“NÃO COMPREENDI O significado de Seus discursos e de Suas parábolas até que Ele nos deixou. Não, não compreendi até que Suas palavras tomaram formas vivas ante meus olhos e se modelaram em corpos que caminham na procissão de meu dia. Deixem-me contar-lhes isto: Numa noite em que eu estava sentado em minha casa, meditando e recordando Suas palavras e Seus feitos para registrá-los num livro, três ladrões entraram em minha casa. E embora soubesse que eles vieram para me despojar dos meus bens, estava por demais interessado no que fazia para enfrentá-los com uma espada ou mesmo para perguntar-lhes: “Que estão fazendo aqui?”
Continuei escrevendo minhas recordações do Mestre. E quando os ladrões se foram, lembrei-me de Suas palavras: “Quem procurar tomar o teu manto, deixa-o tomar teu outro manto também.” E compreendi.
Enquanto registrava Suas palavras, nenhum homem conseguiria interromper-me, mesmo que fosse carregar todos os meus haveres.
Pois, embora eu cuide de defender meus bens, e também minha pessoa, sei onde está o tesouro maior.”
GIBRAN, Gibran Khalil. Jesus, o Filho do Homem. Tradução: Mansour Challita. Associação Cultural Internacional Gibran, 1973, pág. 30.