Eu Sou o Conhecimento da Verdade

“Como poderia, po exemplo, um cristão no século II escrever o Livro Secreto de João? Podemos imaginar o autor na situação que atribui a João no início do livro: perturbado por dúvidas, começa a refletir sobre o significado da missão e do destino de Jesus. Durante esse questionamento interior, as respostas podem ocorrer de forma espontânea em sua mente; padrões mutantes de imagens podem aparecer. Quem compreende esse processo, não nos termos da psicologia moderna como atividade da imaginação ou do inconsciente, mas em termos religiosos, pode vivenciar essas formas de comunicação espiritual com Cristo. Ao ver sua própria comunicação com Cristo como continuação do que os discípulos desfrutaram, o autor, quando expõe o “diálogo” em forma literária, consegue lhe dar o papel dos que questionam. Poucos entre seus contemporâneos – exceto os ortodoxos, a quem considera homens de “mentalidade literal”- o acusariam de tê-lo forjado; ao contrário, os títulos desses trabalhos indicam que foram escritos “no espírito de” João, Maria Madalena, Filipe ou Pedro.

O título do Evangelho de Maria sugere que a revelação vem da comunicação direta e íntima com o Salvador. A insinuação de um relacionamento erótico entre Maria Madalena e ele pode indicar uma reivindicação de comunhão mística; em toda a história, os místicos de muitas tradições escolheram metáforas sexuais para descrever suas experiências. Os títulos do Evangelho de Tomé e do Livro de Tomé, o Contendor (atribuído ao “irmão gêmeo” de Jesus) podem sugerir que “você, o leitor, é o irmão gêmeo de Jesus”. Quem compreender esses livros descobrirá, como Tomé, que Jesus é seu “gêmeo”, seu “outro eu” espiritual. As palavras de Jesus a Tomé, então, são dirigidas ao leitor:

Como foi dito que você é meu irmão gêmeo e verdadeiro companheiro, examine a si mesmo para que possa entender quem você é(…) Eu sou o conhecimento da verdade.
Então, enquanto me acompanha, embora não possa compreender (isso), você já tomou conhecimento e será chamado ‘aquele que conhece a si mesmo’. Porque quem não conhece a si mesmo não conhece nada, masaquele que conhece a si mesmo atingiu, ao mesmo tempo,o conheci- mento sobre a profundeza de tudo.”*

*Livro de Tomé, o Contendor 1,38.7-18, em NHL 189.

PAGELS, Elaine. Os Evangélhos Gnósticos. Editora Objetiva, 1979, pág. 19-20.

Capítulo: 1- A Controvérsia Sobre a Ressurreição de Cristo: Acontecimento Histórico ou Símbolo?

Publicado por

Juliano Pozati

Strengths coach, Escritor, Espiritualista e empreendedor. Membro do Conselho do The Institute for Exoconsciousness (EUA). Meio hippie, meio bruxo, meio doido. Pai do Lorenzo e fundador do Círculo. Bacharel em Marketing, expert em estratégia militar, licenciando em filosofia. Empreendedor inquieto pela própria natureza. Seu fluxo é a realização!

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *