“O mundo de hoje é muito pobre em olhar e voz. Não somos olhados nem interpelados por ele. Ele perde sua alteridade. A tela digital que determina nossa experiência do mundo nos protege da realidade. O mundo é desrealizado, descoisificado e descorporificado. O fortalecimento do ego não é mais tocado pelo outro. Ele se reflete na parte de trás das coisas.
O desaparecimento do outro é na verdade um evento dramático. Mas isso acontece de forma tão imperceptível que nem mesmo estamos propriamente cientes disso. O outro como mistério, o outro como olhar, o outro como voz desaparece. O outro, roubado de sua alteridade, naufraga em um objeto disponível e consumível. O desaparecimento do outro também afeta o mundo das coisas. As coisas perdem seu peso próprio, sua vida própria e sua vontade própria.
Se o mundo consiste apenas em objetos disponíveis e consumíveis, não podemos entrar em uma relação com ele. Também não é possível entrar em uma relação com a informação.”
HAN, Byung-Chul. Não coisas: Reviravoltas do mundo da vida. Ed. Vozes, 2021, Local 865-872.
A parte de trás das coisas