O fogo da calcinatio purga essas identificações e impulsos da raiz ou umidade primordial, deixando o conteúdo em sua condição eterna ou transpessoal, tendo restaurado seu aquecimento natural – isto é, sua energia e seu funcionamento próprios (ver figuras 2-13 e 2-14).

 

Expulsão dos demônios. (Entalhe, século XVII. Reproduzido em Jung, Symbols of Transformation.)

 

EDINGER, Edward F. Anatomia da Psique. O Simbolismo Alquímico na Psicoterapia, Ed. Cultrix 2006, Pág. 61-63.

Capítulo 2 Calcinatio

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