“No conjunto astrológico de imagens, a circulatio se refere à subida e à descida repetidas das esferas planetárias, graças às quais cada princípio arquetipico, simbolizado pelos arcontes planetários, é encontrado sucessivamente. Em termos químicos, a circulatio vincula-se com o processo no qual se aquece uma substância num frasco de refluxo. Os vapores sobem e se condensam; em seguida, o fluido condensado é realimentado no bojo do frasco, no qual o ciclo se repete. Dessa maneira, a sublimatio e a coagulatio repetem-se alternativamente várias vezes.
No plano psicológico, a circulatio é o circuito repetido de todos os aspectos do ser, que aos poucos gera a consciência de um centro transpessoal que unifica os fatores em conflito. Há um trânsito pelos opostos, experimentados alternativamente, repetidas vezes, até verificar-se sua reconciliação. Jung descreve a circulatio com as seguintes palavras:
“Subida e descida, em cima e embaixo, para cima e para baixo representam uma realização emocional dos opostos, a qual leva, ou deve levar, de maneira gradual, ao equilíbrio entre eles. Esse motivo ocorre com frequência em sonhos, sob a forma de subir e descer um morro, subir uma escada, subir e descer num elevador, num balão, num avião, etc. Corresponde à luta entre o dragão alado e o dragão sem asas, isto é, o ouroborus… Esse hesitar entre os opostos e o ser jogado de um lado para outro significa estar contido nos opostos. Estes se tornam um vaso no qual o elemento que antes era, ora um, ora o outro, flutua, a vibrar, de nodo que a dolorosa suspensão entre opostos transforma-se aos poucos a atividade bilateral do ponto situado no centro.
A circulatio é uma importante idéia no campo da psicoterapia. O movimento circular em torno de um centro, bem como para cima e para baixo, é comum nos sonhos. Devemos percorrer repetidamente o circuito dos nossos próprios complexos no decorrer de sua transformação. As “forças de cima e de baixo” combinam-se na medida em que se cria a personalidade unificada que une a psique pessoal (embaixo) com a psique arquetípica (em cima).
Em outro texto, Jung o diz da seguinte forma: “[Do ponto de vista religioso]… o homem atribui a si mesmo a necessidade de redenção e deixa a obra da redenção, o athlon ou a opus reais, para a personagem divina autônoma;… [Do ponto de vista alquímico,] o homem toma para si a tarefa de realizar a opus redentora, e atribui o estado de sofrimento e a consequente necessidade de redenção à anima mundi aprisionada na matéria. “E, mais uma vez: “A atenção [do alquimista) não se dirige para a sua própria salvação pela graça de Deus, mas para a libertação de Deus da treva da matéria.”
EDINGER, Edward F. Anatomia da Psique. O Simbolismo Alquímico na Psicoterapia, Ed. Cultrix 2006, Pág.161-162.
Capítulo 5 Sublimatio