É libertado por sua mãe

“Aconteceu que seu pai precisou ausentar-se, a negócios, por algum tempo, deixando o homem de Deus preso no calabouço. A mãe, que ficou sozinha com ele em casa, e não aprovava o procedimento do marido, dirigiu-se ao filho com palavras ternas. Mas, vendo que não conseguia fazê-lo mudar de opinião, sentiu seu coração materno se enternecer e, soltando as correntes, deixou-o sair.

Nesse meio tempo, o pai estava de volta. Não o tendo encontrado, acumulando seus desatinos, armou uma gritaria com sua mulher. Depois, irado e ameaçador, correu em busca do filho, decidido a expulsá-lo da região, se não conseguisse traze-lo de volta.

(…)logo que o filho da graça viu que seu pai carnal estava chegando, veio seguro, alegre e espontaneamente ao seu encontro, dizendo claramente que, para ele, cárceres e castigos não queriam dizer nada. Até garantiu que, por amor de Cristo, estava disposto a suportar qualquer mal.”

Frei Tomás de Celano. Primeira Vida: Vida de São Francisco de Assis Escrita em 1228 D.C, Ed. Família Católica,2018, Local: 304-312.

PRIMEIRO LIVRO

Capítulo VI- É libertado por sua mãe.

Indulgências

“Indulgências são a remissão da pena temporal devida pelos pecados, que, perdoada a culpa, no Sacramento ou por contrição, faz a Igreja fora do Sacramento, concedendo aos fiéis parte do tesouro que ela tem formado das satisfações infinitas de Cristo, das abundantes da Virgem e das que os Santos deixavam, porque lhes sobrava depois de pagar as penas que por suas faltas eles deviam. Estas indulgências são uma espécie de regalo que a Igreja faz a certos fiéis com certas condições, aplicando-lhes o valor satisfatório de outros. E concede que se possam oferecer também a Deus pelas almas.”

Santa Catarina de Gênova. Tratado do Purgatório, Ed. Santa Cruz, 2019, Local: 850.

Capítulo II – Catecismo sobre o Purgatório

Indulgências

Não mais Cristão, mas Cristo

“Quem alcança a gnosis torna-se “não mais cristão, mas Cristo” ” Assim sendo, podemos observar que esse gnosticismo tinha um significado maior que um movimento de protesto contra o cristianismo ortodoxo. O gnosticismo também incluía uma perspectiva religiosa que, de modo implícito, opunha-se ao desenvolvimento do tipo de instituição na qual se converteu a antiga Igreja católica. Aqueles que esperavam “tornarem-se Cristo” possivelmente não reconheceriam as estruturas institucionais da igreja -seus bispos, padres, cre- dos, cánones ou rituais – como detentoras da autoridade final.

PAGELS, Elaine. Os Evangelhos Gnósticos. Editora Objetiva, 1979, pág. 152.

Capítulo: 6- Gnosis: Autoconhecimento Como Conhecimento de Deus.

Nós Somos Seus Pastores

(…) Eles não perceberam que ela possuía um corpo espiritual invisível; pensam: “Nos somos seus pastores, dela a quem alimentamos.” No entanto, não perceberam que ela conhece outra forma que está escondida deles. Esta, seu verdadeiro pastor lhe ensinou pela gnosis. *(Ibid., 31.30-33.3, em NHL 282)

“Ao usar o termo comum para bispo (poimen, “pastor”), o autor refere-se, aparentemente, aos membros do clero: eles não sabiam que os cristãos gnósticos tinham acesso direto a Cristo, o verdadeiro pastor da alma, e não precisavam de sua liderança.”

PAGELS, Elaine. Os Evangelhos Gnósticos. Editora Objetiva, 1979, pág. 128.

Capítulo: 5- Qual é a “Verdadeira Igreja”?

Hereges- Campo de Rebeldes

“(…) prontos a falar, com sinceridade, de alguns aspectos de sua crença, “Isso não é assim”, “Tenho uma visão diferente”. “Não admito isso“.

Tertuliano adverte que esse questionamento leva à heresia: “Essa norma (…) foi ensinada por Cristo e não causa entre nós perguntas além daquelas que as heresias introduzem e que convertem os homens em hereges!” Também destaca que os hereges não se restringem às Escrituras do Novo Testamento: acrescentam outros escritos ou desafiam a interpretação ortodoxa de textos-chave.” Mais tarde, como já observado, ele condena os hereges de serem “um campo de rebeldes” que se recusam a submeter-se à autoridade do bispo. Solicitando uma ordem estrita de obediência e submissão, conclui que a “evidência de uma maior disciplina que existe entre nós é prova adicional da verdade”.

PAGELS, Elaine. Os Evangelhos Gnósticos. Editora Objetiva, 1979, pág. 124.

Capítulo: 5- Qual é a “Verdadeira Igreja”?

O Jesus Humano

“Por fim, nessa descrição da vida de Cristo e de sua paixão, o ensinamento ortodoxo oferece meios de interpretar elementos fundamentais da experiência humana. Ao rejeitar a visão gnóstica de que Jesus era um ser espiritual, a ortodoxia insiste em que ele, como o resto da humanidade, nasceu, viveu com uma família, sentiu fome e cansaço, comeu e bebeu vinho, sofreu e morreu. Reiteram ainda que ele ressuscitou como um ser corpóreo. Aqui, mais uma vez, como vimos, a tradição ortodoxa implicitamente afirma que a experiência da materialidade do ser é o fato central da vida humana. O que fazemos fisicamente – comer e beber, ter vida sexual ou evitá-la, preservar a vida ou renunciar a ela -, todos são elementos vitais para nosso desenvolvimento religioso. Mas os gnósticos que consideram a parte essencial de cada um de nós como o “espírito interno” rejeitam essa experiência física, agradável ou dolorosa, encarando-a como um aturdimento da realidade espiritual- na verdade, uma ilusão. Portanto, não é surpreendente que inúmeras pessoas identifiquem-se mais com os ensinamentos ortodoxos do que com o “espírito incorpóreo” da tradição gnóstica. Não apenas os mártires, mas todos os cristãos que sofreram ao longo de 2 mil anos, que temeram a morte e morreram, sentem sua experiência legitimada na história do Jesus humano.”

PAGELS, Elaine. Os Evangelhos Gnósticos. Editora Objetiva, 1979, pág. 115.

Capítulo: 4- A Paixão de Cristo e a Perseguição aos Cristãos.

Por que a Visão Ortodoxa do Martírio Prevaleceu?

Por que a visão ortodoxa-do martírio- e da morte de Cristo como modelo – prevaleceu? Eu sugiro que a perseguição impulsionou a formção de uma estrutura eclesiástica organizada, que se desenvolveu no final do século II. Para posicioná-la em um contexto contemporâneo, consideremos qual é o recurso que resta para dissidentes confrontados com um sistema político forte e poderoso: divulgar casos de violência e injustiça para angariar o apoio público mundial.

(…)

Pressionados pelo perigo comum, membros de grupos dispersos no mundo inteiro cada vez mais trocavam cartas e visitavam diversas igrejas. Relatos desses mártires, em geral obtidos nos registros de seus julgamentos e em depoimentos de testemunhas, circulavam entre as igrejas na Ásia, África, Roma, Grécia, Gália e Egito. Por meio dessa comunicação, membros das igrejas mais antigas e diversificadas conscientizavam-se das diferenças regionais como obstáculos pleitear a participação em uma igreja católica. Como já mencionado, Irineu insistia em que as igrejas no mundo inteiro deveriam concordar com todos os pontos vitais da doutrina, mas ficou chocado quando Vitor, bispo de Roma, tentou dar mais uniformidade às igrejas regionais. Em 190, Vitor pediu aos cristãos na Ásia Menor para abandonarem sua prática tradicional de celebrar a Páscoa e, cm vez disso, agirem segundo o costume romano – ou então teriam de desistir de seu pleito de serem “cristãos católicos”. Ao mesmo tempo, a igreja romana estava compilando a lista definitiva de livros eventualmente aceitos por todas as igrejas cristãs. Ordens estratificadas crescentes de hierarquia institucional consolidaram as comunidades internamente e regularizaram a comunicação entre, como Irineu chamava, “a Igreja católica dispersa no mundo inteiro, até mesmo nos confins do mundo” uma rede de grupos tornando-se cada vez mais uniformes em doutrina, ritual, cânones e estrutura política.”

PAGELS, Elaine. Os Evangelhos Gnósticos. Editora Objetiva, 1979, pág. 112.

Capítulo: 4- A Paixão de Cristo e a Perseguição aos Cristãos.

Oposição de Heráclio ao Martírio

“Contudo, Heráclio adotou uma atitude em relação ao martírio que divergia totalmente da posição de seus contemporâneos ortodoxos. Não demonstrava nenhum entusiasmo pelo martírio, nem pela valorização da “gloriosa vitória” proporcionada pela morte. Acima de tudo, jamais sugeriu que o sofrimento dos crentes imitava o de Cristo. Já que só o elemento humano de Cristo vivenciou a paixão, isso indica que o fiel, também, sofre apenas na esfera humana, enquanto o espírito divino transcende o sofrimento e a morte. Aparentemente, os valentinianos consideravam a temunha de sangue” do mártir em segundo plano se comparada a uma superior testemunha gnóstica de Cristo ponto de vista que enfureceria Irineu, pois nele estava implícito que os gnósticos “demonstravam desprezo” pelos mártires e desvalorizavam o que ele considerava o “extremo sacrifício”.

PAGELS, Elaine. Os Evangelhos Gnósticos. Editora Objetiva, 1979, pág. 110-111.

Capítulo: 4- A Paixão de Cristo e a Perseguição aos Cristãos.

Confessar Cristo

Heráclio reflete sobre a questão: O que significa “confessar Cristo”? Ele explica que as pessoas confessam Cristo de diferentes maneiras. Algumas confessam Cristo com sua fé e com -sua conduta cotidiana. No entanto, a maioria leva em conta apenas o segundo tipo de confissão – a confissão verbal (“Eu sou cristão”) diante de um magistrado. Esta última, diz, é a que “a maioria” (cristãos ortodoxos) julga ser a única confissão. Mas, Herádio observa, “mesmo os hipócritas podem fazer essa confissão. O que se deseja universalmente de todos os cristãos, afirma, é o primeiro tipo de confissão; o segundo é necessário para alguns, mas não para todos. Discípulos como Mateus, Filipe e Tomé nunca se “confessaram” perante magistrados; ainda assim, declara, confessaram Cristo com altivez, “com fé e conduta durante toda a vida”.

PAGELS, Elaine. Os Evangelhos Gnósticos. Editora Objetiva, 1979, pág. 109.

Capítulo: 4- A Paixão de Cristo e a Perseguição aos Cristãos.

Posicionamento dos Gnósticos Sobre o Martírio

“Que posicionamentos os gnósticos assumiram diante do martírio, e em que bases? Os textos de Nag Hammadi mostram que suas opiniões divergiam muitíssimo. Alguns o defendiam; outros o repudiavam por princípio. Seguidores de Valentino tinham uma posição mediadora entre os dois extremos. Mas um fato é claro: em cada caso, a atitude em relação ao martírio correspondia à interpretação do sofrimento e da morte de Cristo.

(…) enquanto alguns gnósticos afirmam a crença na paixão de Cristo e expressam entusiasmo pelo martírio, outros negam essa realidade e criticam esse entusiasmo. O Testemunho da Verdade declara que os entusiastas do martírio não sabem “quem é Cristo”.

(…) o martírio assegura a salvação: se fosse assim tão simples, diz, qualquer pessoa confessaria sua fé em Cristo e seria salva! Aqueles que vivem com essas ilusões

…são mártires [vazios], já que testemunham só [a] si mesmos. (…) Quando são “aperfeiçoados” em virtude da morte sob (martírio), eles pensam: “Se nos entregamos à morte pelo bem do Nome, seremos salvos.” Essas questões não se sucedem dessa forma. (…) Eles não têm a Palavra que oferece [vida].”

Esse autor gnóstico critica pontos de vista específicos do martirio familiares às fontes ortodoxas. Primeiro, censura a convicção de que a morte sob martírio oferece perdão para os pecados, uma visão expressa, por exemplo, no relato ortodoxo do martírio de Policarpo “Ao sofrer durante uma hora ele obteve a vida eterna.” Tertuliano também declarou que desejava sofrer “para obter total perdão de Deus, so dar em troca seu sangue”. Segundo, o autor ridiculariza os teólogos ortodoxos que, como Inácio e Tertuliano, concebem o martírio como uma oferenda a Deus e pensam que Deus deseja o “sacrificio humano”: essa crença converte Deus em um canibal. Terceiro, ataca aqueles que acreditam que o martírio assegura a ressurreição. Rústico, o juiz romano perguntou a Justino poucos momentos antes de ordenar sua execução: “Ouça, você é considerado um homem culto (…) você supõe que ascenderá ao céu?” Justino respondeu: “Eu não suponho, ao contrário, tenho certeza e estou completamente persuadido disso.” Mas o Testemunho da Verdade assinala que esses cristãos estavam apenas “destruindo-se” enganavam-se ao pensar que Cristo compartilhava a mortalidade deles, quando, na verdade, em razão de seu poder divino, era imune ao sofrimento e à morte:

O Filho do Homem [é] um ser imortal, [sendo] imune à transitoriedade. (…) ele desceu ao mundo dos mortos e realizou feitos poderosos. Ressuscitou os mortos (…) e também eliminou suas deficiências humanas e, assim, o manco, o paralítico e o mudo, (e) o possuído pelo demônio ficaram curados. (…) Por essa razão ele [destruiu] sua carne na [cruz] de onde [pendia]. *(Testemunho da Verdade 30.18-20; 32.22-33.11, em NHL 408)

PAGELS, Elaine. Os Evangelhos Gnósticos. Editora Objetiva, 1979, pág. 102-105.

Capítulo: 4- A Paixão de Cristo e a Perseguição aos Cristãos.