“Só o silêncio nos torna capazes de ouvir algo inaudito. A obrigação de comunicar, em contrapartida, leva à reprodução do igual.
A dificuldade hoje não é mais a de não podermos expressar livremente nossa opinião, mas a de conseguir espaço livre para a solidão e o silêncio nos quais possamos encontrar algo para falar. Forças repressivas não nos impedem mais de manifestar nossa opinião. Pelo contrário, elas até mesmo nos obrigam a tanto. Como é libertador não ter de dizer algo e poder silenciar-se, pois apenas então temos a possibilidade de criar algo cada vez mais raro: algo que realmente vale a pena ser dito*.”
*DELEUZE, G. Mediators. Negotiations. Nova York, 1995, p.
(…)
“Apenas os espaços livres da inatividade nos dão a possibilidade de criar algo cada vez mais raro: algo que realmente vale a pena ser feito. A inatividade é, então, o limiar de um feito inaudito.
A obrigação de agir e, mais ainda, a aceleração da vida se mostram como um meio eficaz de dominação. Se hoje nenhuma revolução parece mais ser possível, talvez isso seja porque não temos tempo para pensar. Sem tempo, sem uma inalação profunda, segue-se repetindo o igual.
Como falta tempo para pensar e tranquilidade no pensar, as pessoas não mais ponderam as opiniões divergentes: contentam-se em odiá-las. Com o enorme aceleramento da vida, o espírito e o olhar se acostumam a ver e julgar parcial ou erradamente, e cada qual semelha o viajante que conhece terras e povos pela janela do trem. Uma atitude independente e cautelosa no conhecimento é vista quase como uma espécie de loucura, o espírito livre é difamado*.”
*NIETZSCHE, F. Humano, demasiado humano. São Paulo: Companhia de Bolso, 2017, aforismo n. 282.
HAN, Byung-Chul. Vita Contemplativa, ou sobre a inatividade. Ed. Vozes, 2023, Local 297-308.
Considerações sobre a inatividade