“Lembro-me de uma vez, anos atrás – Brett só tinha três anos de idade. Eu não sabia se estava comunicando a ele e a meus outros filhos a qualidade incondicional do meu amor. Ele apareceu naquele meu momento de questionamento interno e entrou na sala. Então, perguntei-lhe:
– Brett, por que o papai ama você?
Ele me olhou e disse de imediato:
– Porque agora eu faço cocô na privada?
Fiquei muito triste naquele instante porque era evidente que ele não tinha como pensar de outra maneira. Naquele tempo, minha resposta a meus filhos era muito diferente quando eles faziam o que eu queria e quando desobedeciam.
Então, disse a ele: – Bem, eu realmente gosto disso, mas não é por isso que te amo.
(…)
-Ele ficou muito sério, me olhou nos olhos, e indagou:
-Então por que você me ama, papai?
Naquele instante me perguntei por que tinha entrado numa conversa tão abstrata sobre amor incondicional com uma criança de três anos. Como expressar algo assim a alguém dessa idade? E disse sem pensar:
-Ora, gosto de você porque você é você!
Lembro que naquele momento pensei: “Bem, isso foi uma coisa muito vaga e banal de se dizer. Mas ele entendeu. Compreendeu a mensagem; eu vi no rostinho dele. Ele sorriu, me olhou, e disse:
-Ah, você me ama porque eu sou eu, papai!
Nos próximos dois dias, parece que a cada dez minutos ele corria para o meu lado, olhava para cima e dizia: “você me ama porque eu sou eu, papai. Você me ama porque eu sou eu, papai.”
ROSENBERG, Marshall. Criar Filhos Compassivamente: Maternagem e Paternagem na Perspectiva da Comunicação Não Violenta. São Paulo: Palas Athenas, 2020, pág. 33-34.